Plataforma: Playstation 3 |
Gênero: First Person Shooter |
Selo: Sony Computer Entertainment |
Desenvolvedora: Guerrilla Games |
Lançamento: 27 de fevereiro de 2009 |
Pode parecer estranho, mas o desenvolvimento de games atuais – e por “atuais” entenda-se “nos últimos cinco anos” – lembra bastante o auge do rock progressivo. Para quem não conhece a história do rock, em algum ponto dos anos 70, já não havia dúvidas de que o rock tinha chegado para ficar; assim, os artistas começaram a tratar o gênero musical como algo muito sério, elaborado e intrincado. Os dias coloridos do imaginário psicodélico, dos Beatles e da paz e do amor hippies tinham ficado para trás e foram substituídos por canções herméticas de 20 minutos e diversas partes, geralmente inapropriadas para festanças ou para execução em rádio. O rock tinha atingido a maturidade, para o bem e para o mal.
Killzone 2 pode muito bem ser considerado um game “progressivo”, exceto pelo fato de não ser tão longo (jogadores experientes devem conseguir terminá-lo em menos de 9 horas, enquanto meros mortais como eu o terminarão em cerca de 12; obviamente, obter todos os troféus, ou mesmo a maioria dos online, exigirá muito mais). Duração à parte, todo o resto tem escala de superprodução, formando um espetáculo comparável aos dos shows de rock mais bombásticos e pirotécnicos.
Embora o modelo de orçamento multimilionário já tenha se entrincheirado na indústria dos games há quase uma década, Killzone 2 parece estar acima da carne seca nesse quesito. Seus efeitos visuais, detalhes gráficos, efeitos sonoros, animações, ritmo e atuações vocais são todos de primeira linha. Além disso, fora os engagos ocasionais (“Loading…”) na transição entre uma área e outra, a taxa de quadros do game também roda suave como seda – algo essencial para um jogo de tiro em 1ª pessoa.
Apesar disso, assim como na maioria das canções do rock progressivo, Killzone 2 demora um pouco para engrenar. Mal resumindo, a campanha cobre os esforços da ISA, uma organização paramilitar humana, para derrubar o ditador Visari, líder da raça Helghast; pouca coisa além disso realmente importa no game. Os primeiros capítulos da campanha estão repletos de oportunidades para correr, atirar e buscar cobertura entre uma e outra área contida, como em qualquer jogo de tiro em 1ª pessoa – e são quase que totalmente desprovidos de narrativa, contexto ou desenvolvimento de personagens.
Estas fases iniciais, embora intrincadas, são exemplos perfeitos de como alguns designers de games modernos parecem ter um medo profundo de cores. Mesmo que a abundância de tons de cinza e verde-musgo seja uma escolha artística apropriada para um cenário desolado em um planeta estranho e distante, há outro problema: as primeiras horas de jogo se passam na mesma cidade com o jogador correndo entre edifícios e aposentos praticamente iguais, o que atrapalha até mesmo o seu senso de direção. Não é de surpreender, então, que o game ofereça ao jogador a oportunidade de ligar, por alguns segundos, uma seta de direção rumo ao objetivo corrente da campanha.
Porém, aqueles que persistirem nesta introdução climática e repetitiva serão presenteados com uma série de crescendos e partes mais animadas na “canção” Killzone 2. A transição acontece exatamente quando a equipe Alfa, da qual o protagonista Sev faz parte, sai do povoado Helghast e tenta retomar uma ponte. Dali em diante, Killzone 2 finalmente começa a demonstrar um semblante de narrativa e um pouco mais de variedade na ação e nos cenários. Já valeria a pena “escutar” boa parte desta “canção” só para chegar à parte em que Sev entra em uma espécie de robô gigante – ela é tão divertida que quase vale sozinha o preço do game, mesmo sendo uma das fases mais fáceis.
É uma pena que o design das armas também não tenha muita criatividade, mas… Ah, isto é rock progressivo! Não se trata de melodias grudentas, e sim da execução mais perfeita possível. As armas, em geral, parecem distintas umas das outras, embora corriqueiras: estão incluídas uma série de rifles, uma escopeta, um lança-mísseis, uma pistola e assim por diante. Suas peculiaridades não farão o jogador sorrir de satisfação tanto quanto, digamos, armas como a Bullseye, a Magnum com balas explosivas ou o rifle Auger (todas da série Resistance), mas elas parecem “pesadas” e realistas na medida certa. Como muitos games de tiro em 1ª pessoa não conseguem lidar nem mesmo com essas coisas básicas, as armas de Killzone 2 se tornam o equivalente aos solos de bateria de Neil Peart (Rush) – impressionantes, mas ainda assim previsíveis.
Embora um bom número de resenhas desdenhe da narrativa de Killzone 2, acredito que o maior problema seja o tempo que ela demora para dar as caras. É uma narrativa clichê? Com certeza. Porém, sejamos francos: o mesmo se aplica a 95% dos games de tiro atuais, incluindo a amada série Call of Duty – é só que esta esconde melhor os seus clichês. Em Killzone 2, os autores/designers não mexem um dedo sequer para fugir dos temas prevalentes em histórias de guerra: camaradagem, honra, decisões rápidas (que o assombrarão para sempre) e tirania – que até pode ser combatida com armas, mas nunca totalmente erradicada por elas. Nada de especial, mas o suficiente para mantê-lo jogando se conseguir passar do primeiro terço do game.
Somando tudo, trata-se de um game de tiro bastante agradável, com tudo o que se esperaria em termos de campanha e de modos multiplayer cooperativos e competitivos. Só não espere que ele mude o curso dos games de tiro em 1ª pessoa, muito menos dos games modernos em geral. Killzone 2 permanecerá ali, pacientemente, entre as melhores obras de seu gênero e era… Até que o equivalente gamístico ao punk rock chute a sua bunda e devolva a diversão e as risadas à próxima geração de games. Enquanto isso, não perca a chance de ver a história acontecendo e vá “assistir” Killzone 2 “ao vivo” – nem que seja para matutar como o gênero de tiro em 1ª pessoa poderá sair da arapuca em que se meteu.
Apresentação: 4.5/5 |
Enredo: 3/5 |
Jogabilidade: 4.5/5 |
Fator Replay: 3.5/5 |
[xrr rating=3.8/5] |
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