Os Fantasmas Ainda Se Divertem se apoia em Michael Keaton para funcionar

Foram 36 anos de especulação sobre uma continuação de “Os Fantasmas Se Divertem”, clássico da sessão da tarde que rendeu até série animada. Só que o diretor Tim Burton parecia mais interessado em outros projetos do que em revisitar a assombração picareta eternizada por Michael Keaton, e nenhum outro diretor quis capitanear o projeto na Warner Bros. Foram necessárias essas mais de três décadas e meia para que a agenda de Burton permitisse que a sequência finalmente visse a luz com o nome “Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice”. E como o cineasta revisitou o universo que o colocou no hall dos principais realizadores hollywoodianos?

Após uma tragédia inesperada, três gerações da família Deetz voltam para Winter River. Ainda atormentada pelos eventos, Lydia tem uma relação difícil com sua filha adolescente e rebelde, Astrid, que acaba por encontrar o misterioso modelo da cidade no sótão que abre o portal para o Além. Com problemas surgindo em ambos os mundos, não vai demorar muito para alguém pronunciar o nome de Beetlejuice três vezes, trazendo de volta a alma penada travessa para espalhar seu caos característico. Porém, como já vimos no longa anterior, certas coisas apenas ele pode resolver.

O grande problema de “Beetlejuice 2” reside na escolha de estruturar o argumento em núcleos pouco coesos. Os roteiristas são parceiros de Burton em outras obras. Seth Grahame-Smith escreveu “Sombras da Noite” e Alfred Gough e Miles Millar é a dupla responsável por “Wandinha”. É como se eles quisessem dar a Burton uma plataforma para emular Robert Altman, só que sem amarrar as tramas nem dar desfechos satisfatórios a cada uma. Delia Deetz, por exemplo, ficou visivelmente perdida e sem função e seu arco se restringe a uma viuvez caricata, deixando óbvio que Catherine O’Hara retornou apenas para aquecer o coração dos fãs. Vale lembrar que a ausência de Jeffrey Jones se dá por conta de seu afastamento da vida pública após as acusações de colecionar pornografia infantil, e Burton não quis escalar outro ator.

Ainda no que tange a personagens dispensáveis, Monica Bellucci, atual companheira de Burton, marca presença por puro nepotismo. A história pregressa de Delores com Beetlejuice é até interessante, assim como o conceito visual (que lembra muito a vampira de Ed Wood, é bem verdade) e a motivação da personagem. Porém, com tantas mudanças de curso tomadas no roteiro ela acaba sendo praticamente esquecida a uma certa altura. Detalhe que ela surge logo no início do filme, dando a entender que desempenhará um papel fundamental no desenvolvimento da trama. O delegado de polícia do Além que investiga as ações dela, interpretado por Willem Dafoe tem sua graça, mas também pouco agrega.

Por outro lado, o Beetlejuice de Michael Keaton, mesmo com menos tempo de tela do que poderia, faz valer a pena a espera por sua volta às telonas. Literalmente dono do show, praticamente todas as cenas do fantasma trapaceiro são impagáveis e compensam a mediocridade da trama. É como se Keaton estivesse interpretando o personagem frequentemente desde 1988, e é no ator que o filme se apoia para funcionar.

Winona Ryder também brilha retornando ao papel de Lydia e encontra o equilíbrio perfeito, trazendo as características e trejeitos da personagem do filme original, quando era adolescente, mas com o ar mais maduro, transmitindo a passagem do tempo, a vivência e alguns traumas que a moldaram. Já Jenna Ortega também se sai bem ao evitar a armadilha de mimetizar a jovem Lydia ou (ainda pior) replicar maneirismos de sua Wandinha, dado que são personagens que se assemelham de certa forma e estão sob o mesmo comando. Ponto para Burton, que, de fato, soube realizar um bom trabalho com os atores – esse sempre foi um dos pontos fortes do cineasta.

“Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice” se justifica como uma oportunidade de rever Beetlejuice no cinema. E se não chega a ser memorável, na maior parte do tempo é um entretenimento satisfatório. Em alguns momentos os elementos nostálgicos são arremessados de forma um tanto gratuita e displicente, é verdade, mas a parceria de Burton e Keaton se mostra inabalável e continua rendendo bons momentos. Será que os fãs podem sonhar agora com um terceiro Batman da dupla? James Gunn poderia considerar essa ideia…

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