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Tempestade: Planeta em Fúria carece de excelência para ser épico e de charme para ser B

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Um dos (muitos) equívocos de “Tempestade: Planeta em Fúria” (Geostorm, EUA/2017) reside em seu título nacional. Vende o longa como um filme-catástrofe em que a natureza é o grande algoz da humanidade. Na verdade, trata-se de uma trama de intriga do alto escalão da Casa Branca ligado ao setor aeroespacial. Que, claro, desencadeia uma iminente ameaça ao planeta.

Quando uma mudança climática sobrevém, trazendo o mais catastrófico dos prognósticos, os governos mundiais se unem e criam o Programa Dutch Boy, uma rede mundial de satélites, em torno da Terra que estão armados com tecnologias de geoengenharia, destinadas a prevenir grandes desastres naturais. Depois de proteger, com sucesso, o planeta por dois anos, algo parece dar errado no satélite. O criador do projeto é encarregado de resolver o mau funcionamento para evitar uma tempestade em escala global.

O número de vezes em que vimos a Terra sendo destruída, ou ameaçada de destruição no cinema é incontável. Isso está relacionado com essa atração atávica que as plateias possuem pela ideia do fim do mundo. O produtor Dean Devlin sabe disso muito bem e capitalizou em cima de longas apocalípticos como Independence Day e Godzilla. Sua estreia na cadeira de diretor de cinema não poderia ser diferente.

O roteiro assinado por ele e pelo estreante no cinema Paul Guyot não se difere muito dos que ele assinou com seu parceiro de destruição Rolland Emmerich. Muitos clichês, reviravoltas previsíveis, frases de efeito. O patriotismo hoje pega muito mal. Sobretudo em tempos de Donald Trump na Casa Branca. Tanto que fica bem claro que o projeto de defesa em questão é internacional. Na estação espacial estão estampadas várias bandeiras, inclusive do Brasil.

As cenas de destruição não se concentram em solo americano. O milagre do CGI permite que a catástrofe se espalhe pelo globo com mais facilidade, o que era bem trabalhoso há 20 anos. E as vítimas fora dos EUA são todos países emergentes. China, Rússia, India…e nós. Sim, uma praia do Rio de Janeiro está lá como cenário de desastre. Com direito a moças com biquínis gigantes e rapazes com pinta de caribenhos. Por falar em desastre, os efeitos especiais são muito pouco críveis. O resultado fica bem próximo do risível.

O elenco é encabeçado por Gerard Butler (aquele cara “humilde”, “simpático” e “cavalheiro”), no papel de Jake Lawson, criador do Dutch Boy. Brigado com irmão Max (Jim Sturgess) e pai da adolescente Hannah (Talitha Bateman), faz o tipo durão, difícil, mas fundamental para salvar o mundo. Com a habitual canastrice do ator. Pagando as contas do haras e da casa de campo estão Andy Garcia no papel do presidente Andrew Palma e Ed Harris como o Secretário de Estado Leonard Dekkom.

As filmagens principais de “Tempestade” começaram em outubro de 2014. Como foi mal avaliado em exibições teste, passou por refilmagens em dezembro de 2016 sob a batuta do produtor executivo Jerry Bruckheimer, escritor Laeta Kalogridis e diretor Danny Cannon. O filme é a primeira coprodução entre o Skydance Media e a Warner Bros. Pictures.

“Tempestade: Planeta em Fúria” se situa naquele perigoso limbo entre a pretensão de ser um épico e o despojamento de um filme B com pedigree. Falta excelência para a primeira opção e charme e ousadia para a segunda. No fim não diz a que veio e entrega apenas um passatempo vazio, esquecível e erra até sob o ponto de vista comercial. Só com muita ingenuidade para acreditar que algo tão genérico pode gerar rios de dinheiro.

Filme: Tempestade: Planeta em Fúria
Direção: Dean Devlin
Elenco: Gerard Butler, Jim Sturgess, Abie Cornish
Gênero: Ficção Científica
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Warner Bros
Duração: 1h 49min
Classificação: 12 anos

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