O primeiro Mercenários foi um filme um tanto incompreendido. Nele, a intenção de Sylvester Stallone era ressuscitar aquele velho cinema de ação que rendeu rios de dinheiro aos estúdios e aos exibidores. Aquele cinema sem vergonha nenhuma de colocar na tela um só homem arrasando um exército inteiro, saindo ileso, e ainda com uma trilha sonora grandiloquente no fundo. Mas como tudo que é explorado à exaustão, o gênero caiu no ridículo e as bilheterias começaram a minguar, assim seus ícones foram forçados a se reinventar. Schwarzenegger se arriscou na comédia, voluntária, no caso da trilogia do Ivan Reittman (Irmãos Gêmeos, Um Tira No Jardim de Infância e Junior), e involuntária, no caso do Senhor Homem de gelo de Batman & Robin. Stallone foi tentar algum prestígio como ator sério no filme Copland e Bruce Willis, talvez o mais versátil, estrelou o suspense campeão de bilheteria O Sexto Sentido. Pior sorte tiveram Dolph Lundgren, Jean Claude Van Damme e Chuck Norris, relegados a produções lançadas diretamente no mercado de vídeo. Eis que em 2010, Stallone tem a ideia de tirar um time de astros de ação da geladeira e reuni-los com o suporte de alguns da geração atual como Jason Statham e Jet Li. O filme, que teve sequências filmadas no Brasil, foi um sucesso de bilheterias, acima do esperado, e uma continuação foi acertada logo em seguida.
Os Mercenários 2 (The Expendables 2, E.U.A/2012), que estreia nesta sexta, assim como seu antecessor, não foi feito para ser levado a sério. É um mosaico de situações e cenas de ação tão absurdas que fazem Rambo II parecer verossímil como Roma Cidade Aberta. Na trama, que é o que menos importa aqui, Church (Willis) reúne o time liderado por Barney Ross (Stallone) para um arriscado pagamento de dívida que os coloca em um verdadeiro campo de batalha em território albanês, e, da mesma forma que da última vez, Barney decide ir até o fim por razões pessoais.
Desta vez, Trench (Schwarzenegger) e Church, que tiveram participações pequenas na película anterior, ganham mais destaque, e Van Damme, que havia sido cogitado para o original, mas ficou de fora, interpreta o vilão, com sua canastrice habitual, mas que aqui cai como uma luva.
O clima do filme é de uma festa de amigos, com muitas piadas referenciais aos filmes que os tornaram famosos como Rambo e Exterminador do Futuro e brincadeiras com o fato de serem fósseis vivos. Uma passagem que exemplifica bem isso é quando Booker, personagem de Chuck Norris, surge e diz a Barney “pensei que você estivesse morto” e este por sua vez replica “eu também achei que você estivesse morto”. Inclusive a aparição de Norris é o ponto alto do filme. O eterno Braddock, literalmente desenterrado aqui, rouba a cena fazendo um elegante pastiche de si próprio. Outro exemplo de reconhecimento bem-humorado da passagem dos anos é na cena em que Barney, diante de um velho avião exclama: “essa coisa deveria estar no museu” e Trench retruca “e nós também”.
Vale observar que neste filme não se comete o mesmo erro do anterior, que em meio a todo o absurdo tentava imprimir alguma seriedade, e foi justamente esse o calcanhar de Aquiles da trama. O segundo episódio é assumidamente um exemplar de ação descerebrado sem o menor compromisso com credibilidade ou verossimilhança. Apenas muita explosão, tiros e frases de efeito, em resposta a toda a sagacidade e de certa forma irritante eficiência dos heróis de ação do século XXI.
No que tange à direção, este também apresenta uma certa melhoria: entrou Simon West, deixando Stallone, que ficou a cargo do posto no anterior, livre para apenas atuar. Tendo em seu currículo filmes como Com Air e Lara Croft, West tem experiência e mão firme para pilotar um projeto de pura ação como esse. Já o roteiro foi escrito por Richard Wenk (16 Quadras) em parceria com Stallone, em cima do argumento de Ken Kaufman, autor do esperto Space Cowboys de Clint Eastwood.
Os Mercenários 2 irá fazer a festa de quem era fã de filmes de ação nos anos 80 e início dos 90, e cenas como o duelo final entre Stallone e Van Damme farão muita gente que hoje está na casa dos trinta abrir um sorriso de orelha a orelha. Quem está nessa faixa etária vai se lembrar imediatamente das acaloradas discussões no pátio da escola há cerca de vinte anos sobre quem venceria um embate entre Schwarzenneger e Stallone, Van Damme e Steven Seagall ou entre Stallone e Van Damme. Se você for ao cinema já sabendo de antemão que a coisa não é para ser levada a sério, corre risco de se divertir mais do que com o último filme do Homem Aranha, por exemplo.
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