Em 2019, quando “Pacarrete” conquistou os corações e os prêmios em festivais de cinema por onde passou, o realizador cearense Allan Deberton se transformou numa pessoa cuja próxima obra era aguardada com suspense e interesse por parte dos cinéfilos. Esta obra veio na forma do musical “O Melhor Amigo”, criado a partir de um curta do próprio diretor, e aqui o nome do filme engana: não é sobre amizades, mas sim sobre relacionamentos queer e escolhas.
Uma noite, o pesadelo de qualquer jovem adulto se torna realidade para Lucas (Vinicius Teixeira): ele recebe uma mensagem através de um carro de som. É uma mensagem de amor de Martin (Leo Bahia), para quem Lucas pediu para “dar um tempo”. Depois da humilhação, o tempo é dado e Lucas vai de férias para a praia de Canoa Quebrada, no Ceará. Lá, por acaso, ele reencontra o primeiro namorado, Felipe (Gabriel Fuentes), que agora trabalha como bugueiro, e os dois se reconectam, inclusive sexualmente. E de repente chega Martin para fazer uma proposta.

Escolher fazer um musical é sempre um risco, principalmente num cinema que não tem muitos deles num ano como é o caso do cinema brasileiro, apesar de o Brasil ser abençoado com tantos ritmos. Em “O Melhor Amigo” são usadas apenas músicas antigas, nada de canções originais, e elas casam perfeitamente com a narrativa. Fazer melhor que “Emilia Pérez” é muito mais fácil do que alguém poderia imaginar, e definitivamente é o que acontece aqui.
A cena queer de Canoa Quebrada é um destaque positivo. Lucas frequenta boates com shows de drag queens e é por elas aconselhado. Outro ponto positivo é o uso comedido das locações: o litoral cearense é majestoso, mas suas dunas são apenas cenários, não tomando conta da tela, mas deixando a história se desenvolver, de modo que não fica parecendo um comercial de turismo.

Sabe aquela história de um curta-metragem ser tão bom que deveria ser longa? Foi o que aconteceu aqui. “O Melhor Amigo” foi um curta de Allan Deberton de 2013, com Jesuíta Barbosa no papel de Lucas. O diretor decidiu desenvolver não a ideia central do filme, mas partir daquele universo para contar uma história subsequente, e talvez aí resida a razão do sucesso da empreitada.
“O Melhor Amigo” foi descrito como “um romance solar, como são os amores de verão” e isso resume perfeitamente o filme. Alegre, sem querer ser motivacional, engraçado e espirituoso, usa nosso cancioneiro de maneira inspirada e prova que, sim, temos de ficar de olho em Allan Deberton.
NOTA 9 de 10
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