Ao contrário dos adventure games mais famosos já feitos, sendo a maioria deles produzidos pela finada LucasArts, valendo ser citados nomes como “Day of the Tentacle“, “Monkey Island“, “Full Throttle“, entre muitos outros, o indie russo “The Kite” se distancia do clima típico de humor normalmente atrelado a esse gênero de jogo eletrônico para abordar temas adultos como o alcoolismo e a violência doméstica.
Desenvolvido pela Anate Studio e lançado em março de 2012, o game hoje faz parte do The Russian Indie Bundle #1, podendo ser adquirido gratuitamente tanto na língua russa, quanto em inglês. Nesse point-and-click clássico você controla Masha, uma dona de casa que tenta administrar um lar caótico em meio a miséria do subúrbio de uma pequena cidade do interior da Rússia dos anos 90. A mecânica é bem simplista e não traz tantas inovações ao gênero; aqui, toda a atenção é voltada aos dois botões do mouse. Os itens adquiridos são facilmente administrados através de um inventário na parte superior da tela.
A trama se desenvolve a partir de uma briga entre Masha e seu marido, após a moça tentar convencê-lo de parar de beber. A cena que retrata a violência sofrida por Masha é muito bem construída, retratando a visão do filho do casal sobre o acontecido, que, deprimido e sozinho, foge de casa munido apenas de seu único brinquedo, uma pipa (daí, Kite). A protagonista parte então em uma busca para trazer o menino de volta para casa.
Os primeiros puzzles não são muito divertidos, mas acabam sendo interessantes, uma vez que servem para passar ao jogador a real atmosfera de depressão e miséria que o jogo tenta construir; é possível considerar que o tédio relacionado a construção dos enigmas é proposital, muito embora constitua uma manobra arriscada, que acaba por afastar os jogadores mais impacientes. Sua primeira tarefa é alimentar seu filho, cuja idade gira em torno dos seis anos. Logo sem seguida, Masha é obrigada a conhecer o trabalho extremamente tedioso do marido – o puzzle relacionado à isso é por demais torturante, ainda que acabe por ser muito bem sucedido em passar a ideia precisa do quão desmotivado aquele homem está com relação a seu emprego, contextualizando, por conseguinte, seu vício por álcool e seu total desprezo por sua família. O título ainda implementa uma mecânica de escape the room logo no primeiro ato, o que acaba sendo um atrativo a mais para os amantes do gênero.
A arte de Tanya Medvid toda em tons de cinza, juntamente com a pertinente trilha sonora, aproveita bem as sombras para apresentar um ambiente frio, sombrio e puramente emergencial, desenvolvendo a ideia de que todas as suas ações são voltadas unicamente para a sobrevivência e a preservação de sua família, instituindo automaticamente uma relação interpessoal entre o jogador e o personagem.
O game é dividido em oito partes que podem ser jogadas em pouco mais de duas horas, constituindo uma experiência intensa, capaz de passar uma importante mensagem.
Certamente é um jogo que merece ser conhecido, sobretudo porque o título é totalmente gratuito e não possui muitas restrições quanto ao hardware.
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