Trauma, amor e desejo homoerótico: uma conversa com Hermes Coêlho, autor de “Violado”

“Violado”, o segundo livro do escritor e jornalista piauiense Hermes Coêlho  (@hermescoelho), desdobra-se em uma jornada poética que atravessa temas profundos e instigantes. Publicado pela Editora Patuá, o livro, dividido em seis partes, explora os complexos traumas infantis, cenas poético-amorosas contemporâneas e um desejo homoerótico que se insinua sutilmente. Com versos curtos e meticulosamente escolhidos, o autor reinventa sua poesia, criando uma experiência literária envolvente que desafia convenções e expressa a busca por uma autenticidade poética.

Encerrando este mergulho poético, encontramos Hermes Coêlho, atualmente residente em Brasília e figura destacada na TV Senado, onde atua como apresentador do programa Cidadania. Sua biografia é marcada por uma trajetória entrelaçada com a busca incessante pela expressão artística verdadeira, influenciada por clássicos da poesia brasileira e pela rica tradição da literatura de cordel nordestina. Ao explorarmos “Violado”, celebramos a coragem de Hermes em compartilhar sua jornada íntima e expressar, através da poesia, a complexidade e beleza da experiência humana.

Leia a entrevista completa com Hermes Coêlho:

Como você começou a escrever? 

Escrevo poesia desde os 15 anos. Meu primeiro livro, “Nu”, traz os primeiros poemas, escritos dos 15 aos 20 anos. Comecei a escrever prosa na infância ainda. “Violado” conta um pouco essa história. Não consigo viver sem a palavra escrita. Ela me acompanha desde que aprendi a desenhar as primeiras letras com significado.

Se você pudesse resumir os temas centrais de “Violado”, quais seriam? 

Processo que transforma ferida em cicatriz orgulhosa. Rito de passagem. Sublimação. Não foram temas “escolhidos”. A poesia se impõe. A única coisa que me resta é burilar os versos para que saiam da maneira mais clara ao leitor.

Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?

Todos fomos, de certa maneira, violados, em especial na infância, quando nossas vozes ainda estão em formação. O livro tem uma forte mensagem de resiliência e de ressignificação do trauma e da dor. A capacidade tão humana de renascer. Ver a ferida virar cicatriz e exibir com orgulho a vitória sobre o que parecia intransponível. 

Quais são as suas principais influências literárias? 

Na poesia, Paulo Leminski, Hilda Hilst e a literatura de cordel nordestina. Na prosa, Gabriel García Márquez, Clarice Lispector, Machado de Assis, Hermann Hesse e O.G. Rêgo de Carvalho.

Leminski e seus versos prosaicos, humanos, falam diretamente comigo enquanto poeta. Fui Leminskiano antes mesmo de conhecer sua obra. Hilda Hilst é inspiração. Forma e conteúdo casados com maestria. Gosto também de muitos de seus poemas mais sensuais, eróticos, outra marca de muitos dos meus. Machado de Assis e seu olhar sem rodeios para a natureza humana me seduziram cedo aos clássicos. Mas a prosa poética do colombiano García Márquez é de uma latinidade que toca fundo meu peito. Lispector, Hesse e O.G. Rêgo têm uma temática profunda que vai no cerne existencial do leitor. Eles nos desnudam. E a nudez (de corpos, almas), a busca pela essência das coisas é um tema perene para mim.

Algum livro influenciou a obra diretamente?

“Demian”, de Hermann Hesse, na temática. O livro traz a reflexão de um homem sobre as vivências traumáticas da infância. E a desconstrução e reconfiguração das relações. Há, na obra, forte carga homoerótica, a meu ver, na relação entre Demian e Sinclair. Tudo com sutileza, afinal, falamos aqui de meados do século XX. A poesia de Leminski também é uma grande influência nos versos livres, crus, sensuais. No diálogo proposto com o leitor. 

Como foi o processo de escrita  de “Violado”? 

Não houve motivação externa, na verdade. Sempre digo que a poesia é um imperativo. Ela sempre se impôs. Cabe a mim, atender a esse chamado da melhor maneira possível.

Como você definiria seu estilo de escrita? 

Livre, sensual, crua e lírica. Não necessariamente nessa ordem.

Como é o seu ritual de escrita? 

Primeiro as palavras dançam na mente. Vão para o papel ou para uma tela. Os dias seguintes são de correção, aperfeiçoamento. Meus poemas nascem da dor. E são aperfeiçoados pelo suor.

Tem alguma meta diária de escrita ou preparação específica? 

Não. Mas deveria.

O que vem por aí? 

Quero me aventurar na prosa. Tem um livro de contos vindo por aí.  E um romance que está em fase inicial ainda. E mais poesia – sempre! O próximo livro de poemas tem trazido muito da minha dança com as palavras. Também tenho entrado na seara das lendas brasileiras. Como fui parar nessa temática? Acho que foi depois de conhecer mais de perto a riqueza de nossa tradição ancestral indígena quando estive em Alter-do-Chão, no Pará. Toda lenda revela mistérios e esconde verdades. É quase um jogo poético. Isso me fascina.

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