Quando foi anunciado, em 2012, que a Disney havia comprado a Lucasfilm e que iria fazer novos filmes de “Star Wars”, muitos fãs torceram o nariz. Afinal, eles temiam que o estúdio do Mickey Mouse tornasse a saga criada por George Lucas mais infantil e se preocupassem mais em vender brinquedos e outras bugigangas do que em criar histórias que contribuíssem para engrandecer ainda mais uma das séries de filmes mais cultuada de todos dos tempos.
Felizmente, os temores se tornaram infundados, graças ao cuidado que a Disney teve para tratar a franquia, deixando seu novo filme longe das mãos de Lucas (cujas ideias foram, em parte, responsáveis pelo resultado muito abaixo do esperado na sua segunda trilogia), e confiando em pessoas que realmente conseguiriam obter algo que fosse bastante satisfatório.
Assim, “Star Wars: O Despertar da Força” (“Star Wars: The Force Awakens”) consegue colocar a saga de volta aos trilhos e deixa o espectador, seja ele fã ou não, feliz com o que está vendo na telona, não importa qual seja a sua idade.
A trama se passa anos depois da vitória dos rebeldes sobre o Império (vista em “O Retorno de Jedi”), que instauram uma nova República. Porém, um grupo chamado Primeira Ordem, surgido de remanescentes imperiais, deseja dominar a galáxia e destruir de vez a resistência. Mas, para isso, precisa localizar alguém importante para seus planos. Para encontrar essa pessoa, a Primeira Ordem vai até o distante planeta Jakku para obter um objeto que pode revelar o seu paradeiro.
A partir daí, as vidas da sucateira Rey (Daisy Ridley), do piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) e do ex-Stormtrooper Finn (John Boyega) se cruzam e começa a aventura, que conta também com a importante participação de figuras muito conhecidas do grande público, como Han Solo (Harrison Ford), seu parceiro Chewbacca (Peter Mayhew) e a General (não mais princesa) Leia (Carrie Fisher), além dos robôs C-3PO (Anthony Daniels), R2-D2 (Kenny Baker) e BB-8, o novato do grupo.
Juntos, eles tentam impedir que a Primeira Ordem, comandada pelo Líder Supremo Snoke (Andy Serkis) e seu pupilo Kylo Ren (Adam Driver), consiga levar à frente seu plano de dominação.
Um dos maiores acertos da Disney para “Star Wars: O Despertar da Força” foi a contratação de JJ Abrams para a direção do filme. O cineasta, que havia mostrado um trabalho acima da média em seu primeiro filme, “Missão: Impossível III”, e na releitura de outra série cultuada, “Star Trek”, sabe como poucos convencer e encantar o público nos últimos anos.
O cineasta, fã assumido da saga, decidiu (junto com a produtora Kathleen Kennedy) que faria muitas de suas cenas com cenários e objetos reais, ao contrário de George Lucas, que preferia fazer tudo com computação gráfica. Assim, o filme se torna mais “realista” e faz com que o espectador embarque na história de forma mais profunda.
Além disso, Abrams (ao lado do roteirista Lawrence Kasdan, que também co-escreveu “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”), se preocupa mais em desenvolver seus personagens, com seus problemas, falhas e conflitos, do que perder tempo com excesso de efeitos especiais (embora estes estejam sensacionais, talvez os melhores do ano).
O público é fisgado de vez pois as questões que humanizam Rey, Finn, Han, Leia, Kylo Ren e outros e criam uma identificação imediata, ao contrário dos Episódios I, II e III, cujos protagonistas eram tratados de forma fria e superficial. Isso não significa, no entanto, que o diretor se descuide da ação. Pelo contrário. Abrams conduz sequências empolgantes de batalhas envolvendo a lendária nave Millenium Falcon, as X-Wings da Resistência e os Tie Fighters da Primeira Ordem, além de duelos com sabres de luz bem eletrizantes.
Se há alguma coisa para falar mal de “Star Wars: O Despertar da Força” está na impressão de que diversos elementos do roteiro são muito semelhantes aos dos filmes da primeira trilogia, especialmente de “Uma Nova Esperança” e “O Retorno de Jedi”.
Quem é fã, vai identificar logo de cara que não houve uma preocupação maior de trazer novos caminhos para algumas situações, que mais parecem ter sido recicladas e colocadas no filme para agradar a todos, especialmente quem não é muito familiar com esse universo. Mesmo assim, isso não estraga a diversão, só impede que a produção consiga ir além e ser melhor do que é. Talvez a originalidade venha nos próximos capítulos. Além disso, há um certo desperdício de alguns atores, como Gwendoline Christie, que pouco tem a fazer como a Capitã Phasma. Possivelmente, ela deve ser melhor aproveitada no futuro.
Quanto ao resto do elenco, Abrams também foi bastante feliz. A britânica Daisy Ridley tinha a difícil missão de encarar a protagonista desta nova trilogia e o faz com grande talento e carisma. Ela dá credibilidade à heroína, que não faz o estilo donzela, e faz o público realmente torcer por ela. John Boyega não fica atrás e torna Finn um personagem bem interessante, como um soldado que percebe estar lutando pela causa errada e tem a chance de fazer a coisa certa.
Adam Driver também está ótimo como o vilão Kylo Ren, que foi seduzido pelo Lado Sombrio da Força, e vive obcecado pela importância de Darth Vader no passado, o que o torna alguém mais tridimensional. Ele também se sai bem ao mostrar uma relação meio conflituosa com Domnhaall Gleesson, que vive o General Hux, um dos novos comandantes dos Stormtroopers. Oscar Isaac está bem como Poe Dameron, mas talvez tenha mais destaque nos próximos filmes.
Já entre os veteranos, não tem como não ficar feliz ao rever Harrison Ford, Carrie Fisher, Peter Mayhew e Anthony Daniels nos papéis que os tornaram famosos mundialmente. Ford, obviamente, tem muito mais tempo de cena e continua mandando bem como Han Solo, embora em alguns momentos ele escorregue um pouco na canastrice. As cenas dele com Fisher são muito boas e chegam a emocionar, especialmente num ponto mais dramático da história. Já os outros fazem o que se espera deles, sem grandes mudanças ou surpresas, mas ainda assim bastante eficientes.
Mas você já deve estar se perguntando: E quanto a Mark Hamill (Luke Skywalker)? Vá ao cinema e descubra!
Com um desfecho sensacional, amparado pela incrível trilha sonora do mestre John Williams, “Star Wars: O Despertar da Força” começa muito bem essa nova trilogia e dá vontade de ver logo os novos filmes, assim que as luzes da sala de projeção se acendem.
A estratégia da Disney de não revelar muitos detalhes da produção durante todo o ano de 2015 foi bastante feliz, pois fez com que o grande público se surpreendesse e se envolvesse mais do que outros blockbusters lançados no ano. Por isso, vá ao cinema e assista ao filme e, depois, aguarde até 2017 (se nada der errado, é claro) para ver “Star Wars: Episódio VIII” (título provisório). E que a Força esteja com todos vocês!!!