Iscas (Record, 320 páginas) ou no original Bait, romance de estréia do escritor canadense J. Kent Messum, possui o enredo daqueles filmes de baixo orçamento para televisão: seis viciados em heroína são sequestrados das ruas de Miami e levados para uma ilha deserta. Lá, descobrem que há um prêmio para escapar da ilha, tudo que eles tem que fazer é nadar, se não fosse as águas infestadas de tubarões e um grupo de homens armados – seus sequestradores – estacionados em um barco nas proximidades, que inexpugnavelmente barram qualquer fuga.
Meio que Lost junkie, Iscas não vai tão longe, por mais que a narrativa tente fazer algo único ou transgressivo em relação ao conceito, ela não consegue se elevar muito acima desse conceito, por mais que o autor tente, o que encontramos está aí neste breve resumo.
A estrutura segue a narrativa, a primeira metade ambienta o leitor com o cenário e os “competidores”, alternando presente e flashbacks. Cada um dos capítulos introduz cada um dos personagens, onde acredito que daria para ter desenvolvido melhor, pois o autor ignora as complexidades da natureza humana e do valor de explorar tais condições através da ficção, assim os personagens são reduzidos a estereótipos, para não dizer caricatos.
Iscas, no entanto, demonstra uma espécie de corolário que nos leva a torcer para os tubarões. Messum cria uma estória em um nível quase existencial de desesperança e desespero. O leitor está ciente, desde o início, que as chances são tão decididamente contra o grupo na ilha que é apenas uma questão de tempo até que os tubarões façam uso de sua natureza. Aí, podemos até compreender que o autor queira passar uma mensagem, que todos somos predadores, impulsionado pelos nossos apetites, implacavelmente perseguindo nossos próprios desejos e necessidades, sejam viciados, psicopatas ou pessoas normais. Um livro sombrio com uma narrativa despojada, sangrenta e inflexível. Vale pela curiosidade.
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