O cardápio do Oscar 2013 está sendo, definitivamente, um dos melhores dos últimos tempos. Dentre seus interesses mercadológicos e artificialismos criteriosos no universo que envolve os votantes, o tradicional prêmio da indústria americana tenta, aos solavancos se reinventar, seja pela busca de perenidade em sua arranhada relevância, seja para perpetuar seu ofício à gerações futuras.
Num ano em que entre os indicados figuram nomes como Quentin Tarantino, Michael Haneke, Ang Lee e Steven Spielberg, o intuito de ecoar a boa safra de lançamentos parece ter dado certo. Que não seja um ano de exceção…
ARGO de Ben Affleck
Um filme que comprova o talento de Affleck como diretor. Um filme que relativiza o patriotismo de seu próprio país. Um filme que atualiza o melhor da estética setentista de thrillers políticos. Um filme que consegue equilibrar a crítica política e a metalinguagem de seu próprio mercado. Um filme que merece a estatueta dourada por conseguir ser o mais completo, efetivo e humano, sem maneirismos e pretensões. Um grande filme.
Resenha por Renan Andrade / Resenha por Célio Silva
O LADO BOM DA VIDA de David O. Russell
David é considerado um diretor de temperamento difícil, talvez isso explique a organicidade de seus filmes e em O Lado Bom da Vida isso alcança níveis gloriosos ao investir em personagens ricos dentro de suas inadequações numa fórmula batida de filmes ianques. Existe muita ironia nos termos e é essa convergência que o torna um dos filmes mais sensíveis já feitos. Raramente a dimensão de seus personagens tem o poder de justificar um filme.
AMOR de Michael Haneke
O austríaco Haneke faz da arte muito mais do que a sua visão de mundo, mas a ponta de lança afiadíssima de seu discurso de desencantamento do viver. O que Amor faz é apenas ser realista ao evocar a perspectiva cruel do tempo pela desromantização do amor. Trata-se de um filme duro, adulto e reflexivo. Já é certo que levará o Oscar de Filme Estrangeiro, mas sua indicação a categoria principal é um indicativo da força de sua expressão. Para não esquecer nunca mais.
A HORA MAIS ESCURA de Kathryn Bigelow
Kathryn já ganhou um Oscar incompreensível com seu filme anterior Guerra ao Terror, porém agora parece que aprendeu a tornar coerente a relevância de um discurso com a necessidade dramatúrgica disso. A Hora Mais Escura é um filme importante e precisamente bem construído. A humanidade de sua protagonista – uma Jessica Chastain arrasadora – confronta a complexidade e a urgência de uma América em busca de uma catarse cujo o nome é Osama Bin Laden.
Resenha por Célio Silva / Resenha por Melissa Andrade
INDOMÁVEL SONHADORA de Benh Zeitlin
A graça e a espontaneidade da pequena e impressionante Quvenzhané Wallis dão partida ao encantamento que Indomável Sonhadora pulveriza do início ao fim de sua duração. Mas é um encantamento que parte da amargura de quem assiste uma história que fala sobre a inocência em meio a devastação do Katrina em New Orleans. O diretor (e seu coletivo) sabe do universo que tem em mãos e é genial a sua capacidade em torná-lo um filme com dramaturgia e vida muito próprias.
AS AVENTURAS DE PI de Ang Lee
Ang Lee é o cineasta da sensibilidade, porém nesse filme ele agrega um deslumbramento fora do comum a seus maneirismos, digamos, afetivos. Uma alegoria sobre a fé ou um tratado acerca da razão? Acima de tudo uma relativização da relação do homem com aquilo que acredita como Deus. Ou apenas com aquilo que acredita, seja no que for. Respeitando sua matriz literária, o filme dá outra dimensão em sua transposição para o cinema: acaba por seduzir nossos olhos para depois persuadir nossa reflexão.
Resenha de Renan de Andrade / Resenha de Cesar Monteiro
DJANGO LIVRE de Quentin Tarantino
Um filme de autor se impõe para além de um estética própria e demarcada. Tarantino comprova a tese ao debochar de paradigmas (de discursos e de gêneros) e impor sobre seu liquidificador de referências um dos retratos mais vigorosos acerca de um calo norte-americano chamado escravidão. Pode não ser perfeito, mas o cineasta ainda tem o poder de fazer do seu cinema uma alegoria eficientemente universal. E sem cair na vitimização do tema. Um craque esse rapaz.
Resenha por Renan de Andrade / Resenha por Salvador Camino
LINCOLN de Steven Spielberg
Uma indicação equivocada. Spielberg consegue a façanha de burocratizar um roteiro até maduro e que compreende com lucidez os acontecimentos históricos do presidente americano. Talvez sua importância nesse momento político dos americanos seja maior que sua competência como cinema, mas para além de seu papel revisionista, Lincoln é burocrático e emperrado demais na banalização mítica de um homem, que se torna maior do que discurso pretendido.
Resenha por Renan de Andrade / Resenha por J.R. Dib
OS MISERÁVEIS de Tom Hooper
O diretor Hooper tem se notabilizado por fazer um cinema de cartilha, frio e careta. Com Os Miseráveis ele eleva esse viés a grandiloquência do épico, ou seja, ao limite do insuportável. Talvez sua indicação se deva a suntuosidade que aqui serve mais de ópio do que um elemento de grande filme. Fica claro que o diretor, depois do Oscar por O Discurso de rei deixou-se cair na armadilha da pretensão, reduzindo-se ao ego de uma mania de grandeza. Uma pena.
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