Sylvester Stallone foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Roteiro Original em 1977 por Rocky, O Lutador (o longa ainda ganhou as estatuetas de Melhor Diretor e Melhor Filme, derrotando respectivamente Ingmar Bergman e Taxi Driver) e começou a cogitar uma carreira na direção, para manter controle sobre os roteiros. Nos anos 70 e 80 ele dirigiu 3 filmes da franquia Rocky e uma sequência desastrosa de Embalados de Sabado à Noite. Mas seu real talento era atuar em filmes de ação onde ele pudesse, sozinho, derrubar a tudo e a todos que viessem de encontro ao seu caminho. Os anos passaram, a barriga cresceu, o salário e as ofertas de trabalho diminuíram, e Stallone voltou à direção com dois inesperados sucessos de bilheteria. Primeiro com Rocky Balboa (2006), em que vimos um arrastado drama com um ator debilitado tentando trazer seu grande personagem de volta à ativa. Mas quando Rocky finalmente começa a se preparar para a luta e eventualmente vai à Las Vegas para enfrentar seu oponente, eu me senti como uma criança novamente, acompanhando cada golpe. Sly aprendeu a lição de que, ainda velho, a platéia queria vê-lo tirando o sangue de seus oponentes, e então escreveu e dirigiu Rambo (2008), um dos filmes mais sangrentos, exagerados e divertidos de Stallone. Era como voltar à época em que eu não perdia uma Sessão da Tarde ou Temperatura Máxima.
O sucesso desses filmes foi inesperado, pois Hollywood viu que a simpatia do público migrou dos musculosos solitários e suas metralhadoras (ou flechas) explosivas para os protagonistas que nem sempre eram muito fortes, mas exibiam ótima técnica nas artes marciais, simpatia e tinha uma rede de pessoas com as mais variadas especialidades lhes dando apoio na retaguarda, além de usar atores mais qualificados, vide Missão Impossível, The Matrix e, mais recentemente, A Origem. Além disso, os últimos dez anos foram dominados por longas de terror baratos, fantasia, adaptações de histórias em quadrinhos e uma nova geração de filmes de artes marciais asiáticos. A maioria daqueles astros dos anos 80 viraram piada, lançando filmes direto em DVD ou escolhendo outras profissões, como a política.
Juntando o quebra-cabeças das tendências do mercado de filmes de ação e os seus recentes sucessos, além do renascimento de franquias como Duro de Matar e o enorme sucesso dos filmes de Jason Bourne, Sly achou que estava na hora dos filmes de testosterona dos anos 80 voltarem ao lugar que ocupava 20-25 anos atrás. Mas ele não queria repetir a fórmula do “um-contra-todos” que ajudou a popularizar, ao lado de Arnold Shwarznegger, Bruce Willis, Jean Claude Van Damme e Chuck Norris. Nosso herói teve então a mais simples e, ao mesmo tempo, impensável idéia. Juntar vários dos astros de filmes de ação, de diferentes gerações, e fazer um filme de ensemble com o cast dos sonhos de qualquer garoto dos anos 80 e 90. John Rambo ao lado de John McLane, o Exterminador, Ivan Drago, Marv, Chev Chelios e Danny The Dog!
O enredo, é claro, não poderia ser outro. Um grupo de mercenários, classificados como dispensáveis pelo governo, é enviado a um país da América Latina para fazer o trabalho que a CIA não poderia assumir oficialmente e acabar com o domínio de um ditador (David Zayas) sem escrúpulos que vem aterrorizando a população de seu pequeno e hispânico país fictício, Vilena. Mas Barney Ross (Stallone) e Lee Christmas (Jason Statham), mercenários com muita experiência e pouco patriotismo, fazem uma viagem de reconhecimento ao país com a ajuda de Sandra (Giselle Itié), que faz parte da resistência contra o ditador. Lá eles logo percebem que a missão é uma grande roubada e pretendem cancelar a participação do grupo. Mas Sandra é presa pelos militares e isso deixa Barney Ross atordoado com suas próprias dúvidas e demônios. Disposto a salvar a sua alma e fazer o que é certo antes que seja tarde, Ross avisa aos companheiros que voltará a Vilena com o único intuito de salvar Sandra, sem se preocupar em tirar o ditador do poder. Seus companheiros Christmas, Ying Yang (Jet Li,) Toll Road (Randy Couture) e Hale Ceasar (Terry Crewes) decidem acompanhá-lo, por mais que seja uma missão suicida. Troque a América Latina pela União Soviética ou o Afeganistão e estamos novamente em 1985. Mas se você chegou aqui procurando um roteiro elaborado, uma história inovadora e grandes atuações, você está no lugar errado. Aqui é o lugar de ver ação, lutas e coisas explodindo.
Filmado no Brasil e nos Estados Unidos, Os Mercenários dá aos fãs muitos dos elementos que eles estavam esperando ver na tela. O clima de camaradagem entre os grandes astros, diálogos engraçados que fazem referências a outros filmes e às carreiras dos atores, cenas de ação bem coreografadas, explosões e sangue. Mas tudo isso vem em doses homeopáticas e nem sempre convencem. O tão esperado encontro entre Stallone, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger, só, não vale o ingresso, mas ajuda bastante. Algumas das cenas de ação enchem os olhos da platéia, mas em geral não são menos que espetaculares. Até as piadas entre o grupo de mercenários começam a ficar cansativas ao fim do filme.
Mesmo para um filme descerebrado, alguns detalhes (evito chamá-los de defeitos) são imperdoáveis. Apesar de eu mesmo já ter citado que não pode-se esperar grandes atuações de um filme como esse, é vergonhoso assistir a Gunner Jensen (Dolph Lundgreen) rosnando suas falas e conseguindo sair-se pior do que ex-campões de luta livre. Nem vou falar do quão ruim é a Giselle Itié. O filme também gasta muito tempo em bate-papos, dando uma (pequena e inútil) profundidade para personagens que, no fim, não terão nenhuma curva dramática. Pelo menos temos Statham, Willis, Mickey Rourke e Eric Roberts em cena, que esbanjam o carisma e a canastrice necessária em seus personagens. Rourke e Willis, aliás, mereciam ter muito mais tempo em cena e espero que isso ocorra numa possível versão estendida para o mercado de DVDs.

Mas o principal ponto negativo são os efeitos especiais. Enquanto Stallone teve o cuidado de trazer atores com força física e elasticidade suficientes para darem conta de suas cenas com o mínimo de dublês possíveis e reforçar uma ação mais realista, os efeitos são típicos de filmes B lançados direto para a televisão ou em DVDs nos Estados Unidos. Explosões e sangue computadorizados não funcionam nada bem, e o clímax de algumas cenas é gravemente prejudicado.
Talvez o que tenha faltado para Sylverster Stallone fazer o filme dos sonhos do público foram os exageros divertidos, aquelas explosões ou cenas de ação que deixam o espectador incrédulo por um instante e caindo na risada pelos próximos 10 segundos. Independente do que eu escrevo aqui, Os Mercenários terá o seu público fiel nos cinemas e ele merece. É um filme cheio de defeitos, mas vale pelos momentos em que consegue acertar a mão no entretenimento e na ação, além ofercer uma rara chance de assistir a um grupo de atores desse porte simplesmente se divertindo enquanto fazem o filme.








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