Alexandre Gil França lança “Terebentina” na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)

“Gil França então constrói um mundo de instabilidade e cruzamentos que recusam as hierarquias organizacionais. Notícias de rádio e jornal se cruzam com atores vestidos de cartas de tarô; um ônibus de lotação pode se tornar um avião de primeira classe; torturadores passam por bailarinas e criam suspeitos; e mariposas podem ser o sinal de loucura, ou então um ataque inclemente; etc. Tudo está acontecendo no cruzamento das suas possibilidades de leitura, porque essas possibilidades são os modos mesmo da existência aqui proposta”.

Guilherme Gontijo Flores, poeta, ensaísta e tradutor, na orelha

“Personagens como Junior, Lila, Janaína e Cíntia merecem um roteiro próprio, não há como descrever esta obra, o único formato que possibilita sua real compreensão é a leitura. Uma leitura incrível. Certamente, um dos melhores livros que li este ano […].”

Vitor Zindacta, escritor e crítico literário, editor do site Post Literal

Destacando-se por sua escrita experimental e híbrida, “Terebentina” (156 pág., editora Urutau) é o novo livro de contos do escritor curitibano Alexandre Gil França. Trazendo a ótica de personagens socialmente invisibilizados, especialmente artistas pequenos ou de pouco reconhecimento, o autor explora suas narrativas, angústias e, principalmente, seus afetos. A obra tem orelha assinada pelo prestigiado poeta, tradutor e ensaísta Guilherme Gontijo Flores, vencedor do Prêmio APCA em 2018, e está à venda no site da editora. 

A obra será lançada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no dia 23 de novembro, às 15h, dentro da programação da Casa Urutau (Rua Tenente Francisco Antônico – ou Rua do Comércio, número 60, antigo 33, Centro Histórico).


Para o autor, as temáticas densas que ambientam as narrativas partem de um processo investigativo. “Penso que a descoberta do amor por pessoas invisíveis e desprezadas socialmente se configura como um território profundo de descobertas humanas. Minha intenção com o livro foi investigar justamente como o afeto pode circular por esses meios”, aponta.

Os doze contos que integram a obra são protagonizados por essas subjetividades particulares, como, por exemplo, um dançarino de Tiktok, uma cantora de boteco ou um ator de comerciais. Tratando-se também de histórias que evocam pequenos e anônimos artistas, que ainda se veem distantes do mainstream, as temáticas do apagamento e da invisibilidade em “Terebentina” são atravessadas pela dicotomia do sucesso e do fracasso. Nas histórias, esses conflitos impactam e são impactados pelas relações afetivas construídas pelos personagens. 

A estrutura de “Terebentina” também remete a questão do artista e de sua exposição, enfatizando o apuro formal de Gil França, já que o livro é estruturado como se fosse uma exposição artística. “Tem a abertura, o hall de entrada, o primeiro andar, onde são distribuídos alguns personagens, que seriam as obras. E esses personagens são indivíduos comuns e invisíveis que, na minha opinião, têm ali a maior concentração de humanidade possível. Acho que ‘Terebentina’ vasculha justamente esses espaços e tenta dar carne e nervos para essas pessoas comuns”. 


A escolha do título também foi motivada pela estrutura e pela temática da obra. O termo “Terebentina”, que é tanto o nome dado ao solvente utilizado na limpeza de pincéis quanto um apelido para cachaça, consegue dar conta da complexidade das temáticas retratadas no livro, como o apagamento, o afeto, a embriaguez e o mundo artístico.

Escrever até onde o fôlego aguentar: a escrita múltipla de Gil França


Gil França cita, como referências em “Terebentina”, nomes importantes da história da literatura, como James Joyce, Jorge Luis Borges, o filósofo Gilles Deleuze, além dos cineastas Charlie Kaufman e Eduardo Coutinho.

Gil França define sua escrita como múltipla, que empresta recursos de diversos gêneros para construir um cenário singular de leitura.  Segundo ele, “a ideia é sempre dar a melhor possibilidade de imaginação e participação para o leitor.” Em relação ao seu processo criativo, ele afirma que escreve “até onde o fôlego aguentar” e que entende a ação da escrita como um ato de recolhimento. “Preciso estar sozinho para a coisa fluir bem”, conta. “Para contos, a meta é sempre ir até a página quinze, mais ou menos. Depois, vou cortando o que considero gordura.”

Nascido em Curitiba (PR), em 1982, Alexandre Gil França já trabalhou com música, poesia e teatro. É mestre em Artes Cênicas pela USP e doutorando em Teoria e História Literária pela Unicamp. Estreou na literatura em 2015, com o romance “Arquitetura do Mofo” (Selo Encrenca/ Arte e Letra).  Atualmente, é editor da Mathilda Revista Literária, ao lado da poeta Iamni.  Também trabalha em um novo livro de contos e promete uma nova peça de teatro para 2024.

Confira um trecho do livro:

“Do lado de fora, Junior espera o ônibus escorado na mureta pichada de preto:  

“Eu ♥ SP”.  

Ainda maquiado, olha as fotos de sua timeline. As primeiras aulas de teatro piscavam uma alegria irreconhecível em seu perfil. Quem era aquela pessoa insuportavelmente feliz? Quem? Sua mãe insistia em uma ligação, ou melhor, em uma chamada de vídeo. Será que esperava ver na sua cara borrada a misteriosa cara do sucesso?”

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