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Woody Allen continua se repetindo para a alegria dos cinéfilos

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Woody Allen está se repetindo; Woody Allen está chato; mais vale um Woody Allen mediocre do que noventa por cento do que está em cartaz. Quantas vezes já ouvimos isso?

Bem, tirando a afirmativa de que o diretor nova iorquino do Brooklyn, nascido Allan Stewart Konisberg, há 76 anos está chato (que é relativa), as outras duas são pertinentes. E o que torna seus filmes verdadeiros eventos esperados avidamente por uma legião de cinéfilos é uma soma de fatores: o cineasta tem, de fato uma filmografia vasta, repleta de obras-primas e só isso é digno de muito respeito. Não há um filme sequer em que Allen não nos brinde com doses de inteligência e suas deliciosas neuroses e ranhetices distribuídas em personagens interpretadas pelo próprio ou por outros que, não se sabe como, interpretam de um jeito que juramos que é o próprio que está ali.

Além disso, hoje em dia o cinema virou um brinquedo de parque temático, onde as pessoas, munidas de imensos baldes de pipoca, copos de refrigerante e usando os óculos 3D imergem em mundos de profundidade meramente sensorial e auditiva, acreditando que pensar não faz parte da brincadeira. Daí, ter um filme que nos convide à fina ironia, à crítica e à autocrítica e que nos faça ver como somos patéticos e ainda rirmos disso, merece com toda certeza a celebração que ocorre toda vez que Woody Allen lança um filme no circuito.

Allen deixou a condição de persona non grata dos exibidores em sua terra natal por conta de seu penúltimo filme, Meia Noite em Paris, que fechou a conta com 56 milhões de dólares no caixa e se tornou, de longe, a maior bilheteria do cineasta. Mas até então o cenário era outro: sem espaço entre os exibidores e nenhum apoio ou incentivo financeiro para realizar suas produções, Allen deixou a América e se mudou para a Europa, onde seus filmes sempre foram bem recebidos. É inegável que os ares europeus revigoraram sua carreira; a estreia em solo europeu, Match Point, foi seu primeiro em muitos anos a ser considerado uma obra prima. E assim Allen seguiu por Londres, Barcelona, uma rápida volta à Nova York, Paris e enfim chegou à Roma. Especulava-se que o projeto do diretor logo após filmar Paris seria o Rio. Mas Roma acabou por ser escolhida a bola da vez.

Para Roma Com Amor vem sendo considerado, na escala Woody Allen, um filme medíocre. Essa escala divide os filmes do cineasta em brilhantes (as obras-primas) e medianos, que os mais bestas chamam de “Woody Allen menor”, que são ótimos. Há também os que transitam no meio termo, que são os filmes típicos (excelentes). 

Para Roma Com Amor está longe de ser um filme medíocre. Quem dera se todo filme medíocre fosse assim. Pode-se considerá-lo o terceiro melhor da fase européia, ficando, de fato atrás de Meia Noite em Paris e Match Point, mas muito acima de Vicky Christina Barcelona, Scoop (seu filme europeu menos inspirado) e Você Vai Conhecer O Homem de Seus Sonhos.

Em sua incursão italiana, Allen desfia um mosaico no qual constam uma americana e um italiano que se apaixonam, um casal italiano vindo do interior, um jovem estudante de arquitetura, interpretado por Jesse Eisenberg, sendo tentado pela amiga da namorada e tendo Alec Baldwin como sua “consciência” e um pacato cidadão interpretado por Roberto Benigni que, inusitadamente se torna uma celebridade.

Os quatro núcleos são inspiradíssimos, mas o destaque vai para o primeiro, que conta com o próprio diretor, que não atuava desde Scoop, de 2006, no papel de Jerry, o pai da jovem americana que fica noiva do rapaz italiano. Produtor musical com muitas críticas ruins nas costas, ele recusa a a idéia de se aposentar e quer fazer do pai do noivo se torne um cantor de ópera, mas de uma forma completamente inusitada, típica de um filme de Woody Allen. Vale também destacar a ótima atuação de Penélope Cruz, no papel da prostituta que, acidentalmente entra na vida do rapaz de interior, casado e correto.

A fotografia do iraniano Darius Khondji merece atenção especial. Assim como em Meia Noite em Paris, que fez muita gente ter vontade de sair do cinema direto para a cidade luz, neste ele retrata Roma com uma plasticidade ímpar. Claro, uma bela cidade sempre joga a favor do diretor de fotografia, mas aqui o casamento foi, digamos, perfeito.

Em suma, Para Roma Com Amor não foge da tradição de Allen de entregar filmes inteligentes. Se é um título medíocre, que o circuito exibidor seja tomado pela mediocridade.

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