Parece estar se tornando uma tradição na Disney/Pixar a demora para lançar sequências de seus grandes sucessos (as exceções são “Toy Story 2” e “Carros 2”, lançados quatro e cinco anos depois dos primeiros filmes, respectivamente). Porém, na maioria dos casos, essa “lentidão” é justificável pois, assim, o estúdio de animação tem mais tempo de aparar as arestas e realizar um trabalho melhor do que se tivesse sido feito às pressas, de olho na bilheteria, e, às vezes, tão memorável quanto às produções originais.
Felizmente, é isso o que acontece com “Procurando Dory” (“Finding Dory”, 2016), que chega aos cinemas 13 anos depois de “Procurando Nemo”, promovendo uma das melhores personagens da primeira aventura marítima de coadjuvante a protagonista, numa história bem divertida, que conta com alguns momentos bastante emotivos, muito bem realizada no ponto de vista técnico, e que nada contra a corrente das decepcionantes continuações que foram lançadas em 2016.
Ambientada um ano após os eventos de “Procurando Nemo”, a trama mostra que Dory passou a viver no mesmo recife onde vivem o peixe-palhaço Marlin e seu filho Nemo. Durante uma aula em que resolve se autointitular assistente do professor de Nemo, ela assiste a uma migração massiva de arraias, que acaba ativando uma memória antiga sobre seus pais, que não vê há muito tempo. Convencida de que eles estão ainda esperando por sua volta, Dory decide procurá-los, acompanhada de Marlin e Nemo. O trio acaba indo parar no Instituto de Vida Marinha, na Califórnia, um local que cuida de diversas espécies, além de exibi-las em gigantescos aquários.
Lá, Dory (que continua com seu problema de perda de memória recente) acaba se separando de seus amigos, mas acaba fazendo outros, como o polvo brigão Hank, a tubarão-baleia Destiny (que sofre de miopia) e a baleia branca Bailey, que acredita que não consegue mais usar suas capacidades de ecolocalização (que funcionariam como se fosse um radar), dispostos a ajudá-la em sua busca. Dentro do complexo interior do instituto, Dory tenta descobrir o que aconteceu com seus pais, ao mesmo tempo em que Marlin e Nemo têm que se virar para reencontrar a amiga.
Assim como no primeiro filme, “Procurando Dory” cativa tanto crianças quanto adultos por tratar de um tema que causa uma identificação imediata a maioria dos espectadores: o desejo de manter sua família unida, mesmo que ela esteja a quilômetros de distância, não importa se os personagens são seres humanos ou peixes. O roteiro, escrito pelo diretor Andrew Stanton (que divide a direção desta vez com Angus MacLane) e Victoria Strouse é bem sucedido em manter o carisma de Dory, que nunca se torna irritante por não conseguir se lembrar das coisas e faz o público se tornar cúmplice da personagem, já que seu otimismo (e uma certa inocência) frente às situações colabora para que ela seja vista com muita simpatia. Além disso, as sequências que mostram a infância de Dory são bastante divertidas e são um dos destaques do filme.
Mas o texto não esquece dos outros personagens, tornando-os também interessantes, sejam os mais antigos, como Marlin (que continua um pouco medroso), como também os “novatos”, como Hank, que mesmo se mostrando meio malandro e irritadiço, descobre ser capaz de coisas que não imaginava fazer, graças a Dory. Além disso, as piadas não soam forçadas e o riso sai espontaneamente com as situações apresentadas no filme.
Porém, se tem uma coisa que torna essa continuação um pouco inferior a “Procurando Nemo” é a sensação de que alguns momentos da animação lembram muito a de outros já vistos na primeira parte, apenas reciclados e atualizados. Mas, ainda assim, Stanton e seus roteiristas conseguem fazer a coisa funcionar, sem irritar o público em geral.
O pessoal da Pixar também não se acomodou e realizou belíssimas imagens aquáticas, tanto no recife onde vivem os protagonistas quanto também nos aquários que fazem parte do Instituto de Vida Marinha, utilizando de forma atraente as cores dos animais marinhos, cativando especialmente o público infantil. Curiosamente, os animadores ressaltaram algumas marcas dos personagens, como as “sardas” de Dory e a expressão nos olhos de Hank, já que sua “boca” fica coberta o tempo todo.
Outro grande destaque de “Procurando Dory” está na ótima dublagem brasileira, que realiza com muita competência a voz dos personagens. O ator Antonio Tabet, que faz parte do grupo “Porta dos Fundos”, se sai muito bem ao dublar Hank (que na versão original tem a voz de Ed O’Neill, do seriado “Modern Family”). Mas a principal surpresa é a participação da jornalista, apresentadora e atriz Marilia Gabriela, numa das melhores piadas do filme, que não vale a pena ser revelada. É preciso ver sem saber maiores detalhes (ou spoilers) para que a diversão seja ainda maior.
“Procurando Dory”, apesar de não contar com grandes inovações a respeito do filme original, revela-se uma grande sequência que consegue tirar um pouco a desconfiança de que seria apenas mais um caça-níqueis, como muitos que estão sendo lançados a cada semana. O filme cumpre seu objetivo de divertir e até emocionar neste reencontro com a simpática personagem que nunca foi esquecida pelos fãs de animações, mesmo com a sua memória curta, mas que fala “baleiês” como ninguém. Quem for assistir a esta nova produção, certamente sairá com um belo sorriso no rosto, com belas lembranças desta nova história e vontade de continuar a nadar…
Uma dica: Não saia do cinema até o fim dos créditos. Certamente, você não irá se arrepender.
Filme: Procurando Dory (Finding Dory)
Direção: Andrew Stanton, Angus MacLane
Elenco: Ellen DeGeneres, Albert Brooks, Idris Elba (no original)
Gênero: Animação
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Disney/Buena Vista
Duração: 1h 35min
Classificação: Livre
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