Como filmes baseados em Hqs transformaram-se em gênero na lucrativa seara dos filmes hollywoodianos, nada mais justo que a evolução dramática disso se dê em mãos de cineastas que procurem um diálogo próprio com o universo retratado. Thor é a comprovação clara desse caminho, uma vez que a Marvel confiou no renomado diretor Kenneth Branagh (Henrique V, Hamlet) para transpor para o cinema toda força sólida da trama dos quadrinhos.
Kenneth é conhecido por sua inclinação à obra de Shakespeare, seja como diretor, ator e até roteirista e essa (digamos) lógica caiu diretamente na forma de Thor. O filme é shakespeareano do início ao fim: resvala pelo esteio de Rei Lear, constrói seu herói à base de Hamlet e ainda desencadeia sua narrativa sob a estratégia dramática de Othelo. E isso numa clara inadequação estética do diretor com a grandiloqüência de uma superprodução como essa.
Para os que, como eu, não têm a menor intimidade com o universo dos quadrinhos, a trama mostra o universo dos asgardianos, seres da mitologia nórdica, cujo príncipe Thor, um jovem imaturo e desmedido que acaba por desencadear uma nova batalha antagônica com os Gigantes do Gelo. Com isso, seu pai, o rei Odin (numa atuação até notável de Anthony Hopkins) o lança para a Terra para que aprenda a ser um homem digno das responsabilidades que sua dinastia carrega. Tudo sob o olhar atento e ressentido do irmão Loki (Tom Hiddleston, o grande destaque da “novela”).
Pois é, dentro desse verniz inglês que o diretor imprimiu, Thor convence bastante. O roteiro quando se firma em sua visão épica daquela fantasia, nós embarcamos de certa forma até encantados e envolvidos com aquela “intrigada” toda; mas quando a coisa resvala em uma mitologia rasa, o filme perde muito de sua força. Em determinados momentos, principalmente quando há a junção mitológica (mal engendrada no roteiro) com a realista a coisa parece ser parte de algum filme pastiche como Todo Mundo em Pânico.
Mas é inegável que é um vacilo perdoável… Thor é, no geral, acima da média e nem Chris Hemsworth, com todos os seus estufados músculos, e a sempre linda Rene Russo fazendo uma quase figuração, atrapalham. Ah, e vendo a tímida participação de Natalie Portman entendemos porque ela avisou que só aceitou fazer o filme para ter a chance de trabalhar com Branagh…
Agora, é de se aplaudir quando um diretor consegue tornar um blockbuster mais atraente através da pseudo-erudição shakespereana. Que venha a parte II!
[xrr rating=3/5]
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