Por que “Amizade Colorida” é bem melhor do que parece ser?

Que caminho o manjado gênero da comédia romântica americana americana pode ir, para além do lugar comum? Amizade Colorida parece encontrar o seu e se justificar dentro de uma legitimidade muito, mas muito própria. Parece irônico que essa introdução preceda uma história, tão clichê, do casal que vira amigo, descobre uma química sexual, mas impõe…


Que caminho o manjado gênero da comédia romântica americana americana pode ir, para além do lugar comum? Amizade Colorida parece encontrar o seu e se justificar dentro de uma legitimidade muito, mas muito própria.

Parece irônico que essa introdução preceda uma história, tão clichê, do casal que vira amigo, descobre uma química sexual, mas impõe o descompromisso latente da possível relação. Um plot bem cretino e que, inclusive, já rendeu um similar há poucos meses com o péssimo Sexo sem Compromisso (onde até hoje me pergunto o que deu em Natalie Portman para aceitar estrelar e, o pior!, produzir um filmezinho tão ruim…). Porém, a comédia romântica (olha ela aí!!!) dirigida por Will Gluck (do badalado A Mentira) eleva o fator carisma a todos os sentidos cinematográficos do gênero: diálogos inspirados, atores em sintonia e direção em pleno domínio de suas previsibilidades.

A cada vez mais maravilhosa Mila Kunis (que quase roubou a obra-prima Cisne Negro para si) incorpora com entusiasmante vivacidade Jamie, uma headhunter que “pesca” o diretor de arte Dylan (Justin Timberlake, bem) de Los Angeles para trabalhar na GQ de New York. Obviamente que essa relação profissional, rapidamente pula para o pessoal, ainda mais que Jamie passa a apresentar o melhor da cidade para o rapaz. Como ambos estão vindos de relacionamentos traumáticos, decidem que avançariam no nível de intimidade, mas não de relacionamento. Eis que o “trato” é relativizado pelas próprias (previsíveis) circunstâncias.

Gluck se cerca de muitas variáveis que nutrem o êxito de seu “produto”. Novaiorquino (pelo visto, de coração), ilustra bem as cenas com pontos turísticos da cidade alimentando a áurea cool do intricado relacionamento dos dois. Mas é pelo boníssimo manejo em trabalhar em cima dos clichês que tinha em mãos, que o diretor tornou o filme bem acima de média dos demais exemplares do gênero. O roteiro dá a impressão de estar a cada cena rindo de si mesmo e de uma “auto tabulação” de seu papel no cinema. Por isso rende diálogos tão hilários e inteligentes (raramente podemos colocar esses dois adjetivos numa mesma frase em filmes assim…). Fora que a amoralidade imposta é muito assertiva na condução dessa lógica iconoclasta… Cenas de sexo vigorosas e (por que não?) divertidas só contribuem para essa legitimação de sua graça (aqui, nada fácil) em nos envolver com essa trama mais do que já vista.

E em sua conclusão, quando vai deslizando para o surrado melodrama final, já estamos hipnotizados pela bobagem que é uma relação marcada a acabar bem no final… só que, espertamente, temos New York para deixar tudo mais plástico, e (mais) um flash-mob para digerirmos tudo como um bom sanduíche fast-food… Ou você agora vai querer fazer juízo de valor de um Big Mac?

[xrr rating=4/5]