Piadas não faltam sobre a longevidade da franquia Velozes & Furiosos. O primeiro filme sobre pilotos de rachas em carrões tunados foi um grande sucesso há 22 anos, consolidou o sucesso de Vin Diesel e parecia chegar ao fim após o terceiro longa. Com o retorno de Diesel no filme 4 (ele ficou de fora do 2 e do 3), V&F ganhou impulso e se tornou para o ator o que Missão Impossível era para Tom Cruise: um lucrativo playground. Enquanto Ethan Hunt chega ao sétimo episódio, Dom Toretto inaugura sua décima aventura. A pergunta em relação a “Velozes e Furiosos 10” é: ainda há lenha para queimar? Depende do ponto de vista, se é narrativo ou comercial.
Ao que tudo indica, “Fast X” marcará os capítulos finais da franquia. O filme acompanha Dom Toretto (Vin Diesel) e sua “família” enquanto eles enfrentam seu adversário mais perigoso até então: Dante, o filho de um inimigo anterior em busca de vingança. O plano de Dante força a família de Dom a viajar por várias localidades, com novos aliados e antigos inimigos fazendo aparições. Dom descobre que seu próprio filho é o alvo da vingança de Dante, adicionando um elemento pessoal ao conflito.
No que tange à narrativa, a franquia nunca foi nenhum primor. Sempre se apoiou no carisma dos personagens e nas corridas e perseguições de tirar o fôlego. Quando começou a abraçar o absurdo, deixando a fase Roger Moore de James Bond parecendo realista, houve uma certa graça que já se desbota. Justamente por não ter uma trama cativante o suficiente para que a suspensão da descrença funcione. Como se pode ver, o mote é apenas um pretexto, e dos mais requentados. E como a série já nos acostumou a desafios à lei da física e até aos limites de vida e morte, não tememos mais pelo destino dos personagens, esvaziando toda a sensação de perigo. O desenvolvimento cada vez mais rasteiro dos mesmos também contribui para isso, uma vez que a desconexão com o espectador é inevitável.
Vin Diesel parece cansado. Atua no piloto automático, como se estivesse em um emprego público bem remunerado, movido apenas pelo cheque polpudo. Tej (Ludacris), Ramsey (Nathalie Emmanuel), Han (Sung Kang) e Roman (Tyreese Gibson) confirmam sua irrelevância na trama. Já os arcos de Letty (Michelle Rodriguez) e Cipher (Charlize Theron) são irritantemente patéticos, enquanto Mia (Jordana Brewster) fica sem função. Quem parece estar se divertindo, e confere alguma graça ao longa, é Jason Momoa, no papel do vilão Dante. Uma mistura de Coringa com Jack Sparrow, ele consegue roubar o show para si e despertar o espectador de ocasionais cochiladas toda vez que entra em cena.
Louis Laterrier dirige o longa sob as bênçãos de Justin Lin (diretor do anterior), que agora assina o displicente roteiro em parceria com Dan Mazeau e Gary Scott Thompson. Randômico como o protagonista, ele comanda um espetáculo focado em fornecer o que os fãs querem de um V&F, mas esquecendo da costura. Tudo bem que com o script que tinha em mãos não poderia operar nenhum milagre, mas uma boa direção de atores e uma movimentação menos clichê de sua câmera poderiam amenizar os danos.
Ah, sim. Há as sequências no Rio de Janeiro. Que na verdade é Porto Rico (ou Miami) e muita, mas muita tela verde com paisagens inseridas. A ponte Rio-Niterói até que está razoavelmente convincente, vale observar.
Por fim, “Velozes e Furiosos 10” escancara como é perigoso esticar uma franquia sem ter propriamente o que dizer. Voltando à pergunta feita no final do primeiro parágrafo, quanto ao sucesso narrativo e comercial as respostas são não e talvez. Não, pois narrativamente V&F se exauriu no filme 7. E talvez porque comercialmente parece haver algum interesse na saga da família Toretto. Todavia, as previsões para a bilheteria doméstica já não são tão otimistas. A franquia já está perdendo apelo nos EUA. China, Brasil e outros mercados que recebem bem os carros movidos a turbo pesam na balança, mas podem não conseguir bancar os custos da festa dependendo do quão fraca for a arrecadação americana. A hora de parar está cada vez mais inevitável.