“Sobrenatural: A Origem” cria ótimos sustos e consegue prender a atenção

No cinema atual, está cada vez mais difícil realizar filmes de terror minimamente competentes. Mesmo com uma tecnologia melhor e recursos que não existiam há mais de 30 anos atrás, este tipo de produção costuma falhar, nos últimos anos, em se tornar memorável tanto para a crítica quanto para o público.

Uma rara exceção está no trabalho realizado por James Wan, que conseguiu dar um novo fôlego a esse gênero. Primeiro, com “Jogos Mortais”, que gerou tantas continuações que o conceito original acabou se perdendo e virou quase um “torture porn” nas últimas partes. Depois, veio o surpreendente “Sobrenatural”, que custou pouco e rendeu muito, a ponto de obter o sinal verde para mais uma sequência, que foi lançada em 2010 e também foi um sucesso, tanto que o terceiro capítulo foi logo aprovado pelo estúdio.

Mas o roteirista Leigh Whannell, que também escreveu “Jogos Mortais” e atuou nos dois primeiros filmes da nova franquia como o caçador de fantasmas Specs não quis continuar a história, mas sim contar o que aconteceu antes do primeiro episódio e resolveu também assumir a direção no lugar de Wan (que se tornou o novo queridinho de Hollywood, com “Invocação do Mal” e, principalmente, “Velozes e Furiosos 7”), envolvido em outros projetos como dirigir a primeira aventura de Aquaman nos cinemas.

Assim, chega aos cinemas “Sobrenatural: A Origem” (“Insidious: Chapter 3”), que cumpre muito bem o papel de aterrorizar o espectador com muitos sustos, um bom suspense e a trama interessante, que não subestima a inteligência dos fãs de terror.

Ambientada anos antes dos acontecimentos dos dois primeiros filmes, quando a família Lambert foi assombrada por espíritos malignos, a trama é centrada na adolescente Quinn Brenner (Stefanie Scott), uma aspirante a atriz que deseja entrar em contato com a sua mãe, vítima de um câncer.

Ela resolve pedir ajuda a Elise Rainer (Lin Shaye), que após uma experiência traumática, não quer usar sua paranormalidade para entrar no mundo dos mortos. No entanto, Elise muda de ideia após Quinn sofrer um grave atropelamento e perceber que uma perigosa entidade, representada por um homem que não consegue respirar, parece estar disposto a possuir a garota e levar sua alma, causando diversos fenômenos terríveis e inexplicáveis que podem custar a vida da jovem.

Desesperado, o pai de Quinn, Sean (Dermot Mulroney), acaba contratando os serviços dos parapsicólogos amadores Tucker (Angus Sampson) e Specs (Leigh Whannell). Os dois se unem a Elise para tentar impedir dos planos do espírito maléfico e salvar Quinn, antes que seja tarde demais.

Em filmes de terror,  os melhores resultados são obtidos quando certos recursos são utilizados de maneira discreta, sem apelações. Felizmente, este é o caso de “Sobrenatural: A Origem”, que consegue manter o espectador preso na cadeira com sua ambientação soturna, melhor desenvolvida do que no segundo filme, utilizando bons recursos de iluminação, como na cena que mostra que a casa de Elise é bem iluminada em uma parte e bem escura em outra, onde ela realizou seus contatos com os mortos, dando uma carga dramática necessária para o sofrimento que ela tem por causa de seu dom. Além disso, o diretor estreante Leigh Whannell parece ter aprendido bem as lições do parceiro James Wan para criar (muitos) sustos aterrorizantes na hora certa, além de uma ótima cena de atropelamento.

O único porém é que alguns momentos emulam clássicos do gênero, como “O Exorcista” e “O Iluminado”, embora não cheguem a realmente incomodar. Os fãs da franquia também vai gostar das cenas que remetem aos dois primeiros filmes, explicando como surgiram alguns de seus elementos, como os fantasmas que Elise vai enfrentar no futuro ou como eram os caçadores de espíritos eram antigamente. Aliás, é bem divertido o visual que a dupla usa, que remete a figuras pop como Gasparzinho e até o He-Man. Um bom alívio cômico em meio a tanta tensão.

Outro problema está no roteiro, que não soube desenvolver alguns personagens, tornando-os totalmente dispensáveis, como o irmão mais novo de Quinn, Alex (Tate Berney), que entra e sai da trama sem que tenha nenhuma importância na trama, assim como Maggie (Hayley Kiyoko), a melhor amiga da protagonista, que é sacada da história sem nenhuma cerimônia.

No elenco, o destaque vai para a veterana Lin Shaye, que está bem mais interessante e crível como uma relutante Elise, que não tem certeza em alguns momentos da história se deve ou não combater as forças do mal. A praticamente desconhecida (pelo menos, no Brasil) Stefanie Scott também se sai muito bem como a vítima dos violentos ataques do misterioso espectro que atormenta sua vida e deve ficar mais conhecida nos próximos anos, se escolher os papéis certos. Já Dermot Mulroney continua canastrão, mas não chega a atrapalhar ou prejudicar o filme. Os outros atores estão corretos, mas nada marcantes.

Com um bom final, que não deixa claro se haverá um quarto capítulo, “Sobrenatural: A Origem” obtém um resultado acima do esperado, ainda mais por ser o terceiro filme de uma franquia de terror e, ainda assim, consegue apontar para um novo caminho, sem dar sinais de cansaço. Assim como os outros dois episódios, esse também fez bastante bilheteria nos Estados Unidos e deve voltar em breve aos cinemas. Resta saber o que seus realizadores têm em mente para criar novas maneiras de deixar o público com medo do escuro…

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