Todo Tempo Que Temos foge do drama romântico meramente lacrimoso

É muito provável que ao se deparar com o trailer de “Todo Tempo Que Temos” você relacionou imediatamente ao sucesso “A Culpa é das Estrelas” e seus similares como “Se Eu Ficar” e “A Cinco Passos de Você”. Todavia, para a surpresa de muitos (inclusive deste que vos escreve), o longa que se vale do poder de fogo da dupla Andrew Garfield e Florence Pugh como chamariz de bilheteria se distancia, de certa forma, do subgênero que teve força em meados da década passada.

Acompanhamos o encontro surpresa de Almut (Florence), uma chefe de cozinha espirituosa e indomável, com Tobias (Garfield), um recém-divorciado que tenta colocar sua vida em prumo. A premissa de que os opostos se atraem parecia se encaminhar para uma história de conto de fadas, se converte em uma reflexão sobre como o tempo é precioso.

Com uma narrativa não linear, o filme vai colocando vislumbres das vidas do casal, desde o início inusitado do namoro, o nascimento de sua filha, tornando o espectador cúmplice, como se fosse parte integrante da história. Esse é o maior trunfo do roteiro engenhoso de Nick Payne. A direção do irlandês John Crowley cuida para que a química que parece preexistente entre os protagonistas não se dissipe em nenhum momento e funcione dentro dos variados tons apresentados ao longo da trama.

Ambos inclusive estão bastante confortáveis no cenário da Inglaterra natal de Florence e onde Andrew cresceu e iniciou a carreira artística. De fato a É verdade que a personagem Almut tem um desenvolvimento mais trabalhado do que Tobias. Ela de fato é o elemento catalisador do drama, com sua vida pessoal quanto profissional em meio a uma tempestade. Ainda assim, a forma como a incerteza quanto ao futuro dos dois afeta o cônjuge deveria ser um pouco mais aprofundada. Ainda assim, o carisma do “melhor Peter Parker” (para muitos) compensa essa fragilidade no script.

Ainda que o foco seja, obviamente, o casal principal, alguns coadjuvantes também se destacam, como Lee Braithwaite, assistente de Almut, e Douglas Hodge, o pai de Tobias.

O arco dramático que delineia o roteiro, serve como plataforma para questões pertinentes como criação dos nossos filhos e a imagem que eles terão de nós, a finitude e quanto tempo de fato temos aqui. Não que esses tópicos sejam inéditos ou abordados da forma mais brilhante vista no cinema, mas são bem condensados na história dando solidez ao que poderia ser apenas mais um romance lacrimoso.

E sim, apesar de ser um drama, humor está presente de forma esperta em “Todo Tempo que Temos”, que não é um filme que gabarita todos os pontos. Há clichês (alguns inevitáveis), um acerto apelo a emoções fáceis em alguns momentos. O final, ou melhor, a forma como a conclusão é apresentada, é executada de uma forma inesperada, que pode emocionar alguns e deixar outros em dúvida. Pode não ser o melhor filme romântico dos últimos anos, mas sem dúvida é uma produção que vale ser conferida pelos fãs do gênero, e até quem não tem tanto apreço assim pode se aventurar.

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