No início de junho, os atores Vladimir Brichta e Alice Braga estiveram no Rio de Janeiro para lançar o primeiro filme em que trabalharam juntos, “Muitos Homens Num Só”, dirigido por Mini Kerti. Na trama, inspirada na obra do jornalista e cronista João do Rio e ambientada no início do século XX, Brichta interpreta o Dr. Antônio, um ladrão que ganha fama por seus furtos bem sucedidos e sua capacidade de mudar de identidade. Caçado pela polícia, especialmente por Félix Pacheco (Caio Blat), ele põe tudo a perder durante mais um golpe, quando se envolve com Eva, personagem de Alice, uma mulher sufocada num casamento sem graça. O Ambrosia esteve com os dois atores, que revelaram segredos sobre seus personagens, além de outras curiosidades. Confira a entrevista abaixo:
– Você já conhecia a história do Dr. Antônio? Como você se preparou para o personagem?
Vladimir Brichta: Eu não conhecia. Eu conhecia um pouco da obra do João do Rio, mas sem muitos detalhes. Quando eu li o roteiro, eu me interessei muito e teve a presença da Alice no filme e me empolgou muito poder trabalhar com ela. Aí, fui ler e conhecer a obra do João do Rio, através de tudo que eu tive acesso via internet, pelo que me foi dado e que eu consegui comprar… E eu fiquei fascinado pelo universo dele, que eu acho até que é um pré-Nelson Rodrigues, mesmo ele focando mais na família, enquanto o João é mais da rua. Mas de alguma forma, eles têm um olhar sobre o amoral, algo fora dos padrões… Eu acho que tem uma crônica social, que eles exercitaram no jornal. Eu reconheci um autor que gostei muito e achei fascinante as histórias, acho que tem um aspecto poético mais forte até. A história sobre o livro (“Memórias de um Rato de Hotel”, que inspirou o roteiro) já era maravilhosa, já que era uma falsa autobiografia do Dr. Antônio, que se chamava na verdade Artur Antunes Maciel, e muito tempo depois estudiosos descobriram que foi o João do Rio (cujo nome verdadeiro era Paulo Barreto) que escreveu, mas colocou como se fosse ele. Então, há uma coisa de identidades que eu já achei muito interessante que eu tentei carregar um pouco mais de entendimento, esse universo para o próprio personagem que também se fazia passar por muito outras pessoas, como o ladrão cara de pau que se afirma como tal. Eu me preparei indo ao encontro da obra do João e também fiquei atento ao fato de ser um filme de época. Isso me interessou e foi o maior desafio fazer um personagem de época que não seja uma peça de museu. Que as pessoas olhem e o reconheçam como alguém que viveu aquela época, mas como um de nós. Então, ele é coloquial e debochado na época dele, porque temos uma ideia de que as pessoas eram mais formais. Mas elas também se apaixonavam, beijavam, sofriam, cheiravam, matavam… Então, achar essa medida do personagem com o gestual que fosse coerente e interessante foi o meu maior desafio. Ficava o tempo todo pensando nisso.
– Como foi trabalhar com Alice Braga, Caio Blat e o resto do elenco?
Vladimir Brichta: Tinha uma coisa curiosa: todas a vezes que a gente se encontrava, ela dizia sempre: “Ah, preciso trabalhar com você! Já trabalhei com seus amigos, com o Wagner (Moura)…”. Eu sempre a admirei, sempre a achei super talentosa desde quando ela surgiu “Cidade de Deus”. Tenho muita admiração, inclusive pela própria trajetória dela, com muita coragem. Ela se permite ter a liberdade de sair topando fazer filme na Argentina, na Espanha, nos Estados Unidos… Não só topa, como também tem a capacidade para realizá-los e os convites surgem. Eu admiro muito isso. Na hora de trabalhar, somos igualmente preocupados e perfeccionistas e a gente seu deu muito bem. Temos um senso de humor parecido. Ela foi uma grande parceira e foi muito fácil trabalhar com ela. A parceria foi muito orgânica. O Caio Blat eu já tinha trabalhado em novela há algum tempo atrás. Ele é um desses raros atores que surgiram criança e se tornaram grandes quando adultos. Sempre tive muita admiração e carinho por ele. O Silvio Guindane faz uma parceria ótima com o Caio e colocou tiradas de humor muito boas, que dão um tempero a mais. O Miele, que é o mau pai na série “Tapas e Beijos”, também chamo ele de pai, tem histórias de bastidores maravilhosas. O Pedro Brício (que interpreta o marido de Eva) é um parceiro de teatro e estreitamos a relação que a gente já tinha. Fiquei fã do Cesar Trancoso (que vive o mentor do Dr. Antônio) desde que o vi em “O Banheiro do Papa” e foi uma presença luminosa. O elenco é muito valioso e você ganha força em presença.
– O que é mais difícil para você: Drama ou Comédia?
Vladimir Brichta: Eu não sinto muita dificuldade no gênero, não. Às vezes, um determinado personagem é mais difícil, uma determinada cena eu posso sentir dificuldade. Mas entre drama e comédia, não sinto isso. O mais difícil é cantar com um maestro assim, dizendo: “Agora”! (Risos).
– Alice, como esse papel chegou até você?
Alice Braga: A Mini Kerti é muito amiga de uma amiga minha, que é uma irmã para mim, a (atriz, jornalista, ex-VJ da MTV e cineasta) Marina Person, e falou de mim para o papel. Aí, a história foi surgindo. Eu sou muito fã das obras do João do Rio e, a partir disso, me veio esse desejo de contar essa história, de entender quem é essa personagem, então ele veio de uma forma um pouco orgânica, além de ter muito desejo de trabalhar com o Vladimir Brichta. Então, foi tudo um pouco junto.
– Como foi a sua preparação para a personagem?
Alice Braga: Eu busquei muito focar no sonho dela. Entender quem era essa personagem, entender que momento de vida que ela estava. Eu e a Mini falamos bastante sobre as transformações na jornada dela, como ela começa no filme, como ela termina, para onde ela vai… Foi uma jornada especial porque foi uma personagem diferente de tudo que eu tenho feito. Então eu adorei! Foi um projeto muito especial.
– Você se identificou com alguma coisa dela?
Alice Braga: Acho que aos sonhos. Acho que os desejos de desbravar o mundo, de conhecer o novo, de observar o outro… Eu sou um pouco Eva neste sentido.
– Você surgiu há mais de dez anos atrás com o “Cidade de Deus” e agora está com essa carreira no Brasil, nos Estados Unidos… Você se imaginou dessa forma em dez anos?
Alice Braga: Nunca! Eu, na verdade, cada porta que foi abrindo eu fui entrando, desbravando… Mas nunca imaginei “Eu quero estar lá”! É óbvio que existem, sonhos, desejos… Mas eu me sinto muito honrada de ter a possibilidade de ter feito todos esses projetos, trabalhado com essas pessoas.
– Existe alguma personagem ou história que você gostaria de fazer?
Alice Braga: Adoraria fazer uma vilã! Nunca fiz uma pessoa má nem no cinema nem na TV. Queria fazer uma personagem bem má pelo desafio. Também gostaria de fazer uma comédia.
– Você fez filmes como “Território Restrito”, com o Harrison Ford, “Elysium”, com Matt Damon, “Repo Men”, com Jude Law… Como é que foi para você trabalhar com grandes ícones do cinema mundial?
Alice Braga: Foi maravilhoso! Muito louco você encontrar atores que você é muito fã. Isso para mim começou quando trabalhei com Wagner Moura em “Cidade Baixa” (de 2005). Eu já tinha visto ele em “A Máquina”, do João Falcão, que o Vlad também participa. Eu já tinha ficado muito fã dele. Então, fazer o filme com ele e o Lázaro (Ramos) foi maravilhoso. Depois disso, comecei a trabalhar com essas figuras e foi bem bacana porque trabalhar com ele é bem valioso. Quando você vê um filme de um ídolo já é muito bom porque você aprende com o trabalho dele e quando você ao vivo, é mais ainda. Então me sinto honrada. Foi tremedeira (risos) em todos os sentidos, mas fluiu!
Além da entrevista, Vladimir Brichta e Alice Braga também gravaram um vídeo exclusivo para o site. “Muitos Homens Num Só” estreia nos cinemas no dia 25 de junho.