Lançado em 2012, “Ted” surpreendeu muita gente (inclusive este que vos escreve) com sua inusitada e divertida trama, onde um ursinho de pelúcia ganha vida após o pedido de seu dono e que gosta mesmo é de se divertir com ele, com bebidas, drogas e pegar mulheres. O humor politicamente incorreto, que contrasta com a fofura de seu protagonista, garantiu ao filme um grande sucesso mundial. Logo, não demorou muito para que fizessem uma segunda parte.
É uma pena, no entanto, que “Ted 2” (Idem, 2015) não funcione tão bem quanto o primeiro capítulo, mesmo que as principais características do original também sejam encontradas nesta continuação. A verdade é que, desta vez, a história não empolga tanto e as piadas sejam bem mais sem graça, algo grave para uma comédia.
Quando a história começa, vemos Ted (novamente dublado por Seth MacFarlane) se casando com Tammi-Lynn (Jessica Barth), que conheceu no mercado onde trabalha desde o primeiro filme, numa cerimônia celebrada pelo ator Sam J. Jones (o Flash Gordon em pessoa!). Enquanto ele comemora o seu matrimônio, seu melhor amigo John Bennett (Mark Walhberg) ainda está curtindo a fossa pelo fim de seu casamento com Lori (Mila Kunis) e o ursinho tenta levantar o seu astral. Mas não demora para que a felicidade do novo casal acabe e, desesperado, Ted resolve ouvir o conselho de uma colega e tente ter um filho.
Como não pode gerar um, resolve procurar um doador de esperma (numa sequência realmente engraçada envolvendo John e o astro de futebol americano Tom Brady, esposo de Gisele Bündchen). Mas as coisas ficam ainda mais complicadas quando ele descobre que, legalmente, ele não é uma pessoa, mas sim uma propriedade, sendo então incapacitado de formar uma família. Ted e John decidem procurar uma ajuda legal e é quando conhecem a jovem advogada Samantha Louise Jackson (Amanda Seyfried), que se interessa pela causa. Só que Donny (Giovanni Ribisi), o obcecado colecionador do filme anterior, tem um plano para capturar o brinquedo de volta e conta com a ajuda de um executivo da Hasbro, interpretado por John Carroll Lynch.
Para os fãs de cultura pop, “Ted 2” supera o filme original em termos de referências a outros filmes, quadrinhos e séries de TV. Desde o sobrenome que Ted passa a adotar para que seu caso seja julgado, passando por piadas relacionadas ao nome de Samantha e sua aparência, cenas que lembram clássicos dos anos 80, como “Clube dos Cinco”, e culminando no clímax dentro da Comic-Con de Nova York, a produção até consegue fazer rir como no filme anterior. As passagens controversas envolvendo drogas, palavrões e alguma baixaria também chegam a divertir.
O principal problema é que há pouca coisa que realmente vale a pena nesta continuação. Seth MacFarlane, o Ted em pessoa, parece ter perdido a mão para a direção e não consegue fazer algumas cenas renderem o quanto poderiam, dando aquela sensação de sorriso amarelo que podem até culminar num certo tédio. Um bom exemplo disso é a participação especial de Liam Neeson, como um cliente do mercado onde o ursinho trabalha, que deveria satirizar seu personagem de “Busca Implacável”, mas o resultado final é questionável.
Além disso, seu roteiro (co-escrito por Alec Sulkin e Wellesley Wild) não consegue tornar a saga de Ted para ser reconhecido como pessoa mais interessante, o que gera alguns momentos realmente arrastados e desnecessários, especialmente quando o filme passa a ser um road movie, quando os três protagonistas pegam a estrada para conseguir apoio à sua causa, o que rende algumas cenas que, se fossem retiradas, não fariam a menor falta, como a brincadeira que fazem com o primeiro “Jurassic Park” (apenas OK) e um número musical (!) que ironiza os filmes da Disney e serve apenas para mostrar que Amanda Seyfried melhorou como cantora, em relação a “Os Miseráveis”. Além disso, algumas “gags” que deveriam ser divertidas só dão aquele pensamento de “Sim, e daí?”. É muito pouco em relação ao que MacFarlane tinha feito anteriormente.
Se Mark Walhberg surpreendeu positivamente no primeiro filme como ator e estava realmente divertido, aqui ele parece estar inexplicavelmente desconfortável, como se não acreditasse mais no seu trabalho como o melhor amigo do ursinho desbocado.
Amanda Seyfried, embora seja carismática, não teve a química necessária com Walhberg para cativar o público como casal, o que não aconteceu com Mila Kunis em 2012. O bom Giovannni Ribisi não faz nada de diferente que fez “Ted”, já que seu vilão unidimensional e mal escrito não dá material para que ele possa realizar algo melhor. A bela Jessica Barth se limita a agir como uma loira burra bem clichê e a repetir “Eu te amo” para Ted várias vezes.
Mas o pior é o desperdício de Morgan Freeman como um advogado veterano que pode (ou não) ajudar o urso a ganhar sua causa. O papel dele é tão irrelevante que poderia ter sido feito por qualquer outro ator pois não há nenhuma cena que faça notar a sua presença no filme.
No fim das contas, “Ted 2” entra para o grupo de continuações que não tinham nenhum motivo real para serem feitas (a não ser para gerar mais dinheiro). Mas pode ser que alguém até dê gargalhadas no cinema por causa de algumas poucas piadas realmente inspiradas e anárquicas do filme. Ainda que esteja ainda com uma computação gráfica melhor do que a do filme anterior (a sequência de abertura deixa isso bem claro), faltou a MacFarlane ser mais inventivo e surpreendente com seu brinquedo favorito, como foi há três anos atrás.
P.S. Há uma cena extra após o fim dos créditos.
Que pena. Comédias não costumam render boas continuações