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"Paraíso Perdido" e a ilusão de ser o que é

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Já tem dez anos que a diretora Monique Gardenberg lançou seu último filme, o carismático O Paí, ó!, e desde então vinha gestando seus múltiplos projetos, até escolher o mais autoral deles (seu primeiro roteiro original) para voltar aos cinemas. E assim, nasceu Paraíso Perdido, história que trafego por relações familiares sob as cores e os sons de uma boate de música popular. Administrada pelo patriarca José, numa curiosa escalação de Erasmo Carlos, o lugar é literalmente, palco para seus filhos e netos viverem seus conflitos e cantarem suas dores e amores.
Há uma intrincada trama envolvendo relações e ações do passado – o filme começa com uma cena-chave assim – que faz com que o espectador adentre aquele universo pelo prisma do policial Odair (Lee Taylor) que é convidado por Teylor (Seu Jorge) para assistir os shows da casa e acaba virando segurança de um dos netos de José, o reluzente Imã (numa performance interessante do cantor Jaloo). Assim, sua vida acaba por esbarrar na de Angelo (Julio Andrade, preciso na sensibilidade) um dos filhos do patriarca, que carrega em si a melancolia de um amor perdido e torna o acaso um real desdobramento.
A família aguarda o retorno de Eva (Hermila Guedes, uma força cênica como sempre), prestes a sair da penitenciária, após anos presa por homicídio. Monique construiu todo um universo pela força das chamadas músicas bregas – canções clássicas de Odair José, Paulo Sérgio e Augusto Cesar, por exemplo, desfilam durante a história – além da fotografia vibrante de Pedro Karkas.

A habilidade da diretora em dirigir diversos shows ao longo da carreira se faz notória pelos belíssimos e bem enquadrados números musicais (especialmente os de Jaloo). Esse verniz ajuda a substancializar os personagens isoladamente, entretanto a dramaturgia de coral, com muitos e múltiplos conflitos, acaba por enfraquecer a história, uma vez que nem todas as tramas conseguem ter a profundidade que Monique desenvolve em outras. Esse também era um dos grandes problemas de O Paí, ó!. Tanto que há personagens sem muita razão de ser na trama em si (desperdício de bons personagens como os da Marjorie Estiano e de Seu Jorge) e até um certo superficialismo no terço final, onde a engenhosidade da história começa a se resolver.
Paraíso Perdido funciona melhor na ilusão que alimenta de si. A sucessão de canções que ajuda a amarrar a história (muito bem utilizado no romance de Imã), a sacada de usar o cancioneiro da Xuxa para falar da comunicação de libras, os discursos atuais muito bem engendrados no todo e a poética substituindo o pejorativo brega que Monique empreende, tornam o filme até maior do que, em tese, ele é.
Filme: Paraíso Perdido
Direção: Monique Gardenberg
Elenco: Lee Taylor, Jaloo, Júlio Andrade
Gênero: Drama/Comédia
País: Brasil
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Vitrine Filmes
Duração: 1h 50 min
Classificação: 14 anos

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