“Caminho do Mar” é um documentário que lança luz sobre o impacto das águas do Paraibuna na bacia do rio que abastece a cidade do Rio de Janeiro e municípios do entorno atendendo a cerca de 9 milhões de pessoas. Nesse “fluvial movie”, como é chamado, acompanhamos todo o percurso do rio, a influência na vida das populações que vivem às suas margens, suas histórias e também a degradação por conta da ação humana.
Ao mesmo tempo que denuncia as agressões ambientais, traz histórias pitorescas que têm o rio como testemunha ocular. São personagens da vida real dando estofo à jornada do protagonista que é o rio em questão.
O longa-metragem, produzido pela Bang Filmes, com direção e roteiro de Bebeto Abrantes, projeto e produção de Juliana de Carvalho, foi exibido em diversos festivais e ganhou na última quarta-feira (24) exibição em Juiz de Fora (MG), terra natal da produtora. O evento contou ainda com um debate mediado por Guilherme Souza, do projeto Piabanha e participação de Flavio Monteiro (Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul – AGEVAP), Eduardo Araújo (Instituto Mineiro de Gestão de Águas- IGAM), João Siqueira (Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF), Marcelo Massaharu Araki (Instituto Estadual de Florestas – IEF) e Renata Maranhão ( Agência Nacional de Águas – ANA). A mesa discutiu os problemas decorrentes da agressão ambiental e as soluções.
Perguntada pela Revista Ambrosia sobre como nasceu o projeto do documentário, a produtora do filme revelou sua inclinação a trabalhar com temas de meio ambiente e ligados ao Rio de Janeiro. Ela já havia realizado um filme sobre a História do Rio, São Sebastião do Rio de Janeiro: A Formação de Uma Cidade, longa-metragem que contava a história dos 450 anos do Rio. “E aí comecei um novo projeto chamado As Cores do Rio. É uma série literária em que eu já tinha feito o primeiro exemplar ‘O Rio Que É Verde’. Fiz o segundo exemplar da série chamado ‘O Rio Que É Azul’, e essa história é exatamente a história das águas do Rio de Janeiro. Você sabe que o Rio de Janeiro é uma cidade, que apesar do nome, não tem um rio. E o abastecimento é o grande desafio da cidade.”, disse Juliana.
Ela conta um fato que lhe causou surpresa: o abastecimento da cidade do Rio depender inteiramente do Paraíba do Sul. “Dentro desse livro [O Rio Que É Azul”] eu tomei conhecimento de algo que eu me espantei de ainda não saber: que a água consumida no Rio de janeiro vem do rio Paraíba do Sul. Uma transposição que foi feita na década de 50 do século passado em Barra do Piraí que foi a solução definitiva que se alcançou para resolver definitivamente a dificuldade do Rio de Janeiro em obter água. Nessa transição eles retiram dois terços do rio Paraíba do Sul e desviam essa água para o rio Guandu, que é o que alimenta a Estação de Tratamento de Água do Guandu e é distribuído para toda a região metropolitana. E eu fiquei muito chocada com essa informação, uma informação que mostra a fragilidade do Rio de Janeiro com relação a abastecimento.”
“Qualquer coisa que acontecer com o rio Paraíba do Sul, o Rio morre de sede. E eu achei que essa é uma informação que era tão importante que merecia ganhar um aprofundamento. Daí eu tive a ideia de contar a história do rio Paraíba do Sul. O Paulo Canedo que é o hidrologista que escreveu o livro O Rio Que É Azul que [e consultor do filme, explica essa história muito bem. Realmente o Rio tem uma fragilidade muito grande. Numa situação de guerra, por exemplo, seria só bombardear o Paraíba do Sul que você mata a cidade. Eu acho que todo carioca tem que saber disso, tem que ter consciência clara disso, e trabalhar em prol de proteger esse rio. E é um rio muito explorado. Um rio que dá de beber a 13 milhões de pessoas, então é um rio que é a grande bacia da região mais populosa do país e da grande região industrial onde se concentra a economia do Brasil.”
Juliana contou ainda sobre o processo de concepção do longa demandou dois anos de trabalho. “Foi um documentário que relativamente até foi feito de maneira rápida. Captamos as viagens em quatro viagens, a primeira foi em Aparecida do Norte, porque era uma data, a festa da padroeira. E depois nós fizemos o alto Paraíba do Sul, que seria a nascente e a região paulista. Depois o médio Paraíba que é o sul fluminense, Volta Redonda, Barra do Piraí, Resende, e em seguida o baixo paraíba, que é a região de Campos, Itaocara até a foz do rio, que é São João da Barra, Atafona. O que é surpreendentemente no filme ainda tinha uma foz, mas essa foz já acabou. Fiquei sabendo ontem que a boca da barra de Atafona já fechou, ela já é um areal. Ou seja, os barcos já não saem para o mar por atafona. Aquela imagem que a gente vê no fim do filme já não é possível hoje em dia.”
O documentário está disponível gratuitamente no canal da Bang Filmes, assim como o debate que ocorreu durante o evento.
*A Revista Ambrosia viajou a Juiz de Fora a convite da produção
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