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"Versos de um Crime" representa mais do que idealiza

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Existe um erro recorrente nas tentativas de transposição da geração beatnik para o cinema. Há um excesso de glamourização ou idealização mesmo do período, que acaba por tornar esses filmes um amontoado de clichês pretensiosos sobre personagens reacionários a um tempo. “Na Estrada” de Walter Salles é bem isso. “Versos de um Crime” alude a esse tempo, mas se restringe a história de Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe), um dos maiores escritores norte-americanos e também (ou até por isso) um dos precursores do movimento, e sua descoberta da sexualidade, e consequentemente da maturidade, através da relação afetiva com Lucien Carr (Dane DeHaan). O crime que o título apresenta é o ponto de partida para uma perspectiva muito maior, não necessariamente alcançada a contento pelo roteiro. A construção dessa amizade vai trazendo consigo a personalidade desses futuros autores em suas inadequações frente ao American Way of Life. Passado na década de 1940, vemos a chegada de Ginsberg à Universidade de Columbia. Dali, acompanhamos seu encantamento por Carr, rapaz envolvente e apaixonado pela literatura que cativa a todos a seu redor. Ao lado de Jack Kerouac (Jack Huston) e William Burroughs (Ben Foster), eles fundam um movimento que pretende revolucionar a literatura inspirado na obra de W. B. Yeats.

 Em sua estréia na direção, John Krokidas demonstra personalidade, ainda que não tenha a experiência para lidar com os problemas de ritmos da narrativa de seu filme. Radcliffe vem sendo bem sucedido na tentativa de apagar o estigma de seu Harry Potter (suas cenas homoeróticas são mais discretas que o alardeado, mas defendidas com dignidade), mas é outro ator em decomposição de personagem icônico (no caso do seriado televisivo, Dexter), Michael C. Hall, quem entrega a melhor interpretação, em papel bem difícil dentro de sua passionalidade. “Versos de um Crime” é um recorte interessante de uma geração. Vai ver que é isso que o período precise para ser melhor representado no cinema: que sua transgressão seja mais interessante que sua idealização. Esse filme, dentro de sua imperfeição, dá um primeiro passo.
 

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