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Tron – O verdadeiro legado

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Se 1977 foi o ano em que o cinema de entretenimento mudou para sempre sua cara com o lançamento de Guerra Nas Estrela de George Lucas, 1982 foi um ano muito importante para a ficção científica. Nesse ano foram lançados E.T., Blade Runner e Tron. Esse último entrou para a história por ter sido o primeiro filme a usar o chamado CGI (Computer Genarated Image, ou traduzindo, imagem gerada por computador), que hoje é abundante e já é parte essencial de muitos filmes até que não tem efeitos especiais como chamariz. Depois do sucesso de Guerra Nas Estrelas, todos os estúdios queriam ter o seu grande filme de ficção, a Disney viu em Tron, que fora rejeitado por vários outros estúdios, sua oportunidade de marcar época no gênero.

Tiro certo. A película ficou a cargo de Steven Lisberger, que tinha no currículo apenas duas produções, ambas animações: o curta Cosmic Cartoon de 1973 e Animalympcs- As Feras Das Olimpíadas de 1980. A trama de Tron claramente pegava carona no fascínio exercido sobre as pessoas por aquele admirável mundo novo da informática, que começava a dar seus passos largos rumo à popularização que tem hoje. Essa tendência foi seguida por filmes que vieram logo em seguida como Jogos De Guerra, O Último Guerreiro Das Estrelas (que contava com a mesma técnica de computação gráfica de Tron), D.A.R.Y.L e até Superman III, que de uma forma ou de outra tinham um computador ou videogame inseridos na trama principal. Séries de TV também pegavam esse filão, quem não se lembra do Automan de 1983 exibido pela Globo em 1984, onde o herói era gerado pelo computador de um gênio da informática da polícia e seu visual era bem semelhante ao dos heróis de Tron, assim como os efeitos especiais.

Tron era a história de Kevin Flyn (Jeff Bridges) um programador de jogos que, revoltado por ter suas idéias roubadas pelo dono de uma grande companhia resolve invadir o sistema principal, nisso acaba sendo transportado para dentro do sistema e sua missão passa a ser destruir o perverso Máster Control, o sistema operacional perverso que governa o mundo eletrônico com mãos de ferro, uma versão mais cruel do Hal 9000 de 2001, e que tinha sobre seu poder também o dono da empresa. Daí, Flyn se une ao programa rebelde Tron para tal desiderato. A grande vedete de Tron, claro, eram os efeitos de computação gráfica, o design criado pelo gênio Moebius e até mesmo a trilha sonora de Wendy Carlos, porém tudo isso hoje parece deveras datado.

Se Guerra Nas Estrelas se utilizava da linguagem dos videogames, Tron transpunha os games de forma literal para as telas, e mostrava como seria se fossemos arremessados para dentro de um. Muita gente nunca mais jogou Atari do mesmo jeito. Infelizmente os méritos do filme terminam aí. Faltou ao diretor talvez experiência para conduzir um projeto tão ambicioso, o desenvolvimento dos personagens ficou prejudicado, o trio de protagonistas não gera muita empatia com o espectador, tanto quando estão em suas versões de usuários como nas versões avatares-programa, embora Jeff Bridges ainda se destaque com jeito meio gaiato, mas não chega a passar lá muita credibilidade. O filme tem momentos memoráveis como o da clássica corrida de motos (o lightcycle) e as lutas com disco monolith, mas há também momentos meio risíveis e até um pouco arrastados.

Tron, apesar de marcar época não foi uma bilheteria estrondosa, foi apenas o suficiente para não ser considerado um fracasso. Dois fatores principais: o lançamento de E.T. exatamente na mesma época (verão de 82), a outra foi a estranheza causada na época por alguns aspectos da trama. A idéia central era original, porém alguns termos do mundo da informática bem difundidos hoje em dia eram grego há 28 anos, não era comum ouvir noticias de hackers invadindo sistema, não se sabia exatamente o que era um sistema operacional, até mesmo software não era um conceito plenamente dominado pela maioria das pessoas. Parece absurdo, eu sei, mas era 1982. É claro, que os aficcionados por computadores adoraram e foram os pilares da construção do culto ao filme, que quase ganhou uma continuação em 2002, mas a Disney engavetou o projeto e a idéia virou o game Tron 2.0.

No final desta década aproveitando a onda 3D A Disney lança Tron O Legado que toma as salas 3D e Imax do mundo inteiro, com a tentativa de trazer o universo do filme de 82 atualizado para conquistar as plateias da era pós-avatar e possivelmente fazer o público se lembrar de que o verdadeiro legado de Tron foi mostrar as possibilidades de uma ferramenta que bem utilizada, tornaria muito mais fácil e crível o trabalho de efeitos especiais no cinema.

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