Resenha: Bigger, Stronger, Faster*

Este documentário passou no Festival do Rio de 2008 e foi muito bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, tanto aqui, quanto no exterior. Eu tive a oportunidade de assisti-lo ontem de noite graças a um amigo que importou o DVD dos EUA (porque pelo jeito nossas distribuidoras não tem interesse de trazer ele…


Este documentário passou no Festival do Rio de 2008 e foi muito bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, tanto aqui, quanto no exterior. Eu tive a oportunidade de assisti-lo ontem de noite graças a um amigo que importou o DVD dos EUA (porque pelo jeito nossas distribuidoras não tem interesse de trazer ele ao país, mesmo tendo sido lançado no Festival de Sundance há quase um ano).

O documentário produzido e narrado por Chris Bell traz, através da própria história deste e de seus irmãos, uma visão sobre o uso de esteróides anabólicos, e como os EUA fazem disso algo quase criminoso em contrapartida a certas práticas que seriam ilegais, mas que são aceitas pela sociedade.

No final da década de 70 começou-se a criar a imagem do Super-Homem nos atores, esportistas e figuras famosas, um ideal inalcançável, mas que todos aqueles jovens crescidos nesta época buscavam e ainda buscam. Se espelhando no exemplo de Stallone, Arnold Schwarzenegger e Hulk Hogan, o narrador e seus irmãos, todos meio gordinhos, começaram a treinar em academias a fim de se tornarem fortes como eles, mas havia o mundo secreto das academias que poucos conseguem entender perfeitamente.

O mundo dos anabolizantes (não só esteróides, mas todo tipo de droga, hormônio ou química que melhore a performance do atleta).

O filme traça um paralelo entre o que a sociedade americana, hipócrita por natureza, faz em relação aos esteróides e o que se almeja na vida. Endeusando figuras dos filmes, quadrinhos, esportes, mas condenando aqueles que usam esteróides por querer ficar daquela forma. Arnold Schwarzenegger, hoje governador da Califórnia, foi um dos que mais usou esteróides em sua vida, e hoje, após seis pontes de safena, é porta-voz do grupo de saúde contra os esteróides criado durante o governo do Bush pai.

Somando-se a isto, vemos que todos os Major Leagues americanos, ou seja, a Liga Profissional dos esportes tipicamente americanos, como Baseball e Futebol Americano, os jogadores usam e abusam de esteróides porque simplesmente não há uma regulamentação, mas, que, os hipócritas no Congresso Americano, acham interessante se meterem no assunto por se tratar de pessoas que irão influir nas atitudes dos jovens.

O que eles esquecem é que desde muito antes disso, os atletas tinham que tomar esteróides porque os outros também tomavam. Virou uma luta por quem seria maior, mais forte e mais rápido. O asterisco no nome do filme advém de recordes mundiais derrubados e que foram cancelados em razão de doping confirmado.

A frase que marca bem esta hipocrisia americana advém do jogador de baseball Barry Bonds, detentor absoluto do recorde de Home Runs em uma temporada (73), em uma entrevista coletiva após este confirmar que usava esteróides.

Barry Bonds: Nós apenas precisamos ir lá fora e fazer nossos trabalhos, do mesmo jeito que vocês profissionais precisam fazer o seu. Não… todos vocês mentiram. Todos vocês. Na história ou o que for, mentiram. Vocês deveriam ter asteriscos após seus nomes? Todos vocês mentiram! Todos vocês disseram algo errado, todos tem sujeira. Todos vocês. Quando seu armário estiver limpo, então venham limpar o dos outros. Mas limpem o seu primeiro.

Algumas cenas deletadas do filme estão no Youtube e valem muito a pena serem vistas. Abaixo, um trecho com o Mr. Olympia Jay Cutler e alguns dos American Gladiators:

A verdade é que tanto nos EUA, quanto em qualquer lugar do mundo em que os esportes são tratados como algo profissional e economicamente viável, esteróides e outros tipos de drogas são usadas para ajudar os atletas a ficarem melhores naquilo que eles fazem. Até mesmo no nosso futebol canarinho, há o uso constante de substâncias que trazem a melhoria de performance, só que isso obviamente é tabu de se falar, afinal, são raros os casos de jogadores pegos nos exames anti-doping, certo?! Errado!

stronger

É simples de se verificar que algo está errado. Quando jogador do Cruzeiro, o então Ronaldinho (o Fenômeno) era magrelo e franzino. Quando chegou na Europa, em questão de meses ele havia ganho massa muscular e força física. E não apenas ele, mas diversos jogadores, tanto brasileiros quanto estrangeiros. As injeções de cortisona que diversos atletas tomam em razão de lesões musculares, se for avaliar quimicamente, tem a mesma função de um esteróide: jogar no nosso sistema um hormônio artificial que ajudará na performance, no caso, a cortisona que ajudará a remendar os músculos lesados.

O caso Serginho e mais uma série de outros, em que jogadores de futebol tiveram ataques cardíacos durante o jogo ou treino, apesar de ter sido exposto como problema cardíaco, pode muito bem ter sido desencadeado por substâncias anabolizantes. Existe um produto chamado Hemogenin, usado em pessoas anêmicas que ajuda o corpo a criar mais células vermelhas. Essa mesma substância, se usada por um atleta, faz sua respiração celular aumentar exponencialmente dando a ele uma vantagem sobre os adversários.

O documentário mostra que em verdade, o que os atletas e bombados de academia fazem é usar medicamentos indicados para certos tipos de doenças a fim de criar mais músculos. Entretanto, os esteróides tem venda proibida e alguns médicos os tem usado para tratar de sintomas da AIDS como a degradação muscular. Em um caso mostrado no filme, foi dado esteróide a um cara que estava em vias de ter uma parada respiratória e hoje ele vive graças aos esteróides.

Outro fato interessante lançado pelo documentário é o do doping genético, um fato que está começando a tomar espaço e mostrar as falhas no sistema de fiscalização dos atletas. Como se pode provar que um atleta foi modificado geneticamente para ser melhor? O documentário mostra um boi que tem mais de uma tonelada de puro músculo e é resultado de doping genético. E vocês acham que isso não foi usado em humanos? Pensem bem…

O filme é extremamente legal, mostrando bem esse lado americano dos esportes e de como se quer ficar sempre melhor, mas ao mesmo tempo criticando o uso dos anabolizantes, mas endeusando os esportistas que os usam até que eles são flagrados nos exames anti-doping. O lado mais humano do documentário se centraliza nos irmãos do narrador, ambos anabolizados e buscando o sonho americano de se sobressair, porém sempre falhando, o que levou o mais velho a tentar se matar em determinada época.

Para aqueles que curtem academias e todo esse universo que envolve as competições esportivas, vale muito a pena esse documentário, afinal ele desmistifica um pouco aquela coisa do gigante anabolizado e dos homens barriga de tanquinho nas capas das revistas e nos filmes, bem como mostra claramente que a sociedade está criando um exemplo de ser humano inalcançável pelos meios convencionais de treino físico.

Abaixo vai o trailer do filme.


J.R. Dib


Uma resposta para “Resenha: Bigger, Stronger, Faster*”

  1. Arnold fazer parte de qualquer coisa contra anabolizantes é o cúmulo da hipocrisia pqp
    Mas o povo adora ser hipócrita, se doping fosse algo que funcionasse, não existiriam olimpíadas, antigamente os recordes eram quebrados com diferenças pequenas, demoravam a serem quebrados, de uns tempos pra cá é só avaliar a “evolução” dos recordes pra perceber que todo atleta de ponta usa anabolizante e não é pouco não

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