Resenha: Distrito 9

Cuidado, essa resenha contém spoilers.

Bem, agora foi a minha vez de conseguir assistir Distrito 9 e dessa vez, eu vou encher vocês com spoilers devido a necessidade de se debater o aspecto social e político do filme.

Distrito 9

O filme, como bem resumiu nosso colega americano, Distrito 9 se passa na África do Sul, e é uma espécie de documentário, se analisarmos friamente, sobre a chegada de uma nave alienígena à Terra. Essa nave ficou pairando sobre a cidade por meses, sem contato, sem sinal de vida, nada. Os humanos, enxeridos como só nós somos, resolvem invadir o lugar e encontram uma raça de alienígenas totalmente desnutrida e abandonada a sua própria sorte.

Sem dar muitos detalhes dos porques, o filme vai mostrando o que vem ocorrendo nos últimos 20 anos (sim, ele se passa no futuro), enquanto todos os alienígenas eram “realocados” para um campo de ajuda humanitária chamado Distristo 9. Após ajudar, a humanidade não sabe o que faz com aqueles seres que parecem gafanhotos e sequer tem uma raça definida.

Ao contrário do que prega Hollywood, os extraterrestres não falam inglês com sotaque americano, não tem qualquer tipo de noção de moral como nós e simplesmente vivem para pilhar e arranjar confusão. Os humanos, desconfiados dos alienígenas, não os deixam voltar a sua nave, que, desde sua chegada, parece estar morta.

Realocação

Sob pressão popular, o governo da África do Sul e uma agência internacional chamada MNU, tentar realocar 1.8 milhões de alienígenas para um novo local, a 200 km de qualquer cidade. É aqui que eu deixo o resumo e começo a tentar analisar o intúito do filme.

Não estamos falando de um filme de ação aqui. A beleza deste filme é a narrativa com uma série de entrevistas com diversas pessoas, desde jornalistas a membros da MNU, inclusive nosso protagonista, que, ao sofrer um acidente, começa a se transmutar em um alienígena durante a retirada destes para o novo campo de concentração.

Há uma clara mensagem social aqui. Os alienígenas, por mais distantes que pareçam, querem voltar a seu lar, mas não tem essa ligação que nós humanos temos com as coisas. O que se vê é uma espécie que parecia ser controlado por alguma mente coletiva, que, com a chegada a Terra, parece simplesmente ter perdido essa ligação, prendendo-se a bobagens como procurar coisas no lixo. Ainda assim, existem os membros que começam a se relacionar com humanos, tanto fisicamente quanto economicamente, trocando armas por comida de gato, que parece ser viciante para eles.

District 9

O Regime do Apartheid que predominava na África do Sul é duramente criticado pelo filme, mas de uma forma indireta. Placas proibindo o uso de estabelecimentos por alienígenas, zonas de proibição de trânsito, protestos contra a presença deles no local, tudo invoca os anos de segregação racial. Só que dessa vez, brancos e negros se unem para querer a retirada dos alienígenas.

Não só esse regime e fato como também, a retirada dos judeus poloneses para os guetos de Varsóvia durante a 2ª Guerra Mundial, o expurgo e realocação de pessoas na região da antiga Iugoslávia, os massacres étnicos na fronteira entre Paquistão e India, a escravidão dos negros pelas Américas, escolha um lugar do mundo, e eu te falo um episódio recente envolvendo a exploração e segregação de uma raça ou etnia.

MNU

Ainda, se vê que os humanos, continuam sendo os vilões da história. As armas alienígenas só funcionam com eles. Nenhum humano consegue disparar elas, o que as torna inúteis para nossos fins bélicos. Porém, quando um homem começa a se transmutar em um alienígena, a primeira coisa que os membros da MNU fazem é tentar fazer ele disparar uma arma, o que dá certo. Próximo passo? Dissecação para poder criar novos seres que possam empunhar as armas e formar um exército imbatível com a tecnologia alienígena.

A mensagem que se passa é a mesma que já vimos em diversos outros filmes, mas que tratavam de segregação racial. Somos podres, egoístas e mesquinhos. Queremos ajudar com uma mão enquanto com a outra nós colocamos a lupa e investigamos se tem algo naquela pessoa ou ser que possa nos beneficiar economicamente.

O filme, como uma narrativa é bom, contém seus erros e talvez o pior deles seja dar uma atenção demasiada ao ponto de vista humano, caindo no erro de proteger aquele alienígena bonzinho que em verdade, analisando-se como foi explicado pelo filme, não tem a mesma noção de moral que nós. Seu interesse era proteger o filho e não a raça como um todo. Haverá uma continuação, com certeza, muitos nós ficam desatados e prometem ser explicados no futuro. Como temos Peter Jackson na produção, eu não duvido que já esteja até rolando uma pré produção da sequência.

As imagens são muito bonitas, porém, como eu disse, é basicamente um documentário filmado com câmeras portáteis, o que as vezes implica em ângulos comuns, que lembram um pouco o estilo de filmagem de Cloverfield, que tinha esse mesmo enfoque.

Como crítica social, esse filme é muito bom, porém, não vi nada que me fizesse dizer que é um dos melhores filmes do ano. Vale a pena conferir quando ele estrear nas salas de cinema do Brasil, porém, não vá pensando que você verá um filme ao melhor estilo Hollywood porque vocês não verão isso não!

J.R. Dib

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