Fazer um filme por ano é um sinal e tanto de vitalidade para o setentão Woody Allen. Porém, também implica numa inconstância artística de seu resultado. Para Roma Com Amor expressa essa lógica justamente por se revelar muito mais um exercício do ofício do que uma alegoria da genial personalidade do cineasta.
Depois de radiografar (com êxitos) cidades europeias como Londres, Barcelona e Paris, Allen se volta para a capital italiana imbuído literalmente do espírito turístico, se valendo inclusive de um “apresentador” característico para emoldurar a visão estrangeira (e estereotipada) do lugar.
São quatro histórias narradas de forma paralelas, tendo como ponto nevrálgico apenas o fato de todas se passarem em Roma. Algumas têm somente personagens italianas, outras só estrangeiras, e outras, ainda, ambas. Inspirado no clássico Decamerão, o longa é repleto de referências de personagens e tramas presentes em longas não só de Allen, mas também do cineasta italiano Federico Fellini. O triângulo amoroso formado por Jack (Jesse Eisenberg), Sally (Greta Gerwig) e Monica (Ellen Page) é interferido por John (Alec Baldwin) – numa espécie de subconsciência de Jack, prevendo o envolvimento do jovem com a amiga de sua namorada Sally. Nada mais Woody Allen da década de 80, né? Outra trama envolve um casal recém-casado do interior, que chega à cidade para tentar se estabelecer, mas numa engenhosa artimanha do roteiro, se vê às voltas com a figura exuberante de uma prostituta bem, digamos, italiana (!), vivida com louvor por Penelope Cruz. O italiano Roberto Benigni faz sua participação em um segmento, que tem como tema a fama súbita: uma espécie de metáfora sobre a cultura da celebridade. O próprio diretor atua numa trama que envolve ópera e uma típica família romana, ou seja, o ponto principal dos contrastes no filme.
Woody Allen não faz filme propriamente ruim. Mas, por vezes, cai na acomodação de sua genialidade ou no equívoco da propriedade de um determinado discurso. Para Roma Com Amor cai nesses dois erros. Acostumados a histórias que dimensionam sua natureza “turística”, como na obra-prima Match Point, seu filme “italiano” é o pior dessa safra internacional. Sua trama repousa no comodismo dos arquétipos e ainda se revela frágil no desenvolvimento de personagens (os ótimos tipos de Penelope e Baldwin, por exemplo, não têm uma resolução que valha). Óbvio que o filme tem pontos altos, como os sempre bem construídos conflitos de sentimentos ou até o humor cínico e único em histórias improváveis (como a do cantor de ópera e a implicância do personagem de Allen). Mas o próprio cineasta nos acostumou a sermos exigentes com a simplicidade de um bom cinema. Dessa vez, porém, a despretensão confundiu-se com acomodação.
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