Tudo Pode Dar Certo

Woody Allen voltou a seu habitat natural. Depois de uma boa temporada de quatro filmes passados em solo europeu, o cineasta se reencontra com sua Manhattan querida, que  ele e seus diretores de fotografia mostram com tanta plástica e requinte. Nesse reencontro ele não quis se reinventar, mas continuar sendo ele mesmo. Ou seria melhor dizer “para se repetir”?

Sim, porque Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works, E.U.A 2009) nada mais é do que uma compilação de todos os elementos presentes na obra de Allen. Estão ali o judeu neurótico e um tanto rabugento, o sarcasmo proferido em relação aos hábitos judeus, crítica mordaz aos WASPs e o american way of life, e os choques culturais presentes na relação entre um homem maduro e uma jovem sem muita bagagem cultural.

Larry David (das séries Seinfeld e  Segura A Onda) interpreta Boris – o alterego de Allen – com tanto empenho que em alguns momentos temos a impressão de ver o cineasta na tela. Acreditamos até em uma certa semelhança física. Ele é um judeu rabugento e cheio de manias, conflitos e frustrações, vindo de um casamento fracassado, que conhece a jovem sulista Melody (Evan Rachel Wood no tom certo) que , sem ter onde ficar em Manhattan, se aboleta na casa do coroa enxaqueca. E daí desenvolve-se um improvável relacionamento a dois.

Essa repetição de situações já vistas e revistas em trabalhos anteriores não chega a ser demérito, como disse Boris a Melody ao se desculpar por se utilizar de um clichê (uma  das coisas que abomina): “às vezes o clichê é a melhor forma de se expressar”. Certamente foi um pedido de desculpas do próprio cineasta por estar recorrendo a seus clichês. Tudo Pode Dar Certo pode não ser o melhor filme da obra de Woody Allen, mas não significa que não brinde o espectador com o bom gosto que lhe é peculiar. Fica apenas a sensação de que já vimos aquele filme.

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