“X-Men: Apocalipse” é diversão honesta, mas não escapa da sina do filme 3

“X-Men: Apocalipse” (X-Men: Apocalypse/EUA, 2016) é a terceira parte da série iniciada em 2011 pelo ótimo “X-Men: Primeira Classe”, dirigido magistralmente por Mathew Vaughn, e prosseguida pelo quase tão bom quanto “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido” de 2014, já com Bryan Singer no comando, retornando à franquia dos mutantes da Marvel 14 anos depois de tê-la fundado, com um filme visto como o marco inicial da nova era do cinema de super-heróis.

O intuito do filme de Vaughn era contar uma típica história de origem, com tempero da nostalgia e temática adulta, evocando produções da época em que se passava a trama (1963, ano da criação dos personagens nos quadrinhos) e com o contexto político de então como pano de fundo (o auge da Guerra Fria). A sofisticação e bom gosto, sem se esquecer do fan service, agradou público e crítica e a Fox, contente com o resultado, resolveu encomendar mais dois filmes, fazendo dos mutantes seu grande trunfo quando o assunto é filmes de super-heróis. “Seriam o que os Vingadores são para a Disney”.

Se o reboot de “Quarteto Fantástico” ainda era incerto (e quando ocorreu fora um fiasco), “Primeira Classe” foi oficializado como reinício dos X-Men, corroborado por “Dias de Um Futuro Esquecido”, que passava o bastão em definitivo para o novo elenco e já dava a deixa para o filme que estreia no circuito nacional nesta quinta-feira.

Na trama, vemos a chegada do mutante ancestral Apocalipse (Oscar Isaac), tido como o primeiro e mais poderoso já surgido. Desde o início da civilização, ele era adorado como um deus, acumulou os poderes de muitos outros mutantes, tornando-se imortal e invencível. Ao acordar depois de milhares de anos, ele está desiludido com o mundo em que se encontra e recruta uma equipe de mutantes poderosos, incluindo um Magneto (Michael Fassbender), Tempestade (Alexandra Shipp), Psylocke (Olivia Munn) e Arcanjo (Ben Hardy) como os quatro cavaleiros do apocalipse, com desiderato de purificar a humanidade e criar uma nova ordem mundial, sobre a qual ele reinará. Como o destino da Terra está em jogo, Raven (Jennifer Lawrence), com a ajuda do Professor Xavier (James McAvoy) deve levar uma equipe de jovens X-Men para parar o seu maior inimigo e salvar a humanidade da destruição completa.

Para os fãs dos filhos do átomo duas notícias, começando pela ruim: o filme não alcança o mesmo grau de excelência dos predecessores, caindo na famigerada maldição do terceiro filme. Não possui o refinamento do primeiro e nem a engenhosidade do segundo. A boa notícia é que está longe de um “Superman 3”, “Homem –Aranha 3”ou “X-Men: O Confronto final”, para nos quedarmos na franquia em questão. A falha em comum com o filme de 2006, Apocalipse apresenta vários novos mutantes que geraram expectativa, mas não desenvolve todos a contento.

A trama dirige o ponto central mais uma vez para Xavier e Magneto (interpretações sempre inspiradas de McAvoy e Fassbender respectivamente), e dá protagonismo a Raven, uma vez que Jennifer Lawrence hoje é estrela de primeiro escalão devido à saga “Jogos Vorazes”, e pouco aparece na forma azulada, para valorizar a imagem da atriz e deixar o filme (ainda) mais vendável. A personagem, inclusive, surge no filme como uma espécie de Katniss, pois devido ao desfecho do filme anterior ela se tornou heroína e ídolo para mutantes jovens.

Mercúrio, o personagem que roubou o show no filme anterior, como era de se esperar, ganha uma participação maior neste. Sua nova cena em que entra em ação usando os poderes de hiper velocidade é divertida, mas parece uma mera reedição da impagável sequência vista há dois anos, o que acaba surtindo um sabor de piada requentada.

Dos novatos ganham foco Scott Summers/Ciclope, Jean Grey e Noturno. E é inevitável a comparação com as versões apresentadas na trilogia anterior, sobretudo Noturno, que é um dos pontos altos de X-Men 2, mas Kodi Smit McPhee faz jus ao papel defendido em 2003 por Alan Cumming, assim como Sophie Turner (a Sansa Stark de “Game Of Thones”) não decepciona como Jean Grey. Já Tye Sheridan segue a mesma linha de pouca gradação de seu antecessor James Mardsen.

Dessa forma, faltou espaço para um desenvolvimento maior do arco dos mutantes arregimentados por Apocalipse. Tempestade, uma das principais personagens dos quadrinhos, acabou subaproveitada; Psylocke, apesar da perfeita caracterização, foi reduzida a uma simples vilã de ação; já Arcanjo não diz muito a que veio. Já a ameaça do vilão Apocalipse fica um pouco aquém da expectativa. Esperava-se que o mutante mais poderoso que o mundo já viu provocasse um estrago maior.

No entanto, o filme traz como trunfo cenas de ação que muito remetem aos quadrinhos, um adequado uso do 3D, e um ótimo fan service (talvez o melhor da trilogia) que estampará largos sorrisos nos lábios dos fãs, sobretudo na cena que fecha o filme e em uma sequência envolvendo um certo canadense esquentado que nos dá o prenúncio do que pode ser esse filme solo censura 18 anos que vem por aí.

Também são divertidas as brincadeiras e referências à cultura pop da época em que se passa a trama (aqui, em 1983), a exemplo dos dois filmes anteriores. Quando Arcanjo é recrutado por apocalipse ele está ouvindo ‘The Four Horsemen’ do primeiro álbum do Metallica; Noturno usa uma jaqueta semelhante à de Michael Jackson em Thriller, Mercúrio aparece jogando Pac-Man, faz moonwalk à La Michael Jackson no meio de sua estripulia sônica e, se no filme anterior usava uma camiseta do disco “The Dark Side Of The Moon” do Pink Floyd, neste ele usa uma do álbum “Moving Pictures” do Rush; os jovens mutantes aparecem saindo de uma sessão de “O Retorno de Jedi” e em meio a uma discussão sobre qual o melhor episódio, “Uma Nova Esperança” ou “O Império Contra-Ataca”, Jean Grey diz “pelo menos concordamos que o terceiro filme é sempre o pior”, uma forma de brincar com a maldição do 3 que foi impiedosa com “O Confronto Final” e não livrou este filme, apesar de muito mais eficaz como diversão.

Bryan Singer não entregou um filme perfeito, mas um produto honesto, de um universo que ele conhece bem. A bilheteria pode ser um pouco prejudicada pelo fato de a estreia acontecer menos de um mês depois da avalanche “Capitão América: Guerra Civil”. As distribuidoras deveriam rever as datas de lançamento de filmes de super-heróis para não gerar saturação. E agora só nos resta aguardar pelo que espera pelos mutantes no cinema nos próximos anos. Bryan Singer disse que irá explorar histórias dos mutantes no espaço. Uma coisa é certa: ainda veremos muitos desdobramentos da saga dos X-Men no cinema.

Filme: X-Men: Apocalipse (X-Men: Apocalypse)
Direção: Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence
Gênero: Aventura, Ficção
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: 20th Century Fox
Duração: 2h 24 min

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