"Operação Sombra: Jack Ryan" relança personagem de Tom Clancy sem grandes novidades

O analista da CIA John Patrick Ryan era o protagonista recorrente dos livros de Tom Clancy, autor de “Caçada ao Outubro Vermelho”, “Perigo Real e Imediato”, “A Soma de Todos os Medos”, entre outros, e que faleceu em outubro de 2013. Suas tramas, que estão sempre envoltas com espionagem fazem muito sucesso entre os leitores e fãs do gênero e não demoraram para serem adaptadas para o cinema.
A primeira personificação de Ryan foi feita por Alec Baldwin em 1990 na adaptação de “Caçada ao Outubro Vermelho”, também estrelada por Sean Connery, e fez um grande sucesso. Mas, quando saiu a versão de “Jogos Patrióticos” em 1992, Ryan passou a ter a voz e o corpo de Harrison Ford, que repetiu o papel em “Perigo Real e Imediato” dois anos depois. Mas Clancy nunca gostou da escolha de Ford, por achá-lo velho demais. Por isso, os produtores resolveram apostar em Ben Affleck para viver o personagem em “A Soma de Todos os Medos” em 2002. Apesar do sucesso de bilheteria, Affleck acabou não fazendo uma sequência e parecia que não haveria mais outros filmes com o universo criado por Clancy. Mas, como a franquia Bourne, estrelada por Matt Damon e agora com Jeremy Renner (além da reinvenção bem sucedida de 007 com Daniel Craig) fez um monte de dinheiro, acharam que era hora de Ryan voltar à ação. Assim, chega aos cinemas mais um reboot: “Operação Sombra: Jack Ryan” (“Jack Ryan: Shadow Recruit”).

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Desta vez, Ryan é interpretado por Chris Pine (o novo Capitão Kirk do “Star Trek” de JJ Abrams), um jovem muito inteligente que deixa a universidade para se tornar um fuzileiro após a tragédia do 11 de setembro. Ele é atacado durante uma operação no Afeganistão e passa um bom tempo se recuperando dos ferimentos num hospital militar. É lá que ele conhece a bela médica Cathy Muller (Keira Knightley), por quem se apaixona e engata um romance. Durante sua recuperação, ele recebe a visita do misterioso Thomas Harper (Kevin Costner), que lhe propõe entrar para a CIA como um analista infiltrado em Wall Street. Assim, ele poderia rastrear possíveis ligações de grupos terroristas com investidores. Anos mais tarde, Ryan percebe irregularidades nas contas do empresário russo Viktor Cherevin (Kenneth Branagh, que também dirige o filme) e vai até Moscou para descobrir o que ele realmente quer. Após escapar de uma tentativa de assassinato, ele percebe que Cherevin quer criar a Segunda Grande Depressão e levar a economia mundial a um colapso, que culminaria com um grande atentado terrorista. O que Ryan não contava é que Cathy acaba se envolvendo com a missão e pode pôr tudo a perder.

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O grande problema com “Operação Sombra: Jack Ryan” é que o filme (o primeiro que não é inspirado em nenhum livro de Clancy) é apenas uma fita de ação como muitas outras que tem por aí. Não há nada de muito inovador na direção de Kenneth Branagh, que parece preocupado apenas em fazer o seu dever de casa corretamente, sem nenhum traço de originalidade. A impressão que dá é que o cineasta, mais conhecido por seus trabalhos baseados em obras de Shakespeare e, mais recentemente, com “Thor”, queria mostrar ser capaz de conduzir uma grande produção de Hollywood. Não que ele tenha feito um trabalho ruim. Apenas se parece um entre tantos outros que surgem todo o ano, nada realmente memorável. É claro, que a parte técnica é bem interessante e há até um bom suspense, como na cena em que Ryan precisa tirar dados do computador de Cherevin. Mas isso não é o suficiente para tirar a sensação de Déjà Vu, especialmente para quem já viu outros filmes do mesmo estilo.

JACK RYAN: SHADOW RECRUIT

O elenco alterna boas e más atuações. Chris Pine não compromete como o protagonista, mas não fez melhor do que Baldwin, Ford ou Affleck. Kevin Costner, no entanto, mostra que está voltando à boa forma no campo da atuação, construindo de forma bastante eficiente o “mentor” de Ryan, que nada mais é que uma mistura do almirante Green (vivido por James Earl Jones em “Caçada…”, “Jogos…” e “Perigo Real…”) e o Sr. Clark (também personagem recorrente dos livros de Clancy e vivido no cinema por Willem Dafoe em “Perigo Real…” e Liev Schreiber em “A Soma…”). Kenneth Branagh falha em alguns momentos na caracterização de seu vilão, onde abusa dos clichês típicos de um antagonista, mas se sai bem da metade do filme até o final. Mas a grande decepção está na fraca interpretação de Keira Knightley, como Cathy Muller. Apesar de trabalhar bem a questão do sotaque americano, a bela atriz inglesa torna a sua personagem uma boboca ciumenta com o trabalho do namorado, que parece não ter noção da importância de Ryan e sua equipe de agentes. Parte do problema também vem da maneira que o roteiro (escrito por Adam Cozad e David Koepp) vê Cathy, como uma jovem impulsiva (algo que nunca foi evidenciado nos filmes anteriores), que acaba virando o velho caso de mocinha em perigo, limitada a ficar gritando por socorro. A personagem já foi bem mais interessante quando vivida antes por Anne Archer e Bridget Moynahan.

“Operação Sombra: Jack Ryan” pode até gerar uma nova franquia no futuro. Mas precisa melhorar nas próximas aventuras do agente da CIA se quiser se tornar algo de maior respeito. Mas para quem não liga muito para isso e só quer curtir um filme de ação correto, numa tarde dentro de um shopping center, essa pode ser uma boa opção. Para ver e esquecer logo em seguida.

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