Ou o já conhecido tópico do porque a Marvel não toma de volta da Fox os direitos pertinentes aos heróis mutantes.
Pois é, infelizmente eu vi Wolverine ontem (evitei ver a cópia que vazou na internet por acreditar que o filme na telona poderia ser melhor) e meus caros, devo confessar, foi um dos piores filmes que eu já vi, como fã de quadrinhos e de cinema.
Para quem quer saber o porque eu odiei esse filme, vou resumir aqui para depois, lá embaixo, começar o massacre cheio de spoilers.
Deixe-me começar pela história. Estamos no Canadá, século 19, vemos um jovem chamado James acometido por uma gripe. Seu amigo Victor, filho de um dos empregados da fazenda, fica a seu lado o tempo todo. O pai de James aparece para vê-lo, nesse meio tempo o pai de Victor surge na casa gritando pela mãe de James. O pai deste vai até o pai de Victor, os dois discutem e o pai de James acaba sendo morto. Isso tudo fora de tela, apenas ouvimos os fatos enquanto a câmera foca as crianças no quarto. Ao ouvir o tiro, James corre até o local, ao ver o pai morto no chão, olha para os céus gritando enquanto suas garras de osso surgem pela primeira vez. Ele investe contra o pai de Victor, cravando as garras nele. Este, moribundo, fala a James que ele é na verdade seu filho.
Victor (Liev Schreiber) e James (Hugh Jackman) fogem e agora vemos diversas cenas dos dois juntos lutando na Guerra da Secessão Americana, I e II Guerras Mundiais e posteriormente a Guerra do Vietnã, que é quando vemos Victor entrando em fúria animal e matando alguns soldados americanos e James o protegendo, sendo os dois remetidos a corte marcial onde são condenados a morte por fuzilamento. Os dois sobrevivem (obviamente) e são presos, até o General William Stryker (Danny Huston) surgir e os oferecer participar de um grupo de elite secreto do exército.
Os dois vão agindo com o grupo na África em busca de um metal raro que teria caído dos céus. Quando as coisas passam do limite, James abandona o grupo.
O que vemos a partir daqui é cheio de spoilers, e eu vou deixar para a próxima sessão. Mas o que pode-se dizer é que eu resumi mais ou menos os primeiros 30 minutos do filme nesses dois parágrafos. É isso mesmo, o filme, em verdade é uma desculpa esfarrapada para cenas de ação absurdas, explosões geradas por computação gráfica e doses cavalares de testosterona. Em verdade, para os fãs de quadrinhos, têm-se a impressão que Jeph Loeb reescreveu a origem do herói, desde as fases Chris Claremont com o grupo do Projeto Arma X, até a revista Origem de Bill Jemas, Joe Quesada e Paul Jenkins.
O que se vê é uma total falta de senso em diversas cenas. Simplesmente não há nexo em diversas cenas, praticamente com tudo sendo jogado na cara do público, obrigando este a engolir certas coisas, sem se aprofundar nelas. Muita gente vem e vai sem razão, outros que no começo, agem de uma forma, em outro momento mudam totalmente de personalidade e se tornam bonzinhos ou maus. Tirando isso, temos cenas de ação ridículas em que Wolverine, mais do que nunca, se torna a máquina de matar mais cabeluda dos cinemas.
A sensação que eu tive ao sair do cinema foi que muitos milhões de dólares foram gastos em um filme que vai acabar passando no Domingo Maior, mas que a chamada poderia ser: “Esse mutante cabeludo e seus amigos vão causar muita confusão”. Porque é só isso que vemos na tela: Confusão!
Com certeza esse filme vai render bastante grana para a produtora e para a Marvel, mas, sinceramente, a origem de Wolverine poderia ter sido contada muito melhor se os aspectos da infância dele, bem como suas missões com o governo tivessem sido melhor exploradas, deixando a fusão de seu corpo com o adamantium apenas para o final. Mas, quem sou eu para falar qualquer coisa, né?! O que importa é ganhar rios de dinheiro com produtos licenciados.
Bem, chega de me conter, eu quero falar alguns spoilers e quero que as pessoas que não queiram ler spoilers, que deixem de ler a partir de agora. Ok?
Bem, vamos lá, deixa eu fazer como sempre faço, analisando cada aspecto do filme, a começar pelo elenco:
Hugh Jackman (James/Logan/Wolverine), nosso carcaju favorito realmente é o mesmo ator dos outros filmes, incorporando nos cinemas a personalidade do herói, com base naquilo que lhe escrevem. Mas podemos ver que ele se preparou bem, tanto física quanto mentalmente. Além de estar muito bem fisicamente, a fúria no seu olhar é nítida em algumas cenas. Pena que o que lhe deram para trabalhar foi muito ruim.
Lieve Schreiber na minha concepção, foi o mais próximo de um Dentes de Sabre que os filmes dos mutantes puderam conceber. Victor Creed é um assassino maníaco homicida com tendências psicóticas e um sarcasmo que fez dele um dos vilões mais legais da Marvel, o problema é quando ele é mal escrito, acaba se tornando um assassino com os “sangui nos óio” e que simplesmente quer matar pessoas com seu “irmão”. Adoro os trabalhos de Schreiber e nesse filme ele foi acima das minhas expectativas, trazendo a Creed um lado sacana que poucas vezes se viu no vilão. Muito bom ator, porém, novamente, personagem mal escrito.
O resto do elenco basicamente poderia ter sido substituído por micos treinados porque daria na mesma. A razão de existir de um ator é ter um material pelo qual se poderia desenvolver o personagem, explorar suas facetas, expressões e trejeitos, enquanto se cativa o público para que acabe gostando mais dele. Nada disso ocorre com os outros personagens. É aqui que eu chego no momento decepção total:
Ryan Reynolds como Deadpool foi a segunda maior piada do filme. Ele não tem o tom de voz, ele não tem a sacanagem, ele não tem nada do personagem, apenas as espadas e a roupa vermelha. Cade o jeito sacana de ser, a maluquice? Deadpool era um doido de pedra em todos os sentidos, antes e depois do programa Arma X. Não se vê nem sombra do personagem em Reynolds, que poderia ser um ótimo Deadpool, se quisesse.
Taylor Kitsch como Gambit é a piada desse filme. Na primeira aparição do personagem, vemos ele como um malandro de bar, jogando poker de chapéuzinho e brincando com as cartas, meio como Chris Claremont o descreveu inicialmente, porém, de uma hora para outra, bate o Jeph Loeb e começa uma pancadaria non sense com Wolverine. Quando Creed surge, os dois começam a discutir e vem o Gambit discutir também, reclamando que ninguém entra no bar dele daquele jeito, só para tomar uma cotovelada na cara e cair desmaiado. O pau entre Wolverine e Creed começa e quando está prestes a acabar, surge um Gambit correndo pelo telhado com seu cajado, pula lá de cima e detona a rua toda!! POR QUE??? Porque ele ficou bravinho e resolveu devolver na rua? Além do mais, chegando ao fim, Gambit muda totalmente de personalidade, se tornando o parceiro mirim de Wolverine, ajudando ele como pode, ou seja, de malandro, ele se torna um idiota incompetente que só sabe usar as cartas no bar. Isso sem contar que o sotaque dele vai e volta, depende da cena.
Mas se é para apontar dedo na cara de alguém, vai ter de ser na cara de David Benioff e Skip Woods, os roteiristas. A história é fraca, o desenvolvimento dos personagens é horrível e as cenas de ação ganham tom de piada com o decorrer do filme. E para piorar, eles parecem gostar de coisas desproporcionais.
A luta final entre Wolverine e Creed contra o Arma XI começa ridícula a partir do momento em que o ser cria duas katanas de seus braços. Só que garras tem o cumprimento dos antebraços do personagem, katanas, no mínimo, a extensão toda de seu braço, o que implicaria que ele não poderia dobrar os braços quando elas estivessem dentro de seu corpo. Outra coisa, porque a luta foi parar em cima da torre de resfriamento do reator nuclear? Isso sem falar que a Arma XI era comandada por Stryker à distância, enquanto ele, incapazmente digitava os comandos em velocidade catação de milho no teclado. Horrível!!
Em verdade, no filme todo, o que vemos é uma sequência atrás da outra em que o público pára e se pergunta: Por que? Simplesmente são jogadas idéias e situações que não são explicadas. Quem não viu X2 não saberia quem era aquele moleque congelado com um olho de cada cor, não veria os detalhes da vida do herói, não entenderia nada. Fica uma sensação de vazio profundo toda vez que a história tenta ser desenvolvida, meio que do mesmo jeito que em X3, quando ficou claro que a produtora quis impor que houvesse um exército de mutantes na telona, sem explicar quem eles eram.
Agora, a pior foi colocar Emma Frost como a irmã da Raposa Prateada. Uma é originalmente descendente de povos indígenas e a outra filha de aristocratas ingleses. De repente, loira e morena viram irmãs, só para colocar ela ao lado do Ciclope? Meu, sinceramente, eu não consigo parar de achar erros graves no roteiro e na história.
A edição é outra coisa terrivelmente mal feita. Não há uma cena sequer em que a edição não pareça ter cortado pelo menos metade das falas, deixando buracos do tamanho do estado do Amazonas no roteiro. Isso sem se falar nas cenas obrigatórias de grito aos céus toda vez que alguém querido por Logan era morto na tela. Muito me lembra a cena tosca de Darth Vader gritando nããããooo no final de Episódio 3 (ou George Constanza de Sienfeld gritando Khaaaannn). Ridículo como parece.
O diretor e cinematógrafo ainda fazem certas escolhas de tomadas, com a descrita acima, que são totalmente clichês e desprezíveis. Um exemplo disso é a cena com a equipe de operações especiais andando calmamente pelas ruas da cidade, como se eles fossem os donos da rua, sem achar que eles seriam vistos nem nada. Ou pior, os excessos de closes nas mãos dos personagens para mostrar que eles tem garras. A gente já viu a primeira vez, não precisa repetir pela centésima vez meu caro.
Pena que o público desse filme vai ser bom, porque isso implica que o estúdio poderá continuar fazendo porcarias que a franquia se vende sozinha. Por essas e outras, eu tenho que deixar esse filme cair em desgraça e dizer que foi a pior adaptação dos quadrinhos Marvel até o momento, pior até que Homem Aranha 3, X-Men 3, Motoqueiro Fantasma e Demolidor.
Nota: 1
J.R. Dib