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A visão fabular de David O. Russel para “Joy: O Nome do Sucesso”

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O cinema de David O. Russell é o típico ame-o ou deixe-o. Todos os seus filmes, em menor ou maior escala, arrebatam defensores na mesma veemência que detratores, ainda mais depois dessa recorrência de prêmios que o diretor recebe até hoje.

Joy: O Nome do Sucesso reforça não só essa controvérsia, como a identidade forte do diretor – e também roteirista de seus longas – em tornar suas histórias, verdadeiras epifanias.  A própria trama é bem curiosa: trata-se da cinebiografia da inventora americana Joy Maynard, uma ex – dona de casa, com a vida bem ordinária, mas tino para imaginação e criação de produtos domésticos, como um rodo absorvente que fez muito sucesso num canal de vendas na TV.

O. Russell construiu seu filme sob os signos da fábula. Entender essa prerrogativa ajuda muito sua relação com o filme. E como fábula, “Joy” é uma delícia. E desde o surrealismo dos diálogos, passando pela busca de um lirismo na mão firme da direção até a escolha da trilha sonora (uma qualidade frequente na obra do diretor), tudo vai te envolvendo para além de uma historinha de superação, através de um recorte afetivamente histérico que O. Russell faz do “american way of life” dos anos 80 em seus maneirismos (as cenas da telenovela são impagáveis).

Jennifer Lawrence tem a exata embocadura que o diretor precisa para humanizar seu estilismo cênico, basta lembrar de sua instintiva colaboração no ótimo O Lado Bom da Vida, e aqui, a atriz trafega o delicado caminho de sua protagonista, extraindo riqueza de vida ordinária. É uma estrela, de fato. O diretor O. Russell gosta de filmar famílias emocionalmente esquisitas; e a de Joy é apresentada como tal, funcionando quase como esteio da trama (e, sim, temos Robert De Niro, sempre espirituoso nesse contexto, mas preste atenção no ator Edgár Ramirez, ótimo como ex-marido da protagonista).

Joy: O Nome do Sucesso fica sempre ali, na linha tênue entre o farsesco e o estranho, mas ao captar seu tom fabular, entendemos que por trás de tanto verniz, há um diretor habilidoso em fazer de sua linguagem um discurso dramático.

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