Três filmes para se rever em 2011

Com um ano novo, uma imensidão de novos lançamentos.

Hollywood, cada vez mais incansável, produz, convence e deslumbra seu público jamais saciado ou cansado da diversidade das ofertas. Entretanto, a despeito das novas produções, novas tecnologias, efeitos e possíveis revoluções cinematográficas em 2011, esse artigo se dedica aos filmes que se tornaram tradicionais – seja pela riqueza, seja por um fascínio puramente comercial.

Desejo e Reparação:

Lançado em 2007, Atonement – baseado na obra de Ian Mcewan – foi no Brasil intitulado Desejo e Reparação; os motivos do acréscimo do tal desejo à reparação do título original, é um mistério que fica a cargo de seus tradutores elucidar. De qualquer forma, eis a história de um escândalo sexual envolvendo uma família britânica conservadora e, segundo as aparências, perfeitamente saudável e feliz. O desenrolar da Segunda Grande Guerra e aquele verão muito quente talvez pudessem explicar a fertilidade da mente de Briony, que aos 13 anos, no auge de sua criatividade infantil, começa a expiar e moldar a paixão secreta entre Cecilia, sua irmã mais velha, e Robbie, o filho do caseiro. A seqüência de flagras de cunho sexual passam a ocupar e atormentar essa menina até então inocente e sonhadora. É quando nos arredores da mansão familiar um estupro acontece, e Briony, cercada de suas fantasias e das mais recentes descobertas, aponta Robbie como culpado, apodrecendo, assim, as relações familiares e uma série de amores e vidas. A combinação da fotografia particularmente sensível, da sonoplastia original e a constante mudança temporal e espacial trabalharam em favor da forma, que aliada ao conteúdo polêmico e, por vezes, surpreendente e profundamente emocional, fizeram de Desejo e Reparação uma obra pra vida inteira, assim descrita pelo Daily Mirror “o mais próximo da perfeição possível”.

Sin City, a cidade do pecado:

Baseado na famosa graphic novel homônima de Frank Miller, o filme dirigido por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino se constrói em torno de três histórias aparentemente independentes, mas que em algum momento se interceptam: Marv é um marginal deformado, cujo último vestígio de humanidade se personifica em sua paixão pela pura e inocente Goldie. Ao encontrá-la assassinada ao seu lado na cama, ele parte, em busca da vingança e do sangue devidos. Dwight, por sua vez, é um detetive particular que procura a todo custo proteger as prostitutas da chamada Cidade Velha, eternamente perseguidas pela brutalidade dos policiais corruptos. Já Hartigan, em oposição a essa corrupção generalizada, é o último dos policiais honestos, lutando, apesar da idade avançada, para salvar a adorável Nancy dos constantes assédios do Homem Amarelo, o detestável filho do senador, comumente beneficiado pela impunidade. Em Sin City, a cor está apenas nos detalhes, nos olhos, nas roupas, na pureza de certos personagens e, sobretudo, no sangue! muito sangue espirrando ao longo das cenas, no mais, preto e branco comumente associado ao noir. Altamente elogiado pela fidelidade ao texto original, Sin City ganhou uma seqüência prevista para 2012. Altamente violento e doentio, o filme convence pelo absurdo, pelo excesso e pela crítica.

Querido Frankie:

Apesar de selecionado para diversos festivais, incluindo o de Cannes, Querido Frankie é um longa britânico pouco conhecido e divulgado que agrada pela sensibilidade tanto do roteiro quanto da fotografia e das atuações. Nele, Lizzie é a mãe super-protetora de um menino surdo (o Frankie do título), que conta apenas com o apóio de sua própria mãe, igualmente devotada, para fugir incansavelmente pelas cidades da Escócia, de apartamento sujo a apartamento sujo, se distanciando mais e mais do grande mal jamais mencionado ao filho. Para aplacar a ausência da figura paterna, Lizzie escreve cartas ao seu filho e as assina em nome de um homem imaginário que vive lá longe, a bordo de algum navio, escrevendo para relatar suas aventuras e seu amor de pai carinhoso. Até o dia em que toda essa mentira é colocada à prova por uma lacuna até então desconsiderada. A fim de sustentar sua história, Lizzie contrata um estranho para fingir por um dia ser pai do seu filho. Em Querido Frankie, o drama dispensa o melodrama e trata as relações sob uma perspectiva mais crua e realista, mais humana.

Aos três filmes aqui apresentados, dou o nome de clássicos, embora os que se dizem especialistas discordem ou mesmo debochem dessa escolha nem tão culta nem tão óbvia, mas minha.

Sair da versão mobile