“A Fantástica Fábrica de Chocolates” é um clássico indiscutível. Tanto que soa incrível não ter sido um grande sucesso de bilheteria quando foi lançado originalmente, conquistou toda uma geração de crianças com as reprises na TV. A fábrica de Willy Wonka era o sonho de todo pirralho nos anos 70 e 80. E por que não trazer o chocolateiro mais famoso da cultura pop para os dias de hoje? Reviver uma franquia é a palavra de ordem em Hollywood, e a forma mais fácil de fazê-lo é criando uma história pregressa, chega “Wonka”, contando as origens do que viria a ser a icônica fábrica de chocolates.
Com o sonho de abrir uma loja em uma cidade conhecida por ser a meca dos chocolates, o jovem e pobre Willy Wonka (Timothée Chalamet) descobre que a indústria é dirigida por um cartel de chocolateiros gananciosos, que não medirão esforços para eliminar a concorrência.
Continuações, em determinados casos, maculam a obra original amada pelos fãs. Prequels também podem arranhar a imagem da matriz, porém o estrago costuma ser maior. Por isso que os estúdios procuram recorrer à versões jovens dos personagens clássicos, com outros atores, para não serem acusados de atirar protagonistas queridos pelo público na lama (queixa muito ouvida em Star Wars e Jurassic Park referente a seus respectivos últimos capítulos).
O Willy Wonka muito bem defendido por Timothée Chalamet é sutilmente a versão mais jovem do personagem eternizado por Gene Wilder, e não o que foi interpretado por Johnny Depp no (também ótimo) filme de 2005. Embora não fique explícito, basta observar para notar. O galãzinho da vez encarna o chocolateiro mágico com o carisma necessário para que nos encantemos com a nova versão jovem, sem nos esquecer da antiga. Sutilmente porque ele não procura repetir todos os trejeitos e maneirismos de Wilder, como se fosse uma terceira versão de Wonka homenageando a primeira.
A trama é bastante simplória, com personagens coadjuvantes unidimensionais (ok, essas características também são vistas na produção de 1971) e reviravoltas óbvias, que esvaziam a sensação de perigo nos momentos mais decisivos. No entanto, isso não eclipsa a magia do universo criado por Roald Dahl, que é resgatada com competência nessa nova produção.
O diretor Paul King foi a escolha mais acertada da Warner para capitanear o projeto, já que seu longa mais famoso, “As Aventuras de Paddington”, é a principal referência de contos de fada no cinemão recente. Inclusive sua linguagem visual é facilmente reconhecida logo na primeira sequência. A fotografia do sul-coreano Chung-hoon Chung também guarda similaridade com a do longa protagonizado pelo ursinho, ao mesmo tempo que remete à de A Fantástica Fábrica de Chocolates. Os números musicais são bastante eficazes. Embora as canções criadas por Neil Hannon dificilmente fiquem para a eternidade, são funcionais para se contar a história.
Como filme de origem, não poderia deixar de explicar a aliança de Wonka com os Oompa Loompa. Hugh Grant parece estar se divertindo fazendo o papel de um membro da diminuta raça que se tornou auxiliar do fabricante de chocolates. A vilã interpretada por Olivia Colman é caricata mas seu talento que transforma essa característica em ponto positivo.
“Wonka” é um bom entretenimento para aqueles que cresceram assistindo ao clássico de 1971, sendo esse, talvez, o principal público alvo, dada sua linguagem que homenageia os musicais dos anos 1950 e 1960. No entanto, possui um mínimo agilidade para prender a atenção da geração Tik Tok, que se devidamente orientada pelos pais (é o típico filme para os pais nostálgicos levarem seus filhos) poderão desfrutar do bom cinema e quem sabe até buscar pelo longa original.
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