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Woody Allen cai na armadilha de sua própria mágica em "Magia ao Luar"

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“Por ser ateu e não acreditar em outras encarnações ou numa razão para estarmos aqui, tive uma vida muito triste, sem esperança, assustadora!”
Foi com essa frase que Woody Allen justificou de onde saíra a inspiração para seu novo filme, Magia ao Luar, em sua principal première mundial, em Paris. Dá para perceber claramente que quanto mais prolífero o cineasta se mantém, mais essa sua embriologia do discurso, expresso em suas produções de forma um tanto recorrente, fica clara e evidente.
A razão é o deus de Allen e é professando essa (falta de) fé, que ele vai delineando seus alter egos, e ele está lá presente em Magia ao Luar na figura de Stanley (Colin Firth, surpreendentemente feito para o papel), um famoso ilusionista, que é especialista em desmascarar charlatões e, obviamente, é conhecido pela persona cartesiana e rabugenta. Sob a luz e as cores do Côte d’Azur (sul da França), Stanley vai investigar uma possível vidente, a graciosa Sophie (Emma Stone) que está prestes a mudar de vida ao se casar com um milionário local. Daí sua acepção da razão frente a uma insperada artimanha da emoção é colocada à prova.

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Woody tem o discurso. E ao alegorizar isso com uma dramaturgia que o valha demonstra que a metáfora de si possui inconsistências. Quer algo mais humano do que isso? As dissertações dialogadas sobre as relatividades do misticismo funcionam como que para estabelecer o bom e velho “universo Allen”, mas a trama se vale de tantas forçações dramáticas que tudo resulta simbólico demais. Em seu ótimo longa, Blue Jasmine, Allen foi muito mais esperto na justificativa de seu niilismo costumeiro. Aqui, se deixou levar pela superficialidade de seus ilusionismos, o que denota que ainda está tão lúcido que também pode ser falho.
Evidente que Magia ao Luar está longe de ser um filme ruim. Tecnicamente é sedutor, a narrativa evoca boas reflexões e Emma Stone ilumina tudo a sua volta com seu misto de carisma e beleza pueril. Entretanto (e reforçando isso em seu final, um tanto apressado), Allen, faz um filme que aponta razão e emoção sem aprofundar a complexidade que há entre os dois. Um lapso apenas. Seu pessimismo, de origens dramáticas do passado, ainda vai nos trazer muitos filmes otimistas frente a falta de consistência do cinema atual.

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