“A vida que você vive é a história que você conta.” De símbolo sexual a vítima de uma doença que lhe tiraria a voz, a vida de Val Kilmer (Top Gun, Willow, The Doors) é uma das grandes incógnitas da fábrica dos sonhos.
Este extraordinário documentário apresentado no Festival de Cinema de Cannes 2021 estuda o caso (mais um) de um ator enfrentando uma retumbante decadência, tudo visto através das imagens que ele mesmo gravou durante as filmagens com sua câmera de vídeo.
Análise
Lembrar de Val Kilmer, nos remete aos anos 1980, em especial a Willow na Terra da Magia e a Top Gun – Ases Indomáveis, como também por interpretar o Batman no filme dirigido por Joel Schumacher, Batman Eternamente (1995). Obviamente, que já naqueles anos, é notório que ele não era o melhor ator do mundo. E, no entanto, o bom Val Kilmer tem algo que outros atores não têm, que é saber despertar uma certa simpatia no espectador, um carisma inato que, claro, muitos não têm e nunca conseguem desenvolver, porque é um dom com o qual nasce. Val Kilmer é um daqueles caras que gostamos, apesar de não sabermos praticamente nada sobre ele, como a trágica morte de seu irmão mais novo quando tinha apenas quinze anos.
Ok, Val Kilmer não é Marlon Brando, com quem dividiu as filmagens do infame filme A Ilha do Dr. Moreau, mas se o documentário merece ser visto é justamente porque está impregnado de aspectos pessoais que vão além da mera trajetória cinematográfica e o negócio de Hollywood. Nesse sentido, Val pode ser visto como um hino à própria vida.
Pedaços de uma vida
O documentário é gravado no mais puro estilo Jonas Mekas (1922-2019). É que desde quando era praticamente um adolescente, Val Kilmer filmou, com câmeras diferentes, todos os detalhes de sua vida, incluindo os mais insignificantes.
O filme percorre linearmente sua carreira cinematográfica, partindo de suas origens e terminando com seu declínio como astro de Hollywood, em grande parte usando esse material praticamente inédito (há filmagens, por exemplo, de uma peça em que o ator participou com outros muito jovens Kevin Bacon e Sean Penn).
Obviamente, notícias e filmagens desses longas também são intercaladas e, ao mesmo tempo, o presente é exibido, com um Kilmer já muito velho e exausto pelo câncer de garganta.
Como dissemos, o documentário ganha quando nos mostra essa faceta pessoal do ator, que é com o que qualquer ser humano pode simpatizar, além da profissão especial que Val Kilmer é. Atormentado pelo câncer, é o próprio filho do ator quem narra seus pensamentos, em um recurso que funciona emocionalmente.
É curioso ver como o próprio Kilmer admite que não teve uma grande carreira em comparação com seus ídolos juvenis, ou outros detalhes como a recusa em continuar interpretando Batman, um papel do qual não se orgulha particularmente. Interessante também é a preparação do ator para interpretar Jim Morrison no filme The Doors.
Este não é o documentário do melhor ator do século, mas Val sabe conquistar o coração dos espectadores de outras maneiras. A vida trágica do ator e esse carisma inato são incentivos suficientes para que Val seja um documentário capaz de cativar qualquer espectador, seja ele fã ou não do ator ou de seus filmes.
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