“Shazam! Fúria dos Deuses” continua apostando na diversão de pouco tutano

“Muito riso e pouco siso”, com diziam os mais velhos. Isso é exatamente o que define “Shazam! Fúria dos Deuses”. Ou seja, nada mudou em relação ao seu antecessor, de 2019. Prestes a sofrer um reboot (mas ainda mantendo vários arcos, vai entender…) a DC parece ter tido um trabalho extra na edição e pós-produção para evitar conflitos com o que vem por aí, já que Shazam é fruto da fase comandada por Walter Hamada, que deixa o cargo de chefe para dar lugar a James Gunn. Contudo não há mudança de tom em “Fúria dos Deuses”, apenas a habitual ambição aumentada, típica das continuações. O famigerado “maior, mais intenso e mais barulhento” (não necessariamente melhor).

O filme continua a história do adolescente Billy Batson que, ao recitar a palavra mágica “SHAZAM!” é transformado em seu alter ego de super-herói adulto, porém com cabeça de adolescente. Agora ele precisa proteger o mundo da ameaça das filhas do deus Atlas, que chegam à Terra reivindicando o poder dos deuses.

Shazam procura não mexer naquilo que funcionou no filme anterior. Daí, o roteiro privilegia a química entre os garotos, com aquele clima de Goonies (inclusive vemos Billy Batson usando uma camisa do clássico oitentista). E agora suas versões superpoderosas vistas no final do longa de 2019, já devidamente entrosadas, rendem bons momentos. Contudo, vemos pouco de Batson, que passa praticamente todo o tempo na forma de Shazam.

As vilãs podem ser consideradas o ponto fraco. Presa a clichés, Lucy Liu não tem como abrilhantar muito sua Calipso. Helen Mirren tenta imprimir sua imponência do teatro britânico a Héspera, e até consegue em alguns momentos. Em outros parece estar um tanto desconfortável. Já Zachary Levi continua se divertindo na gaiatice do personagem-título e nesse segundo longa ganha ainda mais espaço para gags. O ator confirma que foi a melhor escolha para o papel, uma vez que essa adaptação tem a versão Novos 52 do herói, onde a galhofa dá o tom.

O diretor David F. Sandberg mantém a linguagem pop com muito apelo ao público mais jovem praticamente reproduzindo páginas dos quadrinhos na tela. Agora com alguns momentos um pouco mais sombrios por conta da trama mais ambiciosa. Todavia, é uma direção apenas a serviço da história, com parcos arroubos de autoralidade.

O roteiro de Harry Gayden (que também assinou o anterior) e Chris Morgan é recheado de piadas no melhor estilo quinta-série, mas que dessa vez funcionam em uma proporção menor. A dupla lança mão de referências à cultura pop, sobretudo propriedades da Warner, mas, apesar de dar um tempero agradável, não traz brilhantismo. Há em determinado momento um belo aceno aos fãs mais antigos que estampará um largo sorriso nos nerds old school.

“Shazam! Fúria dos Deuses” é a diversão sessão da tarde que pode cair muito bem para quem está na ressaca dos filmes de Oscar. Aqueles que apoiam a ideia de desligar o cérebro por duas horas na sala escura têm aqui um programa sem risco. Como a responsabilidade de encerrar a atual era da DC no cinema ficou mesmo com “The Flash”, até desse peso da cobrança dos fãs desse universo cinematográfico Shazam se livrou. Não é melhor que seu antecessor e nem fica tão aquém. A despretensão pode sim ser uma estratégia bastante esperta.

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