“Você sabe que eu não acredito em vida após a morte. E que não acredito em reencarnação. Mas naquele momento pensei mesmo. Não, eu não pensei; eu soube que eu tinha sido um daqueles pintores daquele claustro. Eu soube que havia passado anos da minha vida naquele lugar” página 12
O ensaísta italiano Contardo Calligaris, colunista semanal da Folha de São Paulo, em “O Conto do Amor” (Cia das letras, 124 páginas, R$ 34,00), uma bem sucedida empreitada a prosa moderna, onde o autor usa o verbo para envolver o imaginário e o real. Como uma homenagem ao amor, o autor fala do sentimento de pai para filho, e homenageia o seu pai, Giuseppe, morto em 1995, num enredo que se aproxima de William Faulkner no uso alternado das vozes. No trecho acima, vemos o exemplo dessa maneira meio que autobiográfica meio que ficcional construída a partir dos diários escritos por seu pai, durante décadas. Carlo Antonini, seu alter ego, escuta o pai, Pino, numa conversa nunca ocorrida antes, sobre um acontecimento insólito ocorrido em sua juventude numa visita a um convento no interior da Toscana. Ali, descobriu que fora, numa vida anterior, o ajudante de dois pintores medievais, autores de afrescos da vida de São Bento. Carlo, curioso, vai à Toscana para ver os afrescos e se depara com algo inusitado, o rosto de São Bento era igual o do pai quando jovem.
Uma história, envolta como um thriller, cheia de surpresas, que envolverá os personagens em um caso amoroso ocorrido na Segunda Grande Guerra e seu desdobramento da época ao presente. Calligaris, compõe seu texto, usando a sua experiência como ensaísta e psicanalista, mostrando que o amor não é somente um recado de um homem com uma mulher, mas com as coisas comuns do nosso cotidiano, o sentimento que temos com nossos pais, com a nossa família, com nossas lembranças. E como consegue abordar esse lado sentimental de cada um. Um policial romântico, com doses de emoção que alavancou na época de sua publicação seus textos e com a sutileza do registro psicológico. Um bom entretenimento.
Comente!