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“O Regresso” impressiona pela entrega de Leonardo DiCaprio

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Já faz bastante tempo que Leonardo DiCaprio conseguiu o reconhecimento do público e crítica e construiu uma carreira sólida como ator. Ele soube, como poucos, a ser bem sucedido tanto como ídolo teen (especialmente após seus trabalhos em “Romeu e Julieta”, de 1996, e o arrasa-quarteirão “Titanic”, lançado no ano seguinte), quanto como um ator sério, com personagens e atuações marcantes em produções como “Gangues de Nova York”, “O Aviador”, “Prenda-me se for capaz”, “Django Livre” ou “O Lobo de Wall Street”. Mas seu talento nunca foi reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que insistia em não dar a DiCaprio o seu Oscar.

Tanto que esse assunto já virou até piada pelo mundo, com várias brincadeiras sobre a sua “má sorte” na premiação, ao mesmo tempo que, a cada ano, aumentava a torcida para que ele conseguisse a estátua careca. Mas parece que, em 2016, DiCaprio finalmente pode se sagrar campeão. O motivo é a sua incrível performance no filme “O Regresso” (“The Revenant”), uma produção que impressiona não só pela atuação de seu protagonista (e do resto do elenco, vale ressaltar), mas também pelas qualidades técnicas, como a direção e a belíssima fotografia, que vão fazer o queixo de muito espectador cair no chão do cinema.

Inspirada em fatos reais, alguns deles descritos no livro de Michael Punke, a trama traz DiCaprio como Hugh Glass, que junto com o filho meio índio Hawk (Forrest Goodluck), guia um grupo de caçadores de peles num território selvagem e perigoso dos Estados Unidos, com índios da tribo Arikara em seu encalço. Enquanto tenta deixar a região com segurança, Glass é atacado por um urso e acaba seriamente ferido. O que ele não contava é que um dos integrantes da equipe, John Fitzgerald (Tom Hardy), o enganasse e o deixasse para morrer sozinho na floresta. Mas ele consegue reunir forças e, incrivelmente, se recupera e sobrevive e percorre um longo caminho, enfrentando diversas adversidades para encontrar Fitzgerald, que vai em direção a um forte após abandoná-lo, acompanhado pelo ingênuo Bridger (Will Poulter), para conseguir a sua vingança.

O que salta aos olhos em “O Regresso” é a notável experiência que o filme proporciona, graças a direção segura de Alejandro González Iñarritu, que parece estar em sua melhor fase como realizador. Depois de ganhar vários prêmios em 2014, inclusive o Oscar com “Birdman”, o cineasta mexicano volta a surpreender ao realizar sequências incríveis e bastante difíceis, como o ataque do urso (o momento mais impactante do filme, graças aos efeitos muito realistas da Industrial Light and Magic), um confronto entre os caçadores e os índios, ou a travessia que Glass tem que fazer num rio caudaloso. Aliás, Iñarritu faz com que, a cada adversidade que o protagonista tem que enfrentar, o público sente e compartilha o mesmo sofrimento do personagem, fazendo com que torçamos por ele. Mesmo nos momentos mais contemplativos, que muitos chegaram a acusar ser um pastiche do que Terence Malick já havia feito antes, o diretor obtém um ótimo resultado, embora possa cansar quem não é fã deste estilo narrativo.

O filme também ganha pontos pela assombrosa fotografia de Emmanuel Lubezki, que ganhou o Oscar por dois anos seguidos pelos seus trabalhos em “Birdman” e “Gravidade”, e pode ganhar pela terceira vez pelo que fez em “O Regresso”. As tomadas que ressaltam os elementos da natureza que cercam os personagens, por exemplo, são estupidamente lindas e reforçam o fato de que Lubezki é um dos melhores artistas deste setor em atividade no momento. Poucos conseguiriam fazer algo tão sublime quanto o que ele realizou neste filme.

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Além disso, Iñarritu consegue manter seu elenco sob o seu controle extraindo dos atores ótimas performances. Há um grande lobby, entre crítica e público, para que Leonardo DiCaprio finalmente ganhe o seu Oscar. Mas a verdade é que ele não precisa disso, já que ele, realmente, faz jus ao seu favoritismo com sua atuação intensa, bem estudada, onde ele transmite a dor (física e psicológica) de Glass, especialmente na cena em que, abatido pelo urso e sem poder falar completamente porque um dos golpes do animal atingiu sua traqueia, é deixado para trás e se desespera por não poder, naquele momento, reagir contra sua adversidade.

Tom Hardy também surpreende ao tornar Fitzgerald um homem desprezível e um dos melhores vilões deste ano, com seu jeito truculento, mas ainda assim capaz de dissimular com a maior naturalidade, para fazer todos acreditarem em suas mentiras. Outro que também está muito bem é Domnhall Gleeson, que está numa ótima fase, com papéis importantes em grandes filmes como “Star Wars: O Despertar da Força”, “Ex-Machina: Instinto Artificial” e “Brooklyn”, também se destaca aqui como o Capitão Andrew Henry, que busca alguma integridade no meio de pessoas tão brutas e amorais. Will Poulter, visto em “Maze Runner: Correr ou Morrer” e no terceiro filme da franquia “As Crônicas de Nárnia”, se sai bem com um personagem mais inocente e menos irritante do que costuma fazer.

Com uma envolvente trilha sonora de Ryuichi Sakamoto e Alva Noto, “O Regresso” é o mais cinematográfico dos indicados ao Oscar de 2016. Talvez não ganhe todos os prêmios que concorre ou os que merece ganhar. Mas o que importa é que a produção é uma verdadeira e satisfatória experiência da safra recente de filmes lançados no Brasil. Não deixe de conferir essa verdadeira obra de arte na telona e vamos aguardar o que DiCaprio e Iñarritu vão aprontar nos seus próximos projetos.

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