Nesta semana pós-Oscar o assunto mais em voga é a questão da diversidade, uma vez que atores negros e filmes com temática da etnia foram esnobados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o que gerou polêmica (as regras já foram mudadas para o ano que vem), boicote por parte de alguns atores negros e rendeu piadas do apresentador da cerimônia Chris Rock (que é negro). Mas se a Academia cometeu esse escorregão, os filmes continuam firmes na tendência da inclusão. Um cinema comercial indo além da face branca masculina heterossexual e judaico-cristã que nos doutrinou por décadas.
A semente foi plantada ainda nos anos 1970, com a explosão do cinema negro americano, conhecido como blaxploitation, o sucesso asiático de Bruce Lee, que levou a Warner Bros a produzir um filme made in USA, “Operação Dragão”, e a ascensão dos cineastas ítalo-americanos como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, que traziam em seus filmes, protagonistas com nomes italianos que soavam naturais para americanos como Corleone. Sem falar em Balboa e Manero. Hoje, o cinema entretenimento já incorporou a diversidade e, enfim, a estende aos homossexuais.
Um sintoma disso é que, depois das HQs e de séries de TV, a franquia mais lucrativa no cinema atual, Star Wars anuncia que também terá um personagem gay em “Episódio VIII”. “O Despertar da Força”, fenômeno de bilheteria do final do ano passado, já apresentava um trio de protagonistas formado por uma mulher, heroína da história, um negro e um latino. Vale lembrar que já existe uma personagem lésbica no livro “Lords of the Sith” de Paul S. Kemp. Moff Mars é descrita como uma oficial Imperial que cometeu erros graves, mas é uma líder extremamente capaz e trabalha a maior parte do livro para prevenir um fracasso absoluto.
Na explicação de Shelly Shapiro, editora do livro, ”Essa é certamente a nossa primeira personagem LGBT no cânone, mas já tivemos um casal gay mandaloriano, então não é completamente novo. Não é algo que eu realmente penso a respeito, apenas faz sentido. Há muita diversidade, é preciso que exista diversidade em Star Wars. Você tem todas essas espécies diferentes e seria tolo não reconhecer que existe muita diversidade entre os humanos. Se existe uma mensagem nisso é de que Star Wars é tão diverso quando a humanidade na vida real (ou mais, pois temos as espécies alienígenas) e não queremos fingir que não. Apenas parece completamente natural”.
Voltando ao cinema, o diretor do primeiro filme da nova trilogia, J.J. Abrams, falou, em entrevista ao The Daily Beast, sobre a possibilidade de um personagem abertamente gay. “É claro (que pode acontecer). Quando falo de inclusão, não estou excluindo personagens gays. É tudo sobre a inclusão. […] Para mim, a diversão de Star Wars é a glória de possibilidades. Assim, seria algo sem imaginação e contra-intuitivo dizer que não haverá nenhum personagem homossexual nesse mundo” disse.
Embora o novo filme da franquia esteja sobre o comando de Rian Johnson, Abrams ainda tem um certo envolvimento com a parte criativa, e o novo diretor parece bastante aberto à possibilidade. Muitos fãs suspeitam que o personagem em questão seja Poe Dameron (Oscar Isaac) – tudo por conta de um certo frame em que estaria fazendo olhar sensual para Finn (John Boyega) – mas ainda não é sabido se o personagem gay é algum já conhecido ou um novo que será introduzido neste filme.
O que vale ressaltar é o quão importante é um grande sucesso do cinema abraçar a questão da diversidade, encarando de forma extremamente natural, em tempos em que uma ameaça ultraconservadora ronda a Casa Branca