Com muita felicidade, tenho novamente o prazer de escrever a resenha de um livro nacional publicado recentemente, mas que já conquistou muitos fãs. Além de admirá-lo como escritor, posso afirmar que ele é um grande conselheiro e mais um incentivador da difusão da literatura fantástica no Brasil e no surgimento de novos escritores. Estou falando de Leandro Reis, escritor paulista que lançou em Dezembro de 2008, através da Idea Editora, seu primeiro e já aclamado romance Filhos de Galagah. Esse volume é o primeiro da saga de Galatea Goldshine e o primeiro de uma série de livros inseridos no cenário Grinmelken, um mundo que começou a ser construído há mais de uma década pelas mãos de Leandro.
Filhos de Galagah conta a história de Galatea Goldshine, filha do venerado rei Airon Goldshine e adorada por todos habitantes de Galagah, um reino acostumado com a sabedoria com que é conduzido e com a presença carismática de seus governantes. As idéias da religião e da tradição são muito marcantes na obra. Cada reino adora um deus diferente, podendo citar desde a divindade da morte até a da justiça; no caso de Galagah, é o deus Radrak que é prestigiado e peça fundamental para o desenvolvimento da trama. Sobre tradições, é obrigatório falar sobre os Guardiões da Vida: legítimos paladinos que não medem forças para manter a ordem e eliminar qualquer tipo de injustiça, assim o são Airon e seu conselheiro Ethan, por exemplo. Galatea, após anos de treinamento com seu tutor e lorde de guerra Módius e seu bondoso professor e bardo Vanliot, torna-se uma Campeã Sagrada com méritos e ainda recebe o título de Flagelo Dourado (antes pertencente ao misterioso Ethan), infelizmente essa benção só reafirma o cessar dos tempos de paz. É durante esses enigmáticos acontecimentos que a princesa é escolhida pelo próprio Radrak para encontrar três crianças denominadas Serafins e assim receber seus respectivos dons. Entretanto ela terá de lutar contra o tempo, pois os asseclas do maligno deus Orgul também têm seus interesses com relação às crianças.
Para intensificar o clima da trama, o repentino sequestro de Thomas, irmão de Galatea, por parte dos enviados de Enelock acarreta no desespero da corte real. Existe uma profecia que afirma que a linhagem dos Goldshine será extinta pelas mãos dos aliados de Orgul. Mas em tempos de tempestade é preciso ter calma e muita fé, valores que torma os Guardiões da Vida tão especiais, assim como Galatea. Ela decide segui o destino traçado por Radrak e aguardar que as habilidades de seu irmão o salvem do perigo.
Leandro Reis demonstra suas habilidades e seu talento como escritor. É agradável ver como ele consegue manipular o enredo, fazendo com que este se desdobre através de uma leitura dinâmica, flexível e expressiva. Quando todos acreditavam que livros do gênero de fantasia medieval eram reproduções simplórias das obras de J. R. R. Tolkien, eis que surge o mundo de Grinmelken e a linguagem versátil que compõe o estilo de Leandro. Porém o verdadeiro triunfo em Filhos de Galagah está justamente na construção dos diferentes personagens que são apresentados nesse universo. Quando digo aos meus amigos que acho a personagem Galatea irritante, não é por demérito à personagem, mas sim por seu fervor religioso que ultrapassa qualquer limite. Iallanara, ao contrário da Guardiã, é sombria, depressiva e encontra-se constantemente refletindo sobre sua condição. No início do livro ela contracena com a personagem principal, possibilitando ao leitor entender mais sobre seu passado e sobre o motivo que lhe causa tanto sofrimento; desde o prefácio já é possível perceber sua importância na conclusão do livro. Os elfos Sephiros e Gawyn são outros personagens que merecem muita atenção: enquanto um é sagaz e transmite uma aura de sabedoria ao leitor, o outro é piadista, hiperativo, mas com um grande senso de justiça; que atire a primeira pedra quem não riu de pelo menos uma piada contada por Gawyn! Garanto que sem essa dupla seria impossível ter uma história tão envolvente.
O que torna Filhos de Galagah tão especial é a honestidade que Leandro Reis nos conta suas histórias dentro de um cenário de fantasia. Percebemos em cada linha, em cada diálogo e em cada acontecimento a dedicação e o carinho com que a obra foi escrita. Uma prova dessa dedicação é a contínua construção de Grinmelken através de contos, artigos sobre religião, descrições dos personagens e ilustrações dos mesmos, algo que deve agradar todos aqueles que se deliciaram com essa história e querem mais. Para os que já apreciaram essa leitura, é só torcer para que o segundo volume seja publicado em breve. Parabéns pela conquista Leandro e por mais um espaço aberto aos jovens escritores de fantasia e ficção científica nesse mercado massificador. Caso tenham se interessado pela obra, acessem o site oficial Grinmelken!