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Kraven é a despedida melancólica do Sonyverso

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Ninguém acreditava que “Kraven, O Caçador” seria qualquer coisa distinta do que a Sony tem apresentado em seu universo Marvel focado em vilões do Homem-Aranha, o chamado “Sonyverso”. Mas em nenhum trailer ficou claro que o estúdio visava se superar com este título, e não de forma positiva. Saído, obviamente, dos quadrinhos do Homem-Aranha, Kraven, pode não ser o vilão mais conhecido do cabeça de teia, mas é bastante popular entre os fãs do personagem, o que justificou ganhar um filme só dele.

Aqui temos a história de origem do personagem. Kraven (Aaron Taylor-Johnson) vem de um lar criminoso e de uma família russa de caçadores. Seus poderes nascem de uma força sobrenatural e super humana após um ataque de leão (!!!). A relação complexa com seu pai Nicolai Kravinoff (Russell Crowe) o leva para uma jornada para se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores de sua linhagem. Mas quando seu irmão corre perigo, ele deve provar seu potencial.

Como se pode perceber, não há exatamente uma motivação clara. E é bastante complicado enxergar alguma lógica ao longo de mais de duas (sofridas) horas de duração. Se tudo fosse pretexto para cenas de ação mirabolantes, pelo menos haveria diversão. Mas “Kraven” é enfadonho, sem o menor esforço de propor algo que ao menos deixe o espectador sentado na ponta do assento. E entre uma e outra cena de ação, que a certa altura ninguém se importa, há diálogos ridículos, do tipo que você se pergunta se não ouviu errado, de tão inacreditável.

Não espere fidelidade aos quadrinhos. A começar que não se trata de um vilão. No máximo um anti-herói. Mas até aí tudo bem, pois nas HQs vilões mudam de lado e atuam como heróis. Desde que houvesse uma história interessante a ser contada. Aqui optou-se pelo genérico. O roteirista Richard Wenk, que tem produções interessantes no currículo como a trilogia “O Protetor”, “Mercenários 2” (o melhor da franquia) e o bom remake de “Sete Homens e um Destino”, assinou o script juntamente com a dupla Art Marcum e Matt Holloway, que cometeram “Transformers: O Último Cavaleiro” e “MIB: Homens de Preto Internacional”. A impressão é de que o trabalho foi feito pelos três em separado e sem nenhuma comunicação no processo. Talvez até brigados entre si, resultando em algo tão desconexo.

O diretor J.C. Chandor já comandou dois títulos bastante respeitáveis: “Até o Fim”, com Robert Redford, e “O Ano Mais Violento”, com Oscar Isaac e Jessica Chastain. Infelizmente o domínio mostrado nos filmes citados passa longe desse longa da Sony. Aqui ele faz o papel de diretor de aluguel, sem a menor personalidade, apenas seguindo as instruções do estúdio. Não é exagero considerar esse uma mancha em seu currículo como diretor.

Aaron Taylor-Johnson até se empenha para interpretar o personagem com alguma dignidade, mas fica prejudicado pelas escolhas equivocadas do roteiro e acaba oscilando entre um herói de ação B à moda anos 90 e um Wolverine de quinta. Ao menos há uma tentativa de conferir seriedade ao que se está interpretando, ao contrário de Dakota Johnson que interpretou Madame Teia sem nenhum compromisso. A personagem Calypso, de Ariana DeBose, parece estar ali apenas para o protagonista ter com quem dialogar. A trama se desenrolaria com a ausência dela sem o menor prejuízo. O vilão é um dos piores já concebidos em todo universo Marvel e Russell Crowe visivelmente embarcou no projeto para custear alguma propriedade.

“Kraven, o Caçador” é o encerramento do Sonyverso. A partir de agora o estúdio irá focar na parceria com a Disney no MCU (o próximo título é Homem-Aranha 4) e nas animações como Aranhaverso. Se a Sony fosse um pouco mais sábia teria mexido no calendário – que já foi muito mexido – e colocaria “Venom 3” nessa despedida que seria bem mais digna caso se desse com o filme do simbionte. De forma melancólica é concluído uma empreitada com muitos baixos (este, “Madame Teia”, “Morbius”, “Venom 2”) e alguns altos (talvez apenas “Venom” 1 e 3). E nas salas de reunião do estúdio, esse universo Aranha sem Homem-Aranha já é um livro encerrado e fechado.

Kraven: O Caçador

Kraven: O Caçador
3 10 0 1
Nota: 3/10 - Muito Ruim
Nota: 3/10 - Muito Ruim
3/10
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