Nos últimos anos, cresceu consideravelmente o número de comédias lançadas no Cinema Brasileiro, assim como suas bilheterias aumentaram de maneira exemplar. O mesmo fenômeno ocorreu com os filmes em 3-D, que cada vez mais atraem público para ter um tipo de experiência diferente diante da telona. Então, nada mais natural de que surgisse um projeto que unisse esses dois mundos, com o intuito de arrecadar bem na bilheteria com os admiradores destas produções. É uma pena que, mesmo com toda essa boa intenção, o resultado final de “Se Puder…Dirija!” seja, no mínimo, decepcionante.
O filme conta a história de João (Luiz Fernando Guimarães), um manobrista que tenta, mas não consegue, participar mais da vida do filho Quinho (o estreante Gabriel Palhares). Um dia, ele promete à Ana (Lavínia Vlasak), ex-mulher e mãe do garoto, que vai ficar o dia inteiro com o garoto e participará de uma gincana dos pais. Só que ele se esquece que teria que trabalhar na data do evento e, apoiado pelo amigo Edinelson (Leandro Hassum), decide pegar emprestado o carro da médica Márcia (Bárbara Paz), que está no estacionamento, para buscar o menino e levar o seu cachorro, Moleque, ao veterinário. Obviamente, as coisas não saem como o planejado e João acaba se envolvendo com bandidos, um ciclista atropelado (Reynaldo Gianecchini) e um guarda de trânsito enrolado com a gravidez da mulher (Eri Johnson).
O principal problema de “Se Puder…Dirija!” está na sua completa falta de graça. As situações do roteiro escrito pelo diretor Paulo Fontenelle são totalmente clichês e não conseguem fazer rir de maneira alguma. A única sequência que gera um sorriso amarelo no espectador é aquela em que há um jogo de palavras envolvendo Quinho, o cachorro Moleque e os assaltantes. O resto é, infelizmente, muito ruim e sem timing de comédia. Além disso, a direção de Paulo Fontenelle desperdiça o talento de bons atores como Luiz Fernando Guimarães (que não acerta nada desde o tempo de “Os Normais”), Leandro Hassum, Bárbara Paz e Antonio Pedro, que interpreta o chefe de João e Edinelson. Já Reynaldo Gianecchini e Lavínia Vlasak não têm muito o que fazer com seus personagens fracos. Quanto a Eri Johnson, o seu papel só evidencia que o ator é mesmo muito limitado.
Mas, para muitas pessoas, o que realmente importa é saber a resposta desta pergunta: “O 3-D é bom?”. Sim e não. Para a primeira experiência com esse formato no Brasil, o resultado é até satisfatório, mas não espetacular, em algumas sequências do filme. Mas ainda há muito a ser feito, pois em alguns momentos é possível notar distorções na imagem. Um exemplo disso é numa cena com João e Quinho, onde dá para notar que o menino parece muito menor do que o pai, o que causa uma certa desproporção. Na mesma imagem, parece que Luiz Fernando Guimarães está num plano diferente, como se estivesse num estúdio e não no mesmo lugar (no caso, a recepção de um hospital) onde estava o garoto.
Um outro elemento que causa irritação é o excesso de carros da Renault no filme. É claro que, como a montadora foi uma das produtoras, foram encontradas alternativas para que os veículos da empresa aparecessem na trama. O problema é que as soluções empregadas são, no mínimo, questionáveis. Qual seria a intenção de mostrar uma sequência de carros manobrados e estacionados com closes nos símbolos da Renault? Propaganda subliminar? Isso é muito estranho para uma comédia ‘familiar’.
Além disso, quem conhece o Rio de Janeiro, vai se dar conta dos muitos erros de logística e geográficos apresentados em “Se Puder… Dirija!”, o que torna o filme ainda mais irritante. Então, se puder, das duas, uma: ou dirija em direção a outro cinema ou guarde seu dinheiro para assistir a algo melhor.