Maria Eugênia Moreira fala sobre “Os pares de sapato não acompanham as quedas”

Loucura, culpa, luto e, “basicamente, tristeza”. São essas as palavras que a estudante de Psicologia Maria Eugênia Moreira, que estreou na ficção com “Três Palmos” (Penalux, 2021) usa para descrever seu novo romance, “Os pares de sapato não acompanham as quedas” (2023, 67 páginas), com publicação pela editora Reformatório. 

Numa escrita que mescla a narrativa ao diário, o livro traz a experiência de uma mãe que perde o filho aos 29 anos para o suicídio. Muito inspirada na história trágica do escritor carioca Victor Heringer, influência tanto literária quanto acadêmica da autora, “Os pares de sapato não acompanham as quedas” tem seu enfoque na trajetória dos que ficam, cujo luto e desorganização psíquica nos convidam a participar, com a personagem, a sua própria investigação em torno do ocorrido.

Confira a entrevista completa com a autora:

O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita?

O livro nasceu de um pensamento persecutório, de uma necessidade de esclarecimento sobre como acontece um suicídio, como se dão todos os minutos que precedem e sucedem a tragédia. É um assunto que me provoca muito, porque é um trauma de muita escuridão – coisa que me escapa demais. O processo foi curioso, sofri como a mãe que perdeu o seu filho. Tinham dias em que eu sentia uma saudade absurda de uma pessoa que eu não conheci e que não se matou e que sequer existiu. Como se me faltasse um velório, uma despedida de alguém irreal. Maluquice total.

Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?

Os temas são luto, maternidade, culpa e loucura. Basicamente: tristeza.

Por que escolher esses temas?

Não acho que tenha sido uma escolha. Os temas vieram daquilo que eu estava vivendo, pensando e sentindo, o que na época estava muito ligado à temática do luto familiar. No fim acabou sendo uma tentativa de superar o meu sofrimento com outro muito maior, mesmo que fictício.

Quais são as suas principais referências como autora?

Tenho como influência os autores contemporâneos, aqueles com os quais me deparo diariamente via redes sociais. Essa aproximação meio fantasmagórica… Digo: Victor Heringer, Marçal Aquino, João Tordo, Rita de Podestá… Venho mergulhando nos livros do Garcia-Roza, também, o que acaba influenciando a minha escrita.


Que livros influenciaram diretamente a obra? 

“O Amor dos Homens Avulsos”, com certeza. Primeiro porque pesquisei esse livro para o meu TCC enquanto escrevia Os Pares, depois pela fluidez melancólica-engraçadinha da escrita de Victor – coisa que admiro e me impressiona muito.

Como você definiria seu estilo de escrita?

Acho que tenho uma escrita rápida, mas muito centrada na descrição de algumas situações. Gosto de enriquecer o texto com um banal bem descrito e familiar.

Você escreve desde quando? Como começou a escrever?


Eu escrevo desde os meus 14 anos, mas nunca fui disciplinada com isso. Comecei a escrever quando fiquei triste verdadeiramente pela primeira vez. Desde então funciona assim: como quem chora até não conseguir mais, eu escrevo. Só sei assim, quando não estou muito legal. Risos.

Como é o seu processo criativo? 

Meu processo de escrita é um processo independente, ele começa e termina sem que eu precise fazer o esforço da disciplina. É estranho falar isso, mas é verdade. Funciona como um espasmo que logo vai embora.

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?

Não. Justamente por ser uma escrita que surge sem preparo, acabo não criando metas e nem rituais. Me frustraria não conseguir atender a essas duas coisas, então nem me proponho a isso.

Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?

Não sei se tenho uma resposta pronta para essa pergunta. Como eu disse, o texto literário, para mim, surge sempre de alguma espécie de sofrimento. Nesse sentido, eu queria ficar bons anos sem escrever – significariam anos de paz. Penso, porém, em começar a me dedicar à escrita crítica e acadêmica sobre a literatura, já começando agora no pós-faculdade. Quem sabe.  

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