Mais furiosos do que velozes, corredores executam sua última missão no Rio de Janeiro
Quando eu era guri, um grande desejo meu e de boa parte da molecada da minha idade era ver em um filme, um embate entre Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, algo como Superman VS Batman, Alien VS Predador, Exterminador do Futuro VS Robocop. As especulações, e até leves apostas circulavam pelo pátio da escola na hora da merenda. Quem venceria a peleja? Schwarzenegger, claro, mais alto, mais musculoso, e o cara era o Conan, defendiam uns. Mas Stallone, mais ágil ao desferir e se desviar de golpes, como visto na série Rocky, também tinha um arsenal de armas bem mais impressionante, pelo que foi visto na série Rambo, assim acabaria com o austríaco facilmente era o que garantiam outros. Eu até tinha uma espécie de roteiro em minha cabeça: os dois começariam como inimigos, e depois, a uma certa altura da trama, em vista de um objetivo maior, passariam a cooperar. Meu sonho de garoto se concretizou em um décimo no ano passado na participação especial de um minuto de Schwarzenegger em Os Mercenários, o de certa forma injustiçado filme de ação à moda antiga pilotado pelo hoje já sexagenário Stallone, que também atuou como protagonista. Após uma dez anos negros para o gênero ação de brutamontes, já que nos anos 90 reinaram os kickboxers no início da década e a ação estilizada de John Woo e Matrix no final, surgiram dois caras que poderiam muito bem ser os herdeiros diretos de Arnie e Sly, já que ambos se encontravam com uma idade um tanto avançada: os escolhidos eram o californiano Dwayne “The Rock” Johnson, lutador de telecacth revelado nos cinemas em O Retorno da Múmia no papel do vilão Escorpião Rei (que depois ganhou um filme solo, mas como herói) e o nova iorquino Mark Sinclair Vincent ou Vin Diesel revelado como herói de ação em Triplo X. No caso dos dois novos brucutus do cinema de ação o embate aconteceu mais ou menos como no roteiro que eu imaginara para Stallone e Schwarzenegger, mas deixou muito a desejar. Velozes e Furiosos 5- Operação Rio (Fast Five, E.U.A 2011) promete um confronto épico entre os dois gigantes, mas fica apenas na promessa.
Na trama dirigida pelo mesmo Justin Li de Velozes e Furiosos- Desafio em Tóquio e Velozes e Furiosos 4, depois que Brian O’ Conner (Paul Walker) e Mia Toretto (Jordana Brewster) tiram Dom Toretto (Diesel) da custódia policial, o trio precisa driblar todo e qualquer tipo de autoridade e vão parar no longínquo paraíso tropical na América do sul, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Aqui terão se encontrar com Vince (Matt Shculze), que agora vive “em paz” em uma favela carioca, para reunirem um time formado por participantes de filmes anteriores como Roman (Tyreese Gibson), Tej (Ludacris), Leo (Tego Calderon) e Han (Sung Kang) para executarem uma última missão (será?) e conquistarem a liberdade. Mas no caminho há Reis (Reyes no original, será que eles ainda acham que falamos espanhol?), empresário corrupto que os quer mortos vivido pelo ator português Joaquim de Almeida (o Sherlock Holmes de O Xangô de Baker Street). A outra pedra no caminho de Dom e sua gangue é o agente federal Luke Hobbs (Johnson) que não descansará enquanto não colocar as mãos em Dom.
Esse quinto filme poderia se chamar -velozes +furiosos, pois as cenas de pegas entre carrões tunados estão praticamente ausentes, o que se vê são muitas perseguições de carros , tiros, bordoadas, ação incessante, e claro, explosões e muita, mas muita inverossimilhança. O embate entre Vin Diesel e The Rock que prometia ser a luta do século se mostra burocrático, previsível embalado em um cipoal de clichês, isso sem falar nas limitações dramáticas de ambos. Óbvio, não estamos aqui para exigir uma atuação shakespeariana em um filme de entretenimento, mas com mais de dez anos atuando e ganhando uma fortuna, será que não daria para os dois melhorarem o mínimo para se tornarem razoáveis? O resto do elenco também não ajuda muito, Paul Walker segue a receita de bolo, Jordana Brewster faz o mesmo papel de enfeite de antes e tem pouquíssima relevância na trama, Ludacris e Tego Calderón fazem as vezes de alivio cômico, mas sem muita inspiração. Quem se sai melhor é Joaquim de Almeida, que está no tom certo e surpreende falando um português brasileiro bem convincente.
Exceto quem esteve em Marte nos últimos dois meses ou não prestou atenção no subtítulo em português, todos sabem que a produção foi filmada no Rio , mas apenas parcialmente. As cenas na favela, os stock shots e algumas tomadas aéreas realmente foram feitas aqui, mas cenas de estúdio e algumas seqüencias externas como clímax, foram feitas em locações como Porto Rico e até no Arizona, porém houve todo um cuidado da produção em usar nessas cenas detalhes que disfarçassem a locação, como placas escritas em português e lixeiras da prefeitura do Rio. Não, não há sequer citação a Carnaval nem a prostituição, tampouco vemos todas as mulheres de topless na praia como em O Feitiço do Rio, porém há menção à corrupção policial, e àquela idéia de que as coisas aqui procedem como em uma terra de ninguém. Há uma seqüencia em que Hobbs e sua tropa encontram Dom que lhes diz aqui não é a América, é o Brasil e uma multidão aponta armas em direção aos agentes. Pegou mal. A animação Rio de Carlos Saldanha, até por ser dirigida por um brasileiro, tratou a cidade com muito mais carinho, apesar de um estereótipo aqui e lá. Mas se comparado a outros filmes gringos que se passavam ou tinham seqüencias aqui, esse até que não foi dos mais absurdos.
Em suma, esse quinto filme da série mostra que a franquia já está deveras desgastada, tudo nele é repetição e reedição. Deixará decepcionado quem esperava um encontro mais digno entre Diesel e The Rock, também decepcionará os amantes das corridas clandestinas de carros estilizados que deram fama à franquia. Possivelmente agradará aos fãs da série e de Vin Diesel, além dos adeptos incondicionais do gênero ação, e a união desses dois grupos gerou um publico bastante expressivo no fim de semana de estréia nos E.U.A., com mais de 40 milhões na conta, já é a maior abertura do ano até então. Agora uma pergunta que não me deixa quieto: a que horas aquele trem passa na central?
[xrr rating=2/5]
boa resenha. haha, tambem fiquei me perguntando que trem era aquele que estava supostamente no rio mas passava pelo deserto? ha!
faltou falar do portugues espanholado dos atores, especialmente daquele tal de zizi, o ajudante de reis. nunca tenho muita esperança para filmes assim, mas como voce disse, ja teve piores..