Stallone e De Niro mostram que ainda estão em forma em "Ajuste de Contas"

Quase no fim de “Rocky III”, o ex-campeão de boxe Apollo Creed (Carl Weathers) diz a seguinte frase para o Garanhão Italiano (Sylvester Stallone), antes de enfrentá-lo novamente no ringue: “É uma pena a gente ficar velho!”. Essa é uma espécie de verdade absoluta, especialmente no mundo do entretenimento, onde o que é novo e jovem hoje se torna obsoleto e ultrapassado amanhã. Por isso, é interessante notar que, em Hollywood, há uma nova leva de produções estreladas por astros veteranos, que mostram que ainda têm muita lenha para queimar, como a comédia “Última Viagem a Vegas” e os filmes da série “Os Mercenários”. Mas ninguém imaginou que veriam dois astros que viveram pugilistas e que se tornaram ícones na telona juntos trocando socos (e piadas) no muito divertido “Ajuste de Contas” (“Grudge Match”).

Na trama, Stallone vive Henry “Razor” Sharp, um pugilista de Pittsburgh que tinha uma grande rivalidade com Billy “The Kid” McDonnen (Robert De Niro) nos anos 70 e 80. Os dois se enfrentaram duas vezes, com uma vitória para cada um dos lutadores. Mas, às vésperas do combate decisivo, Sharp surpreende a todos ao anunciar sua precoce aposentadoria. Assim, ele acaba se tornando um operário (após ser roubado pelo empresário) e McDonnen resolve apostar em outros negócios, como dono de um restaurante e de uma loja de carros usados. Mas, 30 anos depois, o promotor de boxe Dante Slate Jr (Kevin Hart), filho do ex-empresário de Sharp, reencontra a dupla e propõe, após o sucesso em vídeos que os mostram brigando na internet, que eles finalmente façam a luta final, em troca de muito dinheiro. Paralelo a isso, Sharp acaba reencontrando Sally (Kim Basinger), o grande amor de sua vida, que se afastou dela após um traumático episódio do passado. Já Billy acaba se aproximando de seu filho ilegítimo B.J. (Jon Bernthal), que se torna seu treinador, e de seu neto.

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A simples ideia de unir Stallone e De Niro, que se consagraram como Rocky Balboa e Jake La Motta (de “Touro Indomável”) trocando socos dentro de um ringue e provocações fora dele era, no mínimo, atraente demais para quem cresceu vendo os dois se tornarem ídolos para uma legião de cinéfilos em todo o mundo com seus lutadores marcantes. Felizmente, o resultado final não decepciona, já que os atores (que já trabalharam juntos em outro ótimo filme, “Copland”) mostram que, mesmo com a idade avançada, ainda têm muita lenha para queimar.
Além disso, os dois possuem uma boa sintonia que gera boas risadas. Entre os coadjuvantes, o grande destaque é mesmo o também veterano Alan Arkin, que interpreta o treinador Louis ‘Lightning’ Coleman como uma mistura dos personagens Paulie e Mickey da série “Rocky”. Do primeiro, ele pega um pouco de seu mau humor, que o faz dizer frases irônicas e, ao mesmo tempo, divertidas. Do outro, ele utiliza seus métodos pouco ortodoxos para preparar Sharp para a luta, como fazê-lo puxar um caminhão com duas cordas. Já Kim Basinger mostra que continua uma bela mulher, mesmo com o passar do tempo, embora não tenha melhorado muito como atriz, já que não mostra muita paixão por Sharp, como por exemplo, Talia Shire convencia como Adrian, a esposa apaixonada por Rocky. Kevin Hart só faz caretas e, às vezes, acerta o tom de seu personagem. Mas como seu personagem é um típico estereótipo para ser engraçado, não tem muito o que fazer.

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O roteiro de Tim Kelleher e Rodney Rothman brinca com elementos que sempre surgem em filmes sobre o boxe, como o treinamento excessivo antes da luta, especialmente na cena em que o personagem de De Niro resolve fazer exercícios na frente dos seus clientes ou quando faz piada da famosa sequência em que Stallone soca pedaços de carne dentro de um frigorífico quando viveu Rocky Balboa pela primeira vez. Eles também acertam com sua crítica às lutas de MMA e leva o público às gargalhadas com a participação especial de Chael Donnen, mais conhecido por suas provocações do que por seu sucesso no octógono. O texto, no entanto,  peca por usar um recurso já visto numa das continuações de “Rocky” para justificar um segredo que o pugilista vivido por Stallone guarda por anos. Mas esse é um pequeno pecado que pode até ser perdoado pelo espectador.

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A direção de Peter Segal (de “Agente 86” e “Corra Que a Polícia Vem Aí 33 1/3”) é bem sucedida ao deixar os dois astros à vontade em suas cenas, sejam elas cômicas ou dramáticas. Além disso, ele realiza sequências bem divertidas com trucagens que misturam cenas de filmes da franquia “Rocky” com as do clássico de Martin Scorcesequando mostra Sharp e “Kid” na juventude (onde até aparece a filha de Kim Basinger, Ireland Basinger Baldwin, interpretando a mãe mais jovem). É uma pena, no entanto, que o cineasta não conseguiu realizar a luta final sem maior empolgação e resolve terminar do filme de maneira brusca. Mas, pelo menos, ele se redime com duas ótimas cenas pós-créditos. A melhor delas, inclusive, brinca com a rivalidade de dois ex-campeões de boxe famosos na vida real, que vai deixar todo mundo gargalhando por muito tempo mesmo com o fim da projeção.

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Enfim, “Ajuste de Contas” mostra que, se tanto Sylvester Stallone quanto Robert De Niro não têm vergonha de se divertir ao brincar com o mundo do boxe, por que não o espectador? Portanto, vá ao cinema sem maiores preocupações e deixe ser nocauteado por essa boa comédia, estrelada por esses grandes astros, que estão longe de mostrar algum sinal de cansaço.

 

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