Superman inaugura com acerto a nova DC no cinema

“Superman” não é um filme de origem do primeiro super-herói da História. Na verdade, quando a trama se inicia ele já está por aqui há um certo tempo atuando entre outros meta-humanos, como são conhecidos os superpoderosos aqui na Terra, de acordo com o novo universo estabelecido por James Gunn, baseado diretamente nas histórias da…


“Superman” não é um filme de origem do primeiro super-herói da História. Na verdade, quando a trama se inicia ele já está por aqui há um certo tempo atuando entre outros meta-humanos, como são conhecidos os superpoderosos aqui na Terra, de acordo com o novo universo estabelecido por James Gunn, baseado diretamente nas histórias da DC. Mas ainda assim, apresenta a origem de uma nova DC no cinema (o DCU, enquanto a fase anterior era chamada de DCEU), e usa o filho de Krypton como cicerone. Afinal, a história de Kal-El é extremamente conhecida. Mas era necessário trabalhar bem a ambientação que nos acompanhará pelos próximos dez anos, trabalhando para dialogar com os fãs antigos, e a nova geração.

Mais do que um super-herói com poderes quase divinos, Superman tem sido, nos últimos anos, cada vez mais um reflexo das esperanças e dilemas da humanidade. Essa nova versão do Homem de Aço e construída com o propósito não apenas de enfrentar vilões, mas de reencontrar seu lugar em um mundo que já não enxerga com tanta clareza os ideais de verdade, justiça e bondade.

O novo Clark Kent carrega em si o eterno conflito entre dois mundos: a herança de um planeta destruído, Krypton, e os valores humanos que aprendeu ainda criança na pacata Smallville, no Kansas. Esta dualidade serve como pano de fundo para uma jornada íntima e grandiosa, onde Superman precisará provar que princípios atemporais ainda têm relevância em uma era marcada pelo cinismo e pela desconfiança.

E é justamente se valendo desse dilema enfrentado pelo herói que Gunn inicia seu reboot do universo DC. Aqui, super-heróis não são vistos com assombro, como nas adaptações anteriores. Já fazem parte do cotidiano. E o Super não é o único superpoderoso nesse mundo. Para os leitores de quadrinhos, é possível identificar as histórias da chamada Era de Prata como inspiração clara, assim como obras mais novas como Grandes Astros: Superman e As Quatro Estações. O diretor imprime um colorido que remete imediatamente às páginas dessas publicações.

Gunn trocou a Marvel pela DC, mas não se desfez de seus maneirismos. Assim como em “O Esquadrão Suicida” – filme que dirigiu para sua atual casa, quando a Disney o manteve afastado por conta de tweets polêmicos de um passado remoto, mas que causou preocupação à imagem do estúdio -, estão presentes o humor galhofeiro, sobretudo carregado nos personagens secundários, uma vez que o protagonista é solene demais. Mesmo assim, ele carrega uma leveza que não causa estranheza que esteja inserido naquele contexto. É sabido que o cineasta gosta de trabalhar com equipe, e, de fato, o herói não está só, já que há Mulher-Gavião (Isabela Merced), Sr. Incrível (Edi Gathegi)e o Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion), e, claro, Krypto. O cão kryptoniano em CGI foi feito sob medida para cumprir o papel de elemento fofo e arrancar algumas risadas.

Podemos dizer que essa é a transposição do azulão para o cinema com mais literalmente adapta os quadrinhos para a telona. Se nos filmes anteriores o Superman era um elemento fantástico em um mundo real, neste ele é mais um elemento fantástico (ok, o maior de todos, mas ainda assim, mais um) em um panorama onírico – mas que toca em temas pertinentes da nossa realidade como papel da mídia, das redes sociais e até conflitos no Oriente Médio onde os Estados Unidos se envolvem de forma questionável. Ali, se um kaiju resolve atacar a cidade em uma manhã, é apenas uma terça-feira qualquer. Todavia, na preocupação de apresentar de forma tangível os elementos principais do mundo que criou, Gunn, que também assina o roteiro, acaba pecando pelo excesso de informação, com alguns personagens que não eram necessários para o andamento da trama. Estão ali apenas para que o público os conheça e já esteja familiarizado quando retornarem nas produções seguintes.

O maior trunfo está na química entre David Corenswet, tanto como Superman quanto Clark Kent, com Rachel Brosnahan, a melhor Lois Lane desde Margot Kidder. A cumplicidade dos dois entre si e com o diretor rendeu ótimas cenas, como a que ela o entrevista (vista no trailer). Pena que, com tantos personagens para apresentar, ela acabou ficando com menos tempo de tela do que merecia. Já o Lex Luthor de Nicholas Hoult é outro acerto. Embora um tanto histérico em alguns momentos, possui revestimento de vilão clássico e esse script dá vazão à sua versão gênio, algo que era apenas pincelado em outras encarnações, mesmo a magistralmente interpretada por Gene Hackman em 1978.

“Superman” peca pelo excesso muitas vezes como várias histórias dos quadrinhos regulares. isso pode incomodar alguns, mas os leitores assíduos irão se deleitar (há até easter egg de estabelecimentos comerciais das HQs). Não cabe comparações com o clássico de Richard Donner, estrelado por Christopher Reeve. A proposta aqui é se distanciar dele, sem deixar de homenageá-lo, seja com a trilha sonora de John Murphy, com sugestões ao tema de John WIlliams, do qual não há como dissociar o personagem, seja com a presença de Eve Teschmacher (a portuguesa Sara Sampaio, ótima), personagem criada para o filme de 1978. Em clima de matinê, reafirmação dos princípios do herói e respeito pelo material que serve de base, é um belo início do novo universo compartilhado da DC.

Superman

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8 10 0 1
Nota: 8/10 – Excelente
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Uma resposta para “Superman inaugura com acerto a nova DC no cinema”

  1. Avatar de Renato Arnaldo
    Renato Arnaldo

    Muito bom

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