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O valioso timing de “Minha Mãe é uma Peça – o filme” e a falta de humor em “Odeio o Dia dos Namorados”

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Comédia é timing. Jerry Lewys é o representante máximo dessa lógica. Tanto que muitos de seus filmes clássicos estavam aquém de seu talento, observados isoladamente; mas serviam de considerável base para seu carisma arrasador. Minha Mãe é uma Peça, o Filme me fez lembrar esse paradigma. Mesmo sendo bem melhor do que eu imaginava, Paulo Gustavo, em seu misto de espontaneidade cênica e rapidez cômica, não precisa de muito para nos ganhar. A mise-en-scene que evoca em torno de sua famosa figura materna, já se configura praticamente sozinha, ainda mais com a dimensão do cinema. A trama é simples. Dona Hermínia (Paulo) é uma mãe divorciada que, um dia, se decepciona com os filhos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo) e resolve sair de casa. Ela vai para o apartamento de sua tia Zélia (Suely Franco) esfriar a cabeça e repensar a vida. Os filhos, sozinhos em casa, a princípio apreciam a liberdade, mas depois vêm que não é fácil ficar longe da mãe. É um filme rememorações, mas recheado de muito, mas muito humor.

Fazer do afeto de mãe uma ferramenta cômica, não só facilmente já nos gera grande identificação, como estabelece de cara um bem sucedido arco dramático. O diretor André Pellenz  transpõe corretamente para o cinema a estrutura engessada da matriz teatral do projeto, porém, o roteiro desperdiça coadjuvantes (alguns injustificados), estende demasiadamente a narrativa episódica (o que tira a unidade dramática da trama) e, não fosse por uma (hilária) surpresinha nos créditos finais, entregaria uma imperdoável conclusão apressada. Entretanto, há tempos que não ria tanto no cinema. A graça alcançada quase independe desses pecados. É aquilo, o timing quando legítimo, consegue surrupiar até nosso exigente juízo de valor.

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Por outro lado, existe na “indústria” de comédia de nosso cinema o lado em que nem o timing é garantia de de uma solução bem sucedida no gênero. Recorrendo à Charles Dickens , Odeio o Dia dos Namorados tem um pézinho manco em “Um Conto de Natal”, mas só mesmo na referência argumentativa. O diretor Roberto Santucci virou um açougueiro do gênero e seus filmes sempre acabam resultando tão derivativos quanto esquecíveis. O filme narra a saga da chata Débora (Heloísa Périssé, segurando bem as pontas) que quando criança dispensou o então namorado Heitor (Daniel Boaventura) justamente no dia dos namorados, mesmo depois de um lindo pedido de casamento, para poder estagiar no Japão e seguir carreira de publicitária. Anos depois, ela é uma famosa diretora de arte e a sua agência é contratada pela empresa que Heitor faz parte para uma campanha do doze de junho. Mas ela sofre um grave acidente de carro, e momentos antes de seguir para a morte certa é visitada pelo antigo – e falecido – sócio, Gilberto (Marcelo Saback, um dos poucos pontos altos do filme), para uma jornada espiritual, assim descobrindo como os outros a enxergam e repensar a própria vida.

(Muitíssimo) distante do engraçadíssimo Minha Mãe é uma Peça, essa comédia não faz rir, um problema da maioria enganadora das comédias atuais. Ainda que o filme tenha lá seus bons momentos e até alguns irresistíveis vícios de comédia romântica americana, no fim das contas é apenas um romancezinho metido a engraçado que cairá no limbo das “peças de alcatra” do Sr. Santucci…

Ou seja, o cinema brasileiro de comédia precisa de mais timing e menos fórmulas…

Minha Mãe é uma Peça [xrr rating=3.5/5]

 

Odeio o Dia dos Namorados  [xrr rating=2/5]

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