Aqui começa a derradeira jornada pelos melhores RPGs já feitos. Um tempo atrás, o Velloso falou de Chrono Trigger, um dos melhores jogos já feitos originalmente para o SNES que até hoje sempre entra nas listas de melhores RPGs de todos os tempos. A série Final Fantasy teve episódios que foram considerados como marcos na história dos videogames, bem como alguns considerados fracassos comparados com a grandiosidade da franquia.
A partir de hoje, em ordem não cronológica, começo a analisar os três melhores jogos da série, começando com o VI, talvez contendo o melhor vilão da série e uma das melhores histórias de toda a saga, que possibilitou ao jogador utilizar diversos personagens distintos e montar uma variedade de grupos jamais vista em qualquer outro jogo.
Estávamos em 1994 e a então Square já havia lançado cinco episódios da série nos consoles de 8 e 16 bits da Nintendo. A evolução dos jogos para a plataforma era clara, tanto que a concorrente Sega tentava a todo custo contornar esta situação com jogos que, para todos os efeitos, simulavam a qualidade de 32 bits. Porém, jogos como F-Zero e Dragon Quest estavam criando novas perspectivas no console da Nintendo, e a equipe da Square não iria deixar de entrar na onda desta evolução.
Este foi o último game da série a usar sprites e animação em ambientes 2D simulando 3D, e o último dos consoles de 16 bits. Quando o desenvolvimento do episódio VII havia começado, a Square procurou a Nintendo e disse que necessitava de mais espaço para o jogo e que os cartuchos do N64 não eram o bastante, rescindindo seu contrato com a empresa e arriscando-se com a Sony e seu PS1, um videogame que usava CDs ao invés de cartuchos de memória. Foi a evolução em termos de jogos e qualidade gráfica que praticamente ignorou a geração 32 bits, mas este episódio eu vou abordar semana que vem.
Desenvolvido por uma das, senão a melhor, equipe que o gênero já teve unida sobre o mesmo game, Final Fantasy VI foi construído desde o começo sobre uma base sólida e rica, cheia de personagens e visuais maravilhosos, usando o máximo de qualidade que o SNES lhe possibilitava. Os personagens foram desenvolvidos por Yoshitaka Amano, famoso pintor japonês que trabalhou em vários outros jogos da série e ainda em Chrono Trigger. Hironubo Sakaguchi, então diretor dos outros jogos, foi produtor e em seu lugar. Yoshinori Kitase e Hiroyuki Itou dirigiram e Nobuo Uematsu, o eterno compositor das trilhas da série, fez a mais extensa e complexa trilha de todos os Final Fantasys.
A História
Tudo começa com Terra Branford invadindo com o Império a cidade de Narshe, local em que havia sido encontrado um esper congelado (seres místicos fantásticos que representam desde elementos da natureza a alguns deuses criados apenas para o jogo). Durante o ataque, Terra, que estava sendo controlada por Kefka, o vilão, é libertada e acaba sendo encontrada por Locke Cole, um ladrão que promete ajudá-la a recuperar suas memórias. Ela se une aos Returners, um grupo de rebeldes que quer derrubar o Império. Terra é meio humana e meio esper, como aprendemos mais para frente no jogo, e sua origem é um dos principais componentes da interação entre homens e natureza, um dos temas recorrentes da série. O Império quer usar o poder dos espers em seus domínios industrialísticos, com grandes máquinas da cultura Cyberpunk, enquanto os Returners querem a queda do imperador e posteriormente, de Kefka, com o fim de salvar o planeta. Mas em Final Fantasy nada é tão fácil.
Terra tem poderes mágicos e o Império a quer morta porque a magia é proibida desde a Guerra dos Magos, 1000 anos antes, quando o Império tentou tomar os poderes dos espers. Agora, usando-se de tecnologia e mecânica e proibindo o uso de magia, o Império busca o domínio dos espers novamente, o que pode e vai acarretar em uma nova guerra com os seres místicos e, talvez, o fim do mundo.
Para quem acha a famosa história do homem contra a natureza clichê, temos de lembrar que além de se utilizar disso, os criadores do jogo ampliaram essa abordagem ao tratar do tema de forma controversa mostrando que os Returners não eram eco-terroristas, mas sim aqueles que tinham interesse de evitar que uma nova guerra viesse e destruísse tudo. A auto-preservação imperaria no jogo mais do que a consciência ecológica. Não estamos tratando de um Avatar em RPG com você defendendo Pandora dos imperialistas industrialistas do mal apenas porque você quer, mas porque é preciso. Em todos os momentos, a ligação da magia com a natureza é relembrada e também todos são avisados de que o uso indevido da magia pode causar danos muito maiores do que benesses.
Jogabilidade
Para começo de conversa, este foi, até o momento, o jogo da série com mais personagens jogáveis, totalizando 14 ao todo que, em diversos momentos, deveriam ser divididos em três grupos para alcançar objetivos distintos que fariam o jogo prosseguir conforme suas missões distintas eram conquistadas. O sistema de combate era simples, usando-se 4 personagens na tela por vez, com o agora consagrado Active Time Battle, que é uma espécie de batalhas em turnos, mas com o tempo correndo, e cada um tendo a sua vez de agir conforme se enche uma barra de atuação. Ao encher a barra, o personagem faz aquilo para o qual foi comandado.
Os comandos são os sempre clássicos Ataque, Magia e Item, variando entre os personagens o tipo de armas e itens que eram colocados em cada um, criando variações em seu repertório de combate. As magias se concentram em itens chamados magicites, que advem dos espers vencidos em combate e ensinam a magia ao personagem ao qual forem equipadas, criando a possibilidade de que todos os 14 personagens aprendam quase todas as magias do jogo, exceto algumas únicas e específicas que só alguns terão.
Não havia a possibilidade da escolha de jobs, ou seja, se um personagem era ladrão no começo, assim ele iria ficar até o fim, mas ele ganharia a possibilidade de usar magias no decorrer do jogo.
O vilão
No começo, todos os holofotes estão no Imperador e sua tentativa de capturar os espers. Porém, surge logo após disso o homem que veio para mostrar do que um verdadeiro vilão é feito: Kefka. Ele era o mago da corte do Imperador Gestahl e voluntário para uma infusão experimental de magicite, que lhe rendeu poderes mágicos, mas o deixou louco. Em sua loucura, Kefka ficou com delírios niilistas, em que a destruição de tudo era a única coisa que importava, qualquer que fosse o meio.
Kefka mata todos os espers remanescentes e invade a terra a qual eles haviam se isolado e, ao lado do imperador, toma os magicites e as Warring Triad, três estátuas que balanceiam a magia no mundo. Fazendo com que a ilha dos espers se desprenda do mundo, este continente flutuante se torna lar da principal traição de Kefka: a morte do imperador Gestahl. Além disso, ele modifica a posição das estátuas e de seu ponto de vista superior observa enquanto chove fogo sobre o mundo quando a magia Light of Judgment é acionada.
Após isso, os Returners devem se reunir novamente e acabar com Kefka de uma vez por todas em uma batalha final que sempre será lembrada por todos que chegaram até ela.
O mais interessante de Kefka é que seus objetivos sempre foram simples e claros desde sua primeira aparição no jogo. Ele queria ver o mundo pegar fogo. Não havia força do mal por trás dele, ele não é um traidor do grupo, nunca teve uma infância ruim. Ele apenas era mal e extremamente poderoso em termos de magia. Por essa simplicidade, poder e suas falas mais do que perfeitas, para não dizer hilárias, é que Kefka tem que ser considerado um dos melhores vilões de Final Fantasy. Isso sem contar que ele foi o primeiro personagem em toda série a ter uma voz, no caso uma risada vilanesca que adicionava mais ainda ao seu lado cartunesco.
O Grupo
Unir 14 seres em busca de um objetivo comum. É este o desafio do jogador desde o começo do jogo. Cada um dos personagens de Final Fantasy VI tem uma história fantástica e suas razões para entrar para seu grupo. A começar por Terra, meia esper, meia humana, a única portadora de magia natural no jogo, passando por Celes, um antigo general do Império que se virou contra seus comandantes e foi preso, até Shadow, um ninja cujo passado é pouco explorado e visitado durante a duração da aventura.
Em diversos momentos, somos colocados em situações específicas de cada personagem, mostrando seus passados e suas motivações, sendo algumas passagens mais profundas do que a história principal e cativando o jogador, que se preocupa com aqueles personagens e suas vidas.
O interessante é saber que nem todos os personagens jogáveis são necessários para finalizar o jogo, já que na segunda parte, após Kefka usar o Light of Judgment no mundo, os personagens se espalham e trazer todos de volta ao grupo é opcional, e deve ser feito em side quests distintas e não obrigatórias. Claro que, com todos juntos, as chances de vitória são muito maiores e é bem mais legal ter um grupo completo, inclusive com os três extras disponíveis mais para o fim do jogo.
Para quem curte as aparições de Cid, desta vez ele não é um capitão de nave, mas sim o cientista que deixa Kefka com poderes mágicos e loucura.
Para os fãs de Chrono Trigger, é interessante de se jogar Final Fantasy VI em razão das diversas inspirações e usos de tecnologia que um teve no outro. Certas magias são muito parecidas, bem como as expressões e gestos dos personagens.
Ainda, há um grande momento no meio do jogo em que simplesmente os personagens devem entrar em uma ópera e o jogador deve se lembrar claramente de cada uma das falas durante toda a apresentação. Digo que é longa e muito legal, já que temos de abstrair tudo que vimos até o momento para entrar em uma nova história dentro de um jogo. Esta ópera é sempre relembrada pelos jogadores como um dos melhores momentos de toda a série. Abaixo, a primeira parte da ópera.
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Não sei se foi o bastante e se consegui lembrar detalhadamente de todos os pontos importantes do jogo, e fico sempre aberto a correções já que faz mais de dez anos que eu joguei e com certeza algumas coisas devem ter sido apagadas ou embaralhadas na minha cabeça, especialmente em se tratando da motivação dos personagens.
Semana que vem, Final Fantasy VII, talvez o mais amado de todos os jogos da série.